RELIGIÃO
RELIGIÃO
Definição: Uma forma de adoração. Inclui um sistema de atitudes, crenças e práticas religiosas; estas podem ser pessoais ou ensinadas por uma organização.
Usualmente, a religião envolve crença em Deus ou em diversos deuses; ou considera os humanos, os objetos, os desejos ou as forças como objetos de adoração.
Grande parte da religião se baseia no estudo humano da natureza; existe também religião revelada.
A religião verdadeira e a falsa.
A VERDADEIRA: O CRISTIANISMO VERDADEIRO.
A FALSA: TODAS NÃO CRISTÃS E AS PSEUDO-CRISTÃS.
Por que existem tantas religiões?
Segundo recente cálculo, concluiu-se que há 10 religiões principais e aproximadamente 10.000 seitas. Destas, umas 6.000 existem na África, 1.200 nos Estados Unidos e centenas em outros países.
Muitos fatores contribuíram para o desenvolvimento de novos grupos religiosos. Há quem diga que as várias religiões representam todas elas modos diferentes de apresentar a verdade religiosa.
Mas, uma comparação de seus ensinamentos e de suas práticas com a Bíblia indica, ao contrário, que a diversidade de religiões se deve ao fato de que as pessoas passaram a seguir homens em vez de escutarem a Deus.
É digno de nota que, em grande parte, os ensinamentos que têm em comum, mas que diferem da Bíblia, se originaram na antiga Babilônia.
Quem é o instigador de tal confusão religiosa?
A Bíblia identifica Satanás, o Diabo, como “o deus deste sistema de coisas”. (2 Cor. 4:4) Ela nos adverte que “as coisas sacrificadas pelas nações, elas sacrificam a demônios, e não a Deus”. (1 Cor. 10:20) Quão sumamente importante é, pois, certificar-nos de que estejamos realmente adorando o verdadeiro Deus, o Criador do céu e da terra, e de que a nossa adoração agrade a ele!
São todas as religiões aceitáveis a Deus?
Juí. 10:6, 7: “Os filhos de Israel passaram novamente a fazer o que era mau aos olhos de Jeová, e começaram a servir aos Baalins e às imagens de Astorete, e aos deuses da Síria, e aos deuses de Sídon, e aos deuses de Moabe, e aos deuses dos filhos de Amom, e aos deuses dos filisteus.
Assim abandonaram a Jeová e não o serviram. Nisso se acendeu a ira de Jeová contra Israel.” (Se uma pessoa adora qualquer coisa ou pessoa que seja a não ser o verdadeiro Deus, o Criador do céu e da terra, é evidente que sua forma de adoração não é aceitável a Jeová.)
Mar. 7:6, 7: “Ele [Jesus] lhes disse [aos fariseus e escribas judeus]: ‘Isaías profetizou aptamente a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: “Este povo honra-me com os lábios, os seus corações, porém, estão longe de mim. É em vão que persistem em adorar-me, porque ensinam por doutrinas os mandados de homens.”’” (Quem quer que seja que um grupo de pessoas professe adorar, se tais se apegam a doutrinas de homens em vez de à Palavra inspirada de Deus, a adoração que praticam é vã.)
Rom. 10:2, 3: “Eu lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não segundo o conhecimento exato; pois, por não conhecerem a justiça de Deus, mas buscarem estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.” (As pessoas talvez tenham a Palavra escrita de Deus, mas lhes falta conhecimento exato daquilo que está contido nela, porque não foram ensinadas adequadamente. Talvez achem que têm zelo por Deus, mas talvez não estejam fazendo o que ele requer. Tal adoração não agradará a Deus, não é verdade?)
É verdade que em toda religião há algo de bom?
A maioria das religiões ensina que não se deve mentir nem roubar, e assim por diante. Mas será que basta isso? Gostaria de beber um copo de água envenenada porque alguém lhe assegurou que a maior parte do que beberia era água?
2 Cor. 11:14, 15: “O próprio Satanás persiste em transformar-se em anjo de luz. Portanto, não é grande coisa se os ministros dele também persistem em transformar-se em ministros da justiça.” (Acautela-se-nos aqui de que talvez nem tudo o que se origina de Satanás pareça repelente. Um dos seus principais métodos de enganar a humanidade tem sido a religião falsa de todos os tipos, dando ele a alguns uma aparência justa.)
2 Tim. 3:2, 5: “Os homens [terão] uma forma de devoção piedosa, mostrando-se, porém, falsos para com o seu poder; e destes afasta-te.” (Apesar de professarem publicamente amar a Deus, se as pessoas junto com as quais presta adoração não aplicam sinceramente a Palavra dele em sua própria vida, a Bíblia insta que se afaste da associação com tais.)
É correto abandonar a religião dos pais?
Se o que nossos pais nos ensinaram é realmente da Bíblia, devemos apegar-nos a tal ensino. Mesmo que cheguemos a saber que as práticas e crenças religiosas deles estão em desarmonia com a Palavra de Deus, nossos pais merecem nosso respeito.
Mas, que dizer se chegasse a saber que certo hábito de seus pais é prejudicial à saúde e pode encurtar a vida da pessoa?
Será que os imitaria e incentivaria seus filhos a fazer isso, ou respeitosamente lhes diria o que ficou sabendo? Do mesmo modo, o conhecimento da verdade bíblica traz responsabilidade. Se possível, devemos dizer aos membros da nossa família o que aprendemos.
Precisamos tomar uma decisão: Amamos realmente a Deus? Queremos realmente obedecer ao Filho de Deus? Para fazermos isso, talvez seja necessário abandonarmos a religião de nossos pais de modo a aceitarmos a adoração verdadeira.
Certamente não será apropriado deixar que nossa devoção a nossos pais seja maior do que nosso amor por Deus e por Cristo, não é verdade? Jesus disse: “Quem tiver maior afeição pelo pai ou pela mãe do que por mim, não é digno de mim; e quem tiver maior afeição pelo filho ou pela filha do que por mim, não é digno de mim.” — Mat. 10:37.
Jos. 24:14: “Agora, temei a Jeová e servi-o sem defeito e em verdade, e removei os deuses a que vossos antepassados serviram do outro lado do Rio e no Egito, e servi a Jeová.” (Não significava isso deixarem a religião de seus antepassados?
Para servirem a Jeová de modo aceitável, tinham de se desfazer de quaisquer imagens usadas em tal religião e purificar seus corações de qualquer desejo de tais coisas.
1 Ped. 1:18, 19: “Sabeis que não foi com coisas corruptíveis, com prata ou ouro, que fostes livrados da vossa forma infrutífera de conduta, recebida por tradição de vossos antepassados.
Mas foi com sangue precioso, como o de um cordeiro sem mácula nem mancha, sim, o de Cristo.”
Portanto, os primitivos cristãos se afastaram dessas tradições de seus antepassados, tradições estas que nunca lhes poderiam dar vida eterna. A gratidão pelo sacrifício de Cristo fez com que fossem zelosos em se desfazer de qualquer coisa que tornasse sua vida infrutífera, faltando-lhe real significado, por não honrarem a Deus. Não devemos nós ter também a mesma atitude?
Qual é o ponto de vista da Bíblia sobre o ecumenismo?
Como considerou Jesus os líderes religiosos que pretendiam ser justos, mas que desrespeitavam a Deus? “Jesus disse-lhes: ‘Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, pois procedi de Deus e aqui estou. Nem tampouco vim de minha própria iniciativa, mas Este me enviou. . . . Vós sois de vosso pai, o Diabo, e quereis fazer os desejos de vosso pai.
Esse foi homicida quando começou, e não permaneceu firme na verdade, porque não há nele verdade. Quando fala a mentira, fala segundo a sua própria disposição, porque é mentiroso e o pai da mentira. Porque eu, por outro lado, digo a verdade, vós não me acreditais. . . . É por isso que não escutais, porque não sois de Deus.’” — João 8:42-47.
Demonstraria lealdade a Deus e a seus justos princípios se seus servos incluíssem na irmandade religiosa os que praticam o que Deus condena ou os que toleram tais práticas? “[Cessai] de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem. . . . Nem fornicadores, nem idólatras, nem adúlteros, nem homens mantidos para propósitos desnaturais, nem homens que se deitam com homens, nem ladrões, nem gananciosos, nem beberrões, nem injuriadores, nem extorsores herdarão o reino de Deus.” (1 Cor. 5:11; 6:9, 10) “Todo aquele que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tia. 4:4) “Ó vós amantes de Jeová, odiai o que é mau. Ele guarda as almas dos que lhe são leais.” — Sal. 97:10.
2 Cor. 6:14-17: “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos. Pois, que associação tem a justiça com o que é contra a lei? Ou que parceria tem a luz com a escuridão? Além disso, que harmonia há entre Cristo e Belial? Ou que quinhão tem o fiel com o incrédulo? E que acordo tem o templo de Deus com os ídolos? . . . ‘“Portanto, saí do meio deles e separai-vos”, diz Jeová, “e cessai de tocar em coisa impura”’; ‘“e eu vos acolherei”’.”
Apoc. 18:4, 5: “Ouvi outra voz saída do céu dizer: ‘Saí dela, povo meu, se não quiserdes compartilhar com ela nos seus pecados e se não quiserdes receber parte das suas pragas. Pois os pecados dela acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos atos injustos dela.’”
É necessário pertencer a uma religião organizada?
A maioria das organizações religiosas produziram frutos maus. Não é o fato de que os grupos estão organizados que é mau. Mas muitas delas promovem formas de adoração que se baseiam em ensinamentos falsos e são em grande parte ritualísticas, em vez de promoverem orientação espiritual genuína; têm sido usadas mal para controlarem a vida das pessoas para fins egoístas; ficaram excessivamente interessadas em fazer coletas de dinheiro e em belos locais de adoração, em vez de nos valores espirituais; seus membros são amiúde hipócritas.
Obviamente, ninguém que ame a justiça desejará pertencer a uma organização assim. Mas a religião verdadeira é um contraste animador a tudo isso.
Não obstante, para cumprir os requisitos bíblicos, precisa estar organizada.
Heb. 10:24, 25: “Consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e a obras excelentes, não deixando de nos ajuntar, como é costume de alguns, mas encorajando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes chegar o dia.” (Para executar essa ordem bíblica, tem de haver reuniões cristãs que possamos freqüentar de modo constante. Tal arranjo nos incentiva a expressar amor para com outros, não nos preocupando apenas com nós mesmos.)
1 Cor. 1:10: “Exorto-vos agora, irmãos, por intermédio do nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos faleis de acordo, e que não haja entre vós divisões, mas que estejais aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar.” (Tal união nunca seria conseguida se as pessoas não se reunissem, se não se beneficiassem do mesmo programa de alimento espiritual e se não respeitassem a agência por meio da qual se provê tal instrução. Veja também João 17:20, 21.)
1 Ped. 2:17: “Tende amor à associação inteira dos irmãos.” (Inclui isso apenas os que talvez se reúnam para adoração em determinado lar particular? De forma alguma; é uma irmandade internacional, conforme indicam Gálatas 2:8, 9 e 1 Coríntios 16:19.)
Mat. 24:14: “Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.” (Para que todas as nações recebam a oportunidade de ouvir essas boas novas, a pregação precisa ser feita de modo ordeiro, com adequada supervisão. O amor a Deus e ao próximo tem feito com que pessoas em toda a terra unam seus esforços para fazer essa obra.)
Será que o que realmente conta é amar o próximo?
Não resta dúvida a respeito disso, tal amor é importante. (Rom. 13:8-10) Mas ser cristão envolve mais do que simplesmente ser bondoso para com o próximo.
Jesus disse que seus verdadeiros discípulos se destacariam pelo amor pelos concrentes. (João 13:35) A importância disso é acentuada repetidas vezes na Bíblia. (Gál. 6:10; 1 Ped. 4:8; 1 João 3:14, 16, 17) Entretanto, Jesus mostrou que ainda mais importante do que isso é o nosso amor pelo próprio Deus, o que é mostrado pela nossa obediência a seus mandamentos. (Mat. 22:35-38; 1 João 5:3)
Para demonstrarmos tal amor, precisamos estudar e aplicar a Palavra de Deus e nos reunir com conservos de Deus para adoração.
É a relação pessoal com Deus a coisa realmente importante?
É certamente importante. A mera assistência aos serviços religiosos de modo formalístico não pode tomar o lugar dessa relação.
Mas precisamos tomar cuidado. Por quê? No primeiro século, havia pessoas que pensavam que tinham boa relação com Deus, mas Jesus lhes mostrou que estavam muito enganadas. (João 8:41-44)
O apóstolo Paulo escreveu a respeito de pessoas que evidentemente tinham zelo no que concernia à sua fé e é claro que pensavam que tinham boa relação com Deus, mas não entendiam o que realmente se requeria delas para terem a aprovação de Deus. — Rom. 10:2-4.
Poderíamos ter boa relação pessoal com Deus se déssemos pouca importância a seus mandamentos? Um destes é que devemos reunir-nos regularmente com concrentes. Heb. 10:24, 25.
Basta lermos pessoalmente a Bíblia?
É verdade que muitas pessoas podem aprender bastante lendo pessoalmente a Bíblia. Se seu motivo for aprender a verdade a respeito de Deus e de seus propósitos, o que fazem é muitíssimo elogiável. (Atos 17:11)
Mas, para sermos honestos com nós próprios, será que entenderemos o pleno significado de tudo sem nenhuma ajuda?
A Bíblia fala a respeito de certo homem que tinha uma posição elevada, mas que era suficientemente humilde para reconhecer que precisava de ajuda para entender as profecias da Bíblia.
Essa ajuda foi fornecida por um membro da congregação cristã. Atos 8:26-38; compare com outras referências a Filipe em Atos 6:1-6; 8:5-17.
Naturalmente, se uma pessoa lê a Bíblia, mas não a aplica em sua vida, isso pouco proveito lhe traz. Se crer nela e agir em conformidade, irá associar-se com os servos de Deus em reuniões regulares de congregação. (Heb. 10:24, 25) Unir-se-á a eles também em falar das “boas novas” com outras pessoas. 1 Cor. 9:16; Mar. 13:10; Mat. 28:19, 20.
Como pode a pessoa saber qual é a religião certa?
(1) Em que se baseiam os seus ensinamentos? Procedem de Deus, ou em grande parte dos homens? (2 Tim. 3:16; Mar. 7:7) Pergunte, por exemplo: Onde na Bíblia se ensina que Deus é uma Trindade? Onde diz ela que a alma humana é imortal?
(2) Considere se ela torna conhecido o nome de Deus. Jesus disse em oração a Deus: “Tenho feito manifesto o teu nome aos homens que me deste do mundo.” (João 17:6) Ele declarou: “É a Jeová, teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.” (Mat. 4:10) Será que a sua religião lhe ensinou que ‘é a Jeová que tem de adorar’? Chegou a conhecer a Pessoa identificada por esse nome — seus propósitos, suas atividades, suas qualidades — de modo a sentir que confiantemente pode aproximar-se dele?
(3) Demonstra-se verdadeira fé em Jesus Cristo? Isto envolve apreciar o valor do sacrifício da vida humana de Jesus e de sua posição hoje como Rei celestial. (João 3:36; Sal. 2:6-8) Tal apreço se demonstra pela obediência a Jesus — pela participação pessoal e zelosa na obra que ele comissionou a seus seguidores. A verdadeira religião infunde uma fé que é acompanhada de obras. — Tia. 2:26.
(4) É em grande parte ritualística, uma formalidade, ou é um modo de vida? Deus desaprova fortemente a religião que é mero formalismo. (Isa. 1:15-17) A verdadeira religião defende a norma bíblica da moralidade e da linguagem pura, em vez de acompanhar sem firmeza as tendências populares. (1 Cor. 5:9-13; Efé. 5:3-5) Seus membros refletem os frutos do espírito de Deus em sua vida. (Gál. 5:22, 23) Portanto, os que aderem à verdadeira religião podem ser identificados porque sinceramente se esforçam em aplicar as normas da Bíblia em sua vida, não só nos seus locais de reunião, mas na sua vida em família, no seu trabalho secular, na escola e na recreação.
(5) Têm os seus membros realmente amor uns pelos outros? Jesus disse: “Por meio disso saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor entre vós.” (João 13:35) Tal amor transpõe as barreiras raciais, sociais e nacionais, unindo pessoas em genuína fraternidade. Tão forte é esse amor que as distingue como sendo verdadeiramente diferentes. Quando as nações entram em guerra, quem são os que têm suficiente amor pelos seus irmãos cristãos de outros países de modo a recusar pegar em armas para os matar? Assim fizeram os primitivos cristãos.
(6) Está realmente separada do mundo? Jesus disse que seus verdadeiros seguidores ‘não fariam parte do mundo’. (João 15:19) Para adorarmos a Deus do modo como ele aprova é preciso que nos mantenhamos “sem mancha do mundo”. (Tia. 1:27) Pode-se dizer isso das religiões cujos clérigos e outros membros se imiscuem na política, ou cuja vida gira em grande parte em torno de desejos materialistas e carnais? — 1 João 2:15-17.
(7) São seus membros testemunhas ativas a respeito do Reino de Deus? Jesus predisse: “Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.” (Mat. 24:14) Que religião está realmente proclamando o Reino de Deus como a esperança da humanidade em vez de incentivar as pessoas a voltar-se para o governo humano em busca de solução de seus problemas? Será que a sua religião equipou você para participar nessa atividade, e para fazer isso de casa em casa, conforme Jesus ensinou seus apóstolos a fazer? Mat. 10:7, 11-13; Atos 5:42; 20:20.
ESCUSAS DE ALGUNS INDIVÍDUOS
‘Não tenho interesse em religião.’
‘Há muita hipocrisia na religião.’
‘Eu levo uma vida correta. Não faço mal a ninguém. Para mim, em questão de religião, isso basta.’
‘Não me interessa a religião organizada. Eu creio que o que vale é a pessoa ter uma relação pessoal com Deus.’
‘Eu não aceito tudo o que se ensina na minha igreja, mas não vejo motivo de mudar para outra. Prefiro trabalhar em prol do melhoramento dentro da minha igreja.’
‘Todas as religiões são boas; cada um tem a sua religião.’
‘Conquanto a pessoa creia em Jesus, não importa realmente a que igreja ela pertence.’
‘‘Eu simplesmente leio a minha Bíblia em casa e faço minhas orações a Deus, pedindo entendimento.’
‘Acho que religião é um assunto pessoal.’
PERGUNTA DE LEITOR
É necessário ser Testemunha de Jeová para alcançar a vida eterna?
Em primeiro lugar temos que estudar a palavra da verdade, a Bíblia. Ela é a Verdade...João 17:17.
Depois dentro da Palavra de Deus temos que Conhecer o único e verdadeiro Deus. João 17:3.
Em sequencia temos que conhecer nosso exemplo de adoração Jesus Cristo o caminho e a verdade para o PAI e segui-lo. João 17:3, João 14:6,7. Apoc. 1:5,6; 3:12.
Basicamente é simplesmente isso para alcançar a Vida Eterna.
Então, perguntamos: Quem realmente conhece Jeová e quem conhece realmente Jesus Cristo os seguem?
Conhece Jesus ao ponto de achar a VERDADE nele?
Por exemplo: O NOME "JESUS" >>SIGNIFICA: JEOVÁ É A SALVAÇÃO !
O acima não te transmite nada? Ou descobriu a VERDADE em 3 minutos?
QUESTINAMENTOS DOS LEITORES
01- A vida eterna depende de crermos em Jesus, o Filho amado que Deus mandou para nos salvar. Religião não salva ninguém. O único que salva é Jesus. Ele é o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai sem Jesus.
RESPOSTA: A colocação acima está incompleta. Sem conhecer Jeová não tem vida eterna. João 6:44; 17:3. Ef. 5:1
Ademais a BÍBLIA afirma que só existe um caminho da VERDADE. Efésios 4:4,5; 5:1; 2 Pedro 2:2.
02- O malfeitor não conhecia Jeová e na hora de sua morte foi à Jesus diretamente e alcançou sua salvação! Luc. 23:39-43.
RESPOSTA: Note que três anos e meio antes dessa ocorrência, Jesus ainda não havia se tornado o Messias no seu batismo. Muitos nem sabiam que Jesus seriam o meio de Jeová salvar. Luc. 2:29,30,31
Todos que iam a Jerusalém ou moravam lá eram adoradores de Jeová como era Jesus. João 4:22,23.
O malfeitor era pecador crasso contra a Lei Jeová. Porém ao ver todas as coisas que estavam ocorrendo em Jerusalém na última hora, aceitou Jesus como salvador providenciado por Deus.
Estando ele ao lado de Jesus mostrou arrependimento sincero de seus pecados consciente que Jesus é o designado para julgar salvar os vivos e os mortos. Caso Jesus não observasse verdadeiro arrependimento dos pecados dele contra Jeová, jamais Jesus lhe daria clemência e perdão.
No Reino Milenar o malfeitor ao ser ressuscitado deverá pelas suas ações fazer uma mudança total para ser salvo por toda eternidade. (final do milênio) Mas nesta ocasião o veredicto final sai diretamente de Jeová. 1 Cor 15:24-28.
RELIGIÕES NÃO CRISTÃS
VEJA A LISTA NAS ABAS. N.2, 3, 4, 5.
BUDISMO
De acordo com um estudo realizado em 2010 pelo Pew Research Center, há quase 500 milhões de budistas em todo o mundo, e a grande maioria deles vive em países asiáticos, como China, Coreia do Sul, Japão, Mianmar (Burma), Sri Lanka e Tailândia . Apenas na China, cerca de 250 milhões de pessoas afirmam ser budistas.
Como se iniciou essa religião? Quais são os ensinos e as práticas do budismo?
Sidarta Gautama, o fundador dessa religião, viveu no norte da Índia no sexto século AEC. A tradição budista afirma que logo após a morte de Gautama, convocou-se um concílio de 500 monges para decidir qual era o autêntico ensino do Mestre. Se tal concílio realmente aconteceu é tema de muito debate entre peritos e historiadores budistas. O ponto importante que devemos notar, porém, é que mesmo textos budistas reconhecem que aquilo que se decidiu ser o ensino autêntico não foi assentado por escrito, mas sim memorizado pelos discípulos. A escrita efetiva dos textos sagrados teve de esperar um bom tempo.
Segundo certas crônicas cingalesas do quarto e sexto séculos EC, os mais antigos desses “textos canônicos” em páli foram assentados por escrito durante o reinado do rei Vatagamani Abhaia, do primeiro século AEC. Outros relatos da vida de Buda não apareceram por escrito antes talvez do primeiro ou mesmo quinto século EC, cerca de mil anos depois de seu tempo.
Uma Questão de Fonte Confiável
“O que se conhece da vida de Buda baseia-se principalmente na evidência dos textos canônicos, sendo que os mais extensos e abrangentes são os escritos em páli, uma língua da antiga Índia”, diz o livro World Religions—From Ancient History to the Present (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente). O que isso significa é que não existe fonte de matéria de seu tempo que nos diga algo sobre Sidarta Gautama, o fundador dessa religião, que viveu no norte da Índia no sexto século AEC. Isto, naturalmente, representa um problema. Mas, ainda mais importante é a pergunta: Quando e como foram produzidos os “textos canônicos”?
A tradição budista afirma que logo após a morte de Gautama, convocou-se um concílio de 500 monges para decidir qual era o autêntico ensino do Mestre. Se tal concílio realmente aconteceu é tema de muito debate entre peritos e historiadores budistas. O ponto importante que devemos notar, porém, é que mesmo textos budistas reconhecem que aquilo que se decidiu ser o ensino autêntico não foi assentado por escrito, mas sim memorizado pelos discípulos. A escrita efetiva dos textos sagrados teve de esperar um bom tempo.
Segundo certas crônicas cingalesas do quarto e sexto séculos EC, os mais antigos desses “textos canônicos” em páli foram assentados por escrito durante o reinado do rei Vatagamani Abhaia, do primeiro século AEC. Outros relatos da vida de Buda não apareceram por escrito antes talvez do primeiro ou mesmo quinto século EC, cerca de mil anos depois de seu tempo.
Assim, diz o Abingdon Dictionary of Living Religions (Dicionário Abingdon de Religiões Vivas): “As ‘biografias’ são tanto tardias em origem como repletas de matéria lendária e mítica, e os mais antigos textos canônicos são produtos de um longo processo de transmissão oral que evidentemente incluiu revisões e muita adição.” Certo perito até mesmo “sustentou que nem uma única palavra do ensino registrado pode ser atribuída com insofismável certeza ao próprio Gautama”. Justificam-se tais críticas?
A Concepção e o Nascimento do Buda
Considere os seguintes excertos de Jataca, parte do cânon em páli, e Buda-charita, um texto em sânscrito do segundo século EC sobre a vida do Buda. Primeiro, o relato de como a mãe do Buda, rainha Maha-Maia, veio a concebê-lo num sonho.
“Os quatro anjos-da-guarda vieram e ergueram-na, junto com o seu leito, e levaram-na aos contrafortes do Himalaia. . . . Daí vieram as esposas desses anjos-da-guarda, e conduziram-na ao lago Anotata, e banharam-na, para remover toda impureza humana. . . . Não longe dali ficava a Montanha de Prata, e nela uma mansão dourada. Colocaram ali um leito divino com a cabeceira voltada para o oriente, e deitaram-na nele. Neste ponto o futuro Buda se havia tornado um esplêndido elefante branco . . . Ele subiu a Montanha de Prata e . . . rodeou três vezes o leito de sua mãe, com seu lado direito virado para o leito, e golpeando-a em seu lado direito, parecia entrar no ventre dela. Assim ocorreu a concepção na festividade do solstício de verão.”
Quando a rainha contou o sonho a seu marido, o rei, ele convocou 64 eminentes sacerdotes hindus, alimentou-os e vestiu-os, e pediu uma interpretação. Esta foi a resposta deles:
“Não te aflijas, grande rei! . . . Terás um filho. E ele, se continuar a levar a vida caseira, tornar-se-á um monarca universal; mas, se ele abandonar a vida caseira e se retirar do mundo, se tornará um Buda, e afastará as nuvens do pecado e da tolice deste mundo.”
Depois disso, ocorreram alegadamente 32 milagres:
“Todos os dez mil mundos subitamente tremeram, estremeceram e se sacudiram. . . . Os fogos se extinguiram em todos os infernos; . . . acabaram-se as doenças entre os homens; . . . todos os instrumentos musicais emitiram seus tons sem serem tocados; . . . no poderoso oceano a água tornou-se doce; . . . os inteiros dez mil mundos viraram uma só massa de grinaldas da mais alta magnificência possível.”
Daí ocorreu o incomum nascimento do Buda num jardim de árvores-sal chamado Bosque Lumbini. Quando a rainha desejou deitar mão num ramo da mais alta árvore-sal do bosque, a árvore anuiu por inclinar-se ao seu alcance. Segurando o ramo e em pé, ela deu à luz.
“Ele saiu do ventre de sua mãe como um pregador que desce do púlpito, ou como um homem que desce uma escadaria, estirando as mãos e os pés, livre de qualquer impureza do ventre de sua mãe. . . . ”
“Assim que nasce, o [futuro Buda] planta firmemente os pés rente ao chão, dá sete passos para o norte, com uma capota branca acima da cabeça, e inspeciona todos os quadrantes do mundo, exclamando em tom inigualável: No mundo todo eu sou chefe, o melhor e o mais destacado; este é meu último nascimento; jamais nascerei de novo.”
Há também histórias igualmente minuciosas sobre sua infância, seus encontros com jovens admiradoras, suas peregrinações e praticamente todos os eventos de sua vida. Talvez não seja de admirar que a maioria dos peritos rejeite todos esses relatos como lendas e mitos. Um destacado funcionário do Museu Britânico até mesmo sugere que devido à “grande quantidade de lenda e milagre, . . . uma vida histórica do Buda está além de restauração”.
Apesar desses mitos, existe um relato tradicional da vida do Buda amplamente difundido. Um texto moderno, A Manual of Buddhism (Manual do Budismo), publicado em Colombo, Sri Lanka, fornece o seguinte relato simplificado:
“No dia de lua cheia de maio do ano 623 AC nasceu no distrito de Nepal um príncipe indiano saquiano, de nome Sidata Gotama. O rei Sudodana era seu pai, e a rainha Maha Maia era sua mãe. Ela morreu alguns dias depois do nascimento da criança e Maha Pajapati Gotami tornou-se sua mãe adotiva.
“Aos dezesseis anos de idade ele casou-se com sua prima, a bela princesa Iasodara.
“Por uns treze anos após seu feliz casamento ele levou uma vida de esplendor, bem-aventuradamente desconhecedor das vicissitudes da vida fora dos portões do palácio.
“Com a marcha do tempo, começou gradativamente a compreender a verdade. Em seu 29. ano, que marcou o ponto de virada em sua carreira, nasceu seu filho Rahula. Ele considerou sua prole como impedimento, pois entendeu que todos, sem exceção, estavam sujeitos ao nascimento, à doença e à morte. Compreendendo assim a universalidade da tristeza, ele decidiu descobrir uma panacéia para essa doença universal da humanidade.
“Assim, renunciando a seus prazeres palacianos, ele deixou a casa certa noite . . . cortou o cabelo, vestiu a roupa simples de um asceta, e saiu a peregrinar como Buscador da Verdade.”
Claramente, estes poucos detalhes biográficos contrastam-se nitidamente com os relatos fantásticos encontrados nos “textos canônicos”. E, à exceção do ano de seu nascimento, eles são comumente aceitos.
A Iluminação — Como Aconteceu
Qual foi o supramencionado “ponto de virada em sua carreira”? Foi quando, pela primeira vez na vida, ele viu um enfermo, um ancião e um cadáver. Esta experiência deixou-o aflito com relação ao significado da vida — Por que os homens nascem, apenas para sofrer, envelhecer e morrer? Daí, informa-se que ele viu um homem santo, que renunciara o mundo em busca da verdade. Isto impeliu Gautama a renunciar sua família, seus bens e seu nome principesco e passar os seguintes seis anos buscando a resposta de mestres e gurus hindus, mas sem êxito. Os relatos nos dizem que ele dedicou-se a um proceder de meditação, jejum, ioga e extremo desprendimento, não obstante, não encontrou nenhuma paz ou iluminação espiritual.
Por fim, ele veio a perceber que seu proceder de desprendimento extremo era tão inútil como a vida regalada que levara antes. Adotou então o que chamou de Caminho Médio, evitando os extremos dos estilos de vida que seguira antes. Decidindo que a resposta devia ser encontrada na sua própria percepção, ele sentou-se para meditar debaixo de um pipal, ou figueira-dos-pagodes indiana. Resistindo a ataques e tentações do diabo Mara, ele continuou firme em sua meditação por quatro semanas (alguns dizem sete semanas) até que supostamente transcendeu todo conhecimento e entendimento e atingiu a iluminação.
Por esse processo, na terminologia budista, Gautama tornou-se o Buda — o Despertado, ou Iluminado. Ele atingira o derradeiro alvo, Nirvana, o estado de paz e iluminação perfeita, libertado do desejo e do sofrimento. Tornou-se também conhecido como Saquiamuni (sábio da tribo sáquia), e não raro dirigia-se a si mesmo como Tatagata (um que assim veio [para ensinar]). Diferentes seitas budistas, contudo, têm diferentes conceitos sobre este assunto. Alguns encaram-no estritamente como ser humano que encontrou o caminho da iluminação para si mesmo e ensinou-o a seus seguidores. Outros encaram-no como o último duma série de Budas que vieram ao mundo para pregar ou reavivar o darma (páli, Dama), o ensino ou caminho do Buda. Ainda outros encaram-no como bodisatva, alguém que alcançou a iluminação mas postergou a entrada no Nirvana a fim de ajudar outros em sua busca de iluminação. O que quer que seja, este evento, a Iluminação, é de importância central para todas as escolas do budismo.
A Iluminação — O Que É?
Tendo conseguido a iluminação, e depois de vencer certa hesitação inicial, o Buda pôs-se a ensinar a outros a sua recém-encontrada verdade, seu darma. Seu primeiro e provavelmente mais importante sermão foi proferido na cidade de Benares, num parque de veados, a cinco bicus — discípulos ou monges. Nele, ensinou que, para se ser salvo, deve-se evitar tanto o proceder de indulgência sensual como o do ascetismo, e seguir o Caminho Médio. Daí, deve-se entender e seguir as Quatro Nobres Verdades (veja o quadro, na página ao lado), que podem brevemente ser assim resumidas:
(1) Toda existência é sofrimento.
(2) O sofrimento vem do desejo ou anseio.
(3) A cessação do desejo significa o fim do sofrimento.
(4) Consegue-se a cessação do desejo seguindo-se o Caminho Óctuplo, controlando a conduta, o pensamento e a crença da pessoa.
Este sermão sobre o Caminho Médio e as Quatro Nobres Verdades engloba a essência da Iluminação e é considerado o epítome de todo o ensino de Buda. (Em contraste, compare com Mateus 6:25-34; 1 Timóteo 6:17-19; Tiago 4:1-3; 1 João 2:15-17.) Gautama não reivindicou inspiração divina para seu sermão, mas deu mérito a si próprio com as palavras “descoberto pelo Tatagata”. Alega-se que em seu leito de morte o Buda disse a seus discípulos: “Buscai a salvação apenas na verdade; não procureis ajuda de ninguém, exceto de vós mesmos.” Assim, segundo o Buda, a iluminação vem, não de Deus, mas sim de empenho pessoal em desenvolver raciocínio correto e boas ações.
Não é difícil perceber por que esse ensino foi bem recebido na sociedade indiana da época. Ele condenava as gananciosas e corruptas práticas religiosas promovidas pelos brâmanes hindus, ou casta sacerdotal, por um lado, e, por outro, o rígido ascetismo dos jainistas e outros cultos místicos. Acabou também com os sacrifícios e rituais, as miríades de deuses e deusas, e o fatigante sistema de castas que dominava e escravizava todo aspecto da vida das pessoas. Em suma, prometia libertação a todos os que se dispusessem a seguir o caminho do Buda.
O Budismo Amplia a Sua Influência
Quando os cinco bicus aceitaram o ensino do Buda, tornaram-se os primeiros sanga, ou ordem de monges. Assim, as “Três Jóias” (Triratna) do budismo estavam completas, a saber, o Buda, o darma e o sanga, que supostamente ajudariam as pessoas a entrar no caminho da iluminação. Assim preparado, Gautama, o Buda, saiu a pregar em toda a extensão do vale do Ganges. Pessoas de todo o nível e condição sociais vinham ouvi-lo, e tornavam-se discípulos seus. Por ocasião de sua morte, aos 80 anos, ele já era bem conhecido e bem respeitado. Consta que as últimas palavras a seus discípulos foram: “A decadência é inerente a todas as coisas. Produzi a vossa própria salvação com diligência.”
No terceiro século AEC, cerca de 200 anos depois da morte do Buda, apareceu o maior paladino do budismo, o imperador Asoca, que pôs sob seu controle a maior parte da Índia. Entristecido pelas matanças e convulsões causadas por suas conquistas, ele adotou o budismo e deu-lhe apoio estatal. Erigiu monumentos religiosos, convocou concílios e exortou o povo a viver segundo os preceitos do Buda. Asoca enviou também missionários budistas a todas as partes da Índia e ao Sri Lanka, Síria, Egito e Grécia. Principalmente devido aos empenhos de Asoca, o budismo passou de seita indiana a religião universal. Justificadamente, alguns o consideram o segundo fundador do budismo.
Do Sri Lanka o budismo se propagou para o leste, a Myanmar (Birmânia), à Tailândia e a outras partes da Indochina. Para o norte, o budismo se espalhou à Cachemira e à Ásia central. A partir dessas regiões, e já no primeiro século EC, monges budistas viajaram através das agrestes montanhas e desertos e levaram sua religião para a China. Da China, foi um passo curto para o budismo chegar à Coréia e ao Japão. O budismo foi também introduzido no Tibete, vizinho da Índia ao norte. Mesclado com crenças locais, emergiu como lamaísmo, que dominou, ali, tanto a vida religiosa como política. Por volta do sexto ou sétimo século EC, o budismo já estava bem estabelecido em todo o sudeste asiático e Extremo Oriente. Mas, o que acontecia na Índia?
Ao passo que o budismo espalhava sua influência a outros países, declinava gradativamente na Índia. Profundamente envolvidos em interesses filosóficos e metafísicos, os monges passaram a perder a ligação com seus seguidores leigos. Além disso, a perda de patrocínio palaciano e a adoção de conceitos e práticas hindus apressaram a extinção do budismo na Índia. Até mesmo lugares santos budistas, como Lumbini, onde Gautama nasceu, e Buda Gaia, onde ele teve a “iluminação”, viraram ruínas. Por volta do século 13, o budismo virtualmente desaparecera da Índia, seu país de origem.
Durante o século 20, o budismo passou por outra mudança de feição. Levantes políticos na China, Mongólia, Tibete e países do sudeste asiático aplicaram-lhe um golpe devastador. Milhares de mosteiros e templos foram destruídos e centenas de milhares de monges e monjas foram afastados, aprisionados ou mesmo mortos. Não obstante, ainda se percebe fortemente a influência do budismo no modo de pensar e nos hábitos do povo desses países.
Na Europa e na América do Norte, o conceito budista de buscar a “verdade” dentro da própria pessoa parece exercer um amplo atrativo, e sua prática de meditação provê uma fuga do corre-corre do estilo de vida ocidental. É interessante que, no prefácio do livro Living Buddhism (Budismo Vivo), Tenzin Gyatso, o exilado Dalai Lama do Tibete, escreveu: “Talvez hoje o budismo tenha uma parte a desempenhar em lembrar os povos ocidentais da dimensão espiritual de suas vidas.”
Os Diversificados Caminhos do Budismo
Embora seja costumeiro falar-se do budismo como religião única, na realidade ele está dividido em várias escolas de pensamento. Baseadas em diferentes interpretações da natureza do Buda e de seus ensinos, cada qual tem suas próprias doutrinas, práticas e escrituras. Estas escolas estão adicionalmente divididas em numerosos grupos e seitas, muitos dos quais fortemente influenciados por culturas e tradições locais.
O Teravada (Caminho dos Mais Velhos), ou Hinaiana (Pequeno Veículo) é uma escola do budismo que floresce no Sri Lanka, Myanmar (Birmânia), Tailândia, Kampuchea (Cambodja) e Laos. Alguns consideram-na a escola conservadora. Ela enfatiza ganhar sabedoria e a pessoa produzir a sua própria salvação por renunciar ao mundo e levar uma vida de monge, devotando-se à meditação e ao estudo num mosteiro.
É comum ver em alguns desses países grupos de rapazes com cabeça rapada, em longos trajes cor de açafrão e descalços, segurando tigelas de esmolas para receberem sua provisão diária dos crentes leigos, cujo papel é sustentá-los. É costumeiro os homens passarem pelo menos parte de sua vida num mosteiro. O derradeiro objetivo da vida monástica é tornar-se arat, isto é, alguém que atingiu a perfeição espiritual e a libertação da dor e do sofrimento nos ciclos do renascimento. O Buda indicou o caminho; compete a cada um segui-lo.
A escola Mahaiana (Grande Veículo) do budismo encontra-se comumente na China, Coréia, Japão e Vietnã. Tem este nome porque destaca o ensino do Buda de que “a verdade e o caminho da salvação é para todos, quer se viva numa caverna, num mosteiro, quer numa casa . . . Não é apenas para os que renunciam ao mundo”. O conceito básico mahaiano é que o amor e a compaixão do Buda são tão grandes que ele não privaria ninguém da salvação. Ensina que, estando a natureza do Buda presente em todos nós, todos somos capazes de tornar-nos um buda, um iluminado, ou bodisatva. A iluminação vem, não através de estrênua autodisciplina, mas sim pela fé no Buda e compaixão para com todas as coisas vivas. Isto obviamente exerce maior atrativo sobre as massas de mentalidade prática. Por causa dessa atitude mais liberal, contudo, desenvolveram-se numerosos grupos e cultos.
Entre as muitas seitas mahaianas que se desenvolveram na China e no Japão figuram as escolas Terra Pura e Zen do budismo. A primeira centraliza sua crença na fé no poder salvador do Buda Amida, que prometeu a seus seguidores um renascimento na Terra Pura, ou Paraíso Ocidental, uma terra de alegria e deleite habitada por deuses e seres humanos. De lá, é fácil alcançar o Nirvana. Repetindo a oração: “Tenho fé em Buda Amida”, às vezes milhares de vezes por dia, os devotos se purificam a fim de chegar à iluminação ou ganhar o renascimento no Paraíso Ocidental.
O budismo Zen (escola Ch’an, na China) derivou seu nome da prática da meditação. As palavras ch’an (chinês) e zen (japonês) são variações da palavra sânscrita diana, que significa “meditação”. Esta disciplina ensina que o estudo, as boas obras e os rituais têm pouco mérito. Pode-se conseguir a iluminação simplesmente por meditar em enigmas imponderáveis, tais como: ‘Qual é o ruído de se bater palmas com uma só mão?’, e: ‘O que encontramos onde nada existe?’ A natureza mística do budismo zen tem encontrado expressão nas finas artes de arranjos florais, caligrafia, pinturas a nanquim, poesia, jardinagem, e assim por diante, e estas têm sido bem recebidas no Ocidente. Hoje, existem centros de meditação Zen em muitos países ocidentais.
Por fim, há o budismo Tibetano, ou Lamaísmo. Esta forma de budismo é às vezes chamada de Mantraiana (Veículo Mantra) por causa do largo uso de mantras, uma série de sílabas com ou sem significado, em longos recitais. Em vez de enfatizar a sabedoria ou a compaixão, esta forma de budismo enfatiza o uso de rituais, orações, magia, e espiritismo na adoração. As orações são repetidas milhares de vezes por dia com a ajuda de contas de oração e tambores de oração. É possível aprender os complicados rituais apenas sob instrução oral dos lamas, ou líderes monásticos, dentre os quais os mais conhecidos são o Dalai Lama e o Panchen Lama. Depois da morte de um lama, faz-se a busca de uma criança na qual alegadamente o lama teria sido reencarnado para ser o próximo líder espiritual. Esse termo, contudo, é também aplicado genericamente a todos os monges, que, segundo certa estimativa, certa vez somavam cerca de um quinto de toda a população do Tibete. Os lamas eram também mestres, médicos, proprietários de terra ou figuras políticas.
Estas principais divisões do budismo estão, por sua vez, subdivididas em muitos grupos, ou seitas. Alguns são devotados a um líder específico, como Nichiren, no Japão, que ensinou que apenas o Sutra de Loto mahaiano contém os ensinos definitivos do Buda, e Nun Ch’in-Hai, em Taiwan (Formosa), que tem numerosos seguidores. Neste respeito, o budismo não difere muito da cristandade com suas muitas denominações e seitas. De fato, é comum ver pessoas que afirmam ser budistas envolvidas em práticas do taoísmo, do xintoísmo, da adoração de ancestrais e até mesmo da cristandade. Todas estas seitas budistas afirmam basear suas crenças e práticas nos ensinos do Buda.
Os Três Cestos e Outras Escrituras Budistas
Os ensinos atribuídos ao Buda foram transmitidos pela palavra oral, e começaram a ser assentados por escrito apenas séculos depois de sua morte. Assim, quando muito, eles representam o que seus seguidores em gerações posteriores pensavam que ele disse e fez. Isto se complica ainda mais pelo fato de que, naquela época, o budismo já se havia ramificado em muitas escolas. Assim, diferentes textos apresentam versões bem diferentes do budismo.
Os mais antigos dos textos budistas foram escritos em páli, alegadamente relacionada com a língua nativa do Buda, por volta do primeiro século AEC. São aceitos pela escola Teravada como sendo os textos autênticos. Consistem em 31 livros organizados em três coleções chamadas de Tipitaca (sânscrito, Tripitaca), significando “Três Cestos”, ou “Três Coleções”. O Vinaia Pitaca (Cesto da Disciplina) trata especialmente de regras e regulamentos para monges e monjas. O Suta Pitaca (Cesto de Discursos) contém os sermões, as parábolas e os provérbios enunciados pelo Buda e seus principais discípulos. Por último, o Abidama Pitaca (Cesto da Derradeira Doutrina) consiste em comentários sobre doutrinas budistas.
Por outro lado, os escritos da escola Mahaiana são na maioria em sânscrito, chinês e tibetano, e são volumosos. Apenas os textos em chinês consistem em mais de 5.000 volumes. Contêm muitos conceitos não constantes nos escritos anteriores, tais como relatos de budas tão numerosos como os grãos de areia do Ganges, que alegadamente viveram por incontáveis milhões de anos, cada qual presidindo sobre seu próprio mundo buda. Não há exagero quando certo escritor observa que esses textos são “caracterizados pela diversidade, imaginação extravagante, personalidades pitorescas e repetições desordenadas”.
É desnecessário dizer que poucas pessoas conseguem compreender esses tratados altamente abstratos. Conseqüentemente, esses desenvolvimentos posteriores têm levado o budismo para muito longe do que o Buda originalmente intencionara. Segundo o Vinaia Pitaca, o Buda queria que seus ensinos fossem entendidos não apenas pela classe culta, mas por todo tipo de pessoa. Para isso, ele insistia que seus conceitos fossem ensinados na língua do povo comum, e não na sagrada língua morta do hinduísmo. Assim, à objeção dos budistas teravadas de que esses livros não são canônicos, a resposta dos seguidores mahaianos é que Gautama, o Buda, primeiro ensinou aos simples e ignorantes, mas, para os instruídos e sábios, ele revelou os ensinos escritos mais tarde nos livros mahaianos.
O Ciclo do Carma e do Samsara
Embora o budismo até certo ponto libertasse as pessoas das amarras do hinduísmo, seus conceitos fundamentais ainda são um legado dos ensinos hindus do carma e do samsara. O budismo, conforme originalmente ensinado pelo Buda, difere do hinduísmo no sentido de que nega a existência de uma alma imortal, mas fala do indivíduo como sendo “uma combinação de forças ou energias físicas e mentais”. Não obstante, seus ensinos ainda se centralizam nos conceitos de que toda a humanidade passa de vida em vida através de incontáveis renascimentos (samsara) e sofre as conseqüências de ações passadas e presentes (carma). Ainda que a sua mensagem de iluminação e libertação desse ciclo possa parecer atraente, alguns se perguntam: Quão sólida é a base? Que prova existe de que todos os sofrimentos são o resultado das ações da pessoa numa vida anterior? E, de fato, que evidência existe de que realmente há alguma vida anterior?
Certa explicação da lei do carma diz:
“O cama [equivalente de carma em páli] é uma lei em si mesmo. Mas isso não significa que deva existir um legislador. Leis comuns da natureza, como a gravidade, não necessitam de legislador. A lei do cama também não exige legislador. Ela opera em seu próprio campo sem a intervenção dum agente diretivo externo, independente.” — Manual do Budismo.
É esse um raciocínio sólido? Será que as leis da natureza realmente não necessitam de legislador? O perito em foguetes Dr. Wernher von Braun disse certa vez: “As leis naturais do universo são tão precisas que não temos dificuldade alguma em construir uma espaçonave para voar à lua, e podemos cronometrar o vôo com a precisão de uma fração de segundo. Estas leis devem ter sido estabelecidas por alguém.” A Bíblia também fala sobre a lei da causa e efeito. Ela nos diz: “De Deus não se mofa. Pois, o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7) Em vez de dizer que essa lei não requer legislador, ela destaca que “de Deus não se mofa”, indicando que essa lei foi posta em operação pelo seu Criador, Jeová.
Além disso, a Bíblia diz-nos que “o salário pago pelo pecado é a morte”, e que “aquele que morreu foi absolvido do seu pecado”. Até mesmo os tribunais de justiça reconhecem que ninguém deve sofrer dupla condenação por qualquer crime que cometa. Por que, então, deveria a pessoa que já pagou por seus pecados, por morrer, renascer apenas para sofrer novamente as conseqüências de seus atos passados? Ademais, sem ter conhecimento dos atos passados pelas quais está sendo punida, como pode a pessoa arrepender-se e melhorar? Poderia isso ser considerado justiça? É coerente com a misericórdia, que, segundo se diz, é a mais notável qualidade do Buda? Em contraste, a Bíblia, depois de declarar que “o salário pago pelo pecado é a morte”, diz mais: “Mas o dom dado por Deus é a vida eterna por Cristo Jesus, nosso Senhor.” Sim, ela promete que Deus acabará com toda corrupção, pecado e morte e trará liberdade e perfeição para toda a humanidade. — Romanos 6:7, 23; 8:21; Isaías 25:8.
Quanto ao renascimento, segue-se uma explanação do perito budista Dr. Walpola Rahula:
“Um ser nada é senão uma combinação de forças ou energias físicas e mentais. O que chamamos de morte é o total não-funcionamento do corpo físico. Será que todas essas forças e energias cessam completamente com o não-funcionamento do corpo? O budismo diz: ‘Não.’ Vontade, volição, desejo, ânsia de existir, de continuar, de tornar-se sempre mais importante, é uma tremenda força que move inteiras vidas, inteiras existências, que move até mesmo o mundo inteiro. Esta é a maior força, a maior energia do mundo. Segundo o budismo, essa força não cessa com o não-funcionamento do corpo, que é a morte; mas continua a manifestar-se em outra forma, produzindo a reexistência, chamada de renascimento.”
No momento da concepção, a pessoa herda 50 por cento de seus genes de cada um dos genitores. De modo que não existe maneira de ela poder ser cem por cento igual a alguém de uma existência anterior. De fato, não é possível sustentar o processo de renascimento através de algum conhecido princípio de ciência. Não raro, os que crêem na doutrina do renascimento citam como prova as experiências de pessoas que afirmam lembrar-se de rostos, eventos e lugares que não conheciam antes. É isso lógico? Dizer que a pessoa que pode lembrar-se de coisas de tempos passados deve ter vivido naquela era, implica também dizer que a pessoa que pode predizer o futuro — e são muitas as que afirmam fazê-lo — devem ter vivido no futuro. O que, obviamente, não é o caso.
Mais de 400 anos antes do Buda, a Bíblia falou de uma força de vida. Descrevendo o que acontece por ocasião da morte da pessoa, ela diz: “Então o pó retorna à terra, assim como veio a ser, e o próprio espírito retorna ao verdadeiro Deus que o deu.” (Eclesiastes 12:7) A palavra “espírito” é traduzida da palavra hebraica rú·ahh, que significa a força de vida que anima todas as criaturas viventes, humanas e animais. (Eclesiastes 3:18-22) Contudo, a importante diferença é que rú·ahh é uma força impessoal, não tem vontade própria, tampouco retém a personalidade ou quaisquer das características do indivíduo falecido. Não passa de uma pessoa para outra na morte, mas sim “retorna ao verdadeiro Deus que o deu”. Em outras palavras, as perspectivas de vida futura da pessoa — a esperança da ressurreição — estão inteiramente nas mãos de Deus. — João 5:28, 29; Atos 17:31.
Nirvana — Atingindo o Inatingível?
45 Isto nos leva ao ensino do Buda a respeito de iluminação e salvação. Em termos budistas, o conceito básico da salvação é a libertação das leis do carma e samsara, bem como chegar ao Nirvana. E o que é o Nirvana? Os textos budistas dizem que é impossível descrever ou explicar, podendo apenas ser vivenciado. Não é um céu, para onde a pessoa vai após a morte, mas sim uma consecução que está ao alcance de todos, aqui e agora. Afirma-se que a própria palavra significa “apagar, extinguir”. Assim, alguns definem o Nirvana como a cessação de toda paixão e desejo; uma existência isenta de todo sentimento sensorial, como a dor, o medo, a ânsia, o amor ou o ódio; um estado de eterna paz, descanso e imutabilidade. Essencialmente, diz-se ser a cessação da existência individual.
46 O Buda ensinou que a iluminação e a salvação — a perfeição do Nirvana — vem, não de algum Deus ou força exterior, mas sim de dentro da pessoa através de seus próprios empenhos em boas ações e pensamentos corretos. Isto suscita a pergunta: Pode algo perfeito vir de algo imperfeito? Não nos ensina a experiência comum que, como disse o profeta hebreu Jeremias, ‘não é do homem terreno o seu caminho, não é do homem que anda o dirigir o seu passo’? (Jeremias 10:23) Se ninguém é capaz de exercer controle total de suas ações mesmo nos simples assuntos do dia-a-dia, é lógico pensar que alguém poderia produzir sua salvação eterna inteiramente sozinho? — Salmo 146:3, 4.
47 Assim como uma pessoa afundada na areia movediça provavelmente não sairá sozinha dali, toda a humanidade está presa na armadilha do pecado e da morte, e ninguém é capaz de se desembaraçar sozinho dessa dificuldade. (Romanos 5:12) Todavia, o Buda ensinou que a salvação depende unicamente dos empenhos da própria pessoa. Sua exortação de despedida a seus discípulos foi: “Confiai em vós mesmos e não confiai em ajuda externa; apegai-vos à verdade como uma lâmpada; buscai a salvação apenas na verdade; não procureis a ajuda de ninguém, exceto de vós mesmos.”
Iluminação ou Desilusão?
48 Qual é o efeito de tal doutrina? Inspira em seus crentes a verdadeira fé e devoção? O livro Budismo Vivo diz que, em alguns países budistas, até mesmo os “monges pouco se importam com as sublimidades de sua religião. Chegar ao Nirvana é amplamente considerado como sendo uma ambição irremediavelmente irrealista, e a meditação é raramente praticada. Além do dessultório estudo da Tipitaca, eles devotam-se a ser uma benevolente e harmoniosa influência na sociedade.” Similarmente, a Enciclopédia Mundial (japonesa), comentando sobre o recente ressurgimento de interesse pelos ensinamentos budistas, observa: “Quanto mais o estudo do budismo se torna especializado, tanto mais se aparta de seu objetivo original — guiar as pessoas. Deste ponto de vista, a recente tendência de rigoroso estudo do budismo não significa necessariamente o reavivamento de uma fé viva. Ao contrário, deve-se dizer que quando uma religião passa a ser objeto de complicada erudição metafísica, a sua vida real como fé está perdendo seu poder.”
49 O conceito fundamental do budismo é que o conhecimento e o entendimento levam à iluminação e à salvação. No entanto, as complicadas doutrinas das várias escolas do budismo têm apenas produzido a acima mencionada situação “irremediavelmente irrealista”, que está além da compreensão da maioria dos crentes. Para eles, o budismo tem sido reduzido a fazer o bem e seguir uns poucos rituais e preceitos simples. Não vem de encontro às desconcertantes perguntas a respeito da vida, tais como: De onde viemos? Por que existimos? E qual é o futuro do homem e da terra?
50 Alguns budistas sinceros têm reconhecido a confusão e a desilusão que surgem das complicadas doutrinas e fatigantes rituais do budismo, conforme praticado hoje. Os empenhos humanitários de grupos e associações budistas em alguns países talvez tenham trazido algum alívio da dor e do sofrimento a muitos. Mas, como fonte de verdadeira iluminação e libertação para todos, correspondeu o budismo à sua promessa?
Iluminação Sem Deus?
Relatos da vida do Buda dizem que certa vez ele e seus discípulos estavam numa floresta. O Buda apanhou um punhado de folhas e disse a seus discípulos: “O que eu vos ensinei é comparável às folhas em minha mão, o que eu não vos ensinei é comparável à quantidade de folhas na floresta.” A implicação, naturalmente, era que o Buda ensinara apenas uma fração do que sabia. Contudo, existe uma importante omissão — Gautama, o Buda, praticamente nada tinha a dizer a respeito de Deus; tampouco alguma vez afirmou ser Deus. De fato, consta que ele disse a seus discípulos: “Se existe um Deus, é inconcebível que Ele esteja interessado em meus assuntos do dia-a-dia”, e “não existem deuses que podem ou que irão ajudar o homem”.
Neste sentido, o papel do budismo na busca do verdadeiro Deus por parte da humanidade é mínimo. A Enciclopédia de Crenças do Mundo (em inglês) observa que “o primitivo budismo aparentemente não levou em conta a questão de Deus, e certamente não ensinou nem exigiu a crença em Deus”. Em sua ênfase em cada pessoa procurar a salvação por si mesma, voltando-se para sua própria mente ou percepção em busca de iluminação, o budismo é realmente agnóstico, se não ateísta. (Veja quadro, página 145.) Na tentativa de livrar-se dos grilhões de superstições do hinduísmo e seu atordoante rol de deuses míticos, o budismo pendeu para o outro extremo. Ignorou o conceito fundamental de um Ser Supremo, por cuja vontade tudo existe e opera. — Atos 17:24, 25.
Por causa desse modo de pensar voltado para si mesmo e independente, o resultado é um verdadeiro labirinto de lendas, tradições, doutrinas complexas e interpretações geradas pelas muitas escolas e seitas ao longo dos séculos. O que visava trazer uma solução simples para os complicados problemas da vida resultou num sistema religioso e filosófico além da compreensão para a maioria das pessoas. Em vez disso, o seguidor mediano do budismo simplesmente se preocupa com a adoração de ídolos e relíquias, deuses e demônios, espíritos e ancestrais, e em realizar muitos outros rituais e práticas que pouco têm a ver com o que Gautama, o Buda, ensinou. Obviamente, buscar a iluminação sem Deus não funciona.
Mais ou menos na mesma época em que Gautama, o Buda, procurava o caminho à iluminação, em outra parte do continente asiático viviam dois filósofos cujos conceitos vieram a influenciar milhões de pessoas. Eram Lao-tzu e Confúcio, os dois sábios venerados por gerações de chineses e outros. O que ensinaram eles, e como influenciaram a busca de Deus por parte da humanidade? É isto o que consideraremos no próximo capítulo.
Notas de rodapé
Esta é a transliteração em português de seu nome em páli. Do sânscrito, a transliteração é Sidarta Gautama. Sua data de nascimento, porém, tem sido variadamente fornecida como 560, 563 ou 567 AEC. A maioria dos estudiosos aceita a data de 560 ou, pelo menos, enquadra seu nascimento no sexto século AEC.
Muitos budistas no Japão celebram um ostentoso “Natal”.
Doutrinas budistas, como a anata (não existe eu), negam a existência de uma alma imutável ou eterna. Contudo, a maioria dos budistas hoje, particularmente os do Extremo Oriente, crêem na transmigração de uma alma imortal. A sua prática de adoração de ancestrais e a crença no tormento num inferno após a morte claramente demonstram isso.
ABRANGÊNCIA DO BUDISMO
3. SÉCULO AEC • SRI LANKA
1. SÉCULO AEC • ÁSIA CENTRAL
• CACHEMIRRA
1. SÉCULO EC • CHINA
• JAVA
• TAILÂNDIA
• KAMPUCHEA
• MYANMAR
4. SÉCULO EC • CORÉIA
6. SÉCULO EC • JAPÃO
7. SÉCULO EC • TIBETE
HINDUÍSMO
O QUE é hinduísmo? Trata-se apenas da noção ocidental simplista de venerar animais, banhar-se no Ganges e estar dividido em castas? Ou há algo mais envolvido? A resposta: Há muito mais envolvido. O hinduísmo é uma maneira diferente de entender a vida, para a qual os valores ocidentais são totalmente estranhos. Os ocidentais tendem a ver a vida como linha cronológica de eventos na história. Os hindus vêem a vida como ciclo auto-repetitivo no qual a história humana pouco importa.
Não é fácil definir o hinduísmo, pois não tem credo definido, hierarquia sacerdotal nem órgão governante. Mas não deixa de ter suamis (mestres) e gurus (guias espirituais). Numa definição ampla do hinduísmo, certo livro de história diz que é “o inteiro complexo de crenças e instituições que surgiram desde o tempo em que seus antigos (e mais sagrados) escritos, os Vedas, foram compostos, até agora”. Outro diz: “Pode-se dizer que o hinduísmo é a devoção ou a adoração dos deuses Vixenu, ou Xiva [Siva], ou da deusa Sacti, ou das encarnações, dos aspectos, dos consortes ou da progênie deles.” Isto vale para incluir os cultos de Rama e Críxena (encarnações de Vixenu), Durga, Escanda e Ganesa (respectivamente esposa e filhos de Xiva). Afirma-se que o hinduísmo tem 330 milhões de deuses, não obstante, diz-se que o hinduísmo não é politeísta. Como é isso possível?
O escritor indiano A. Parthasarathy explica: “Os hindus não são politeístas. O hinduísmo fala de um Deus uno . . . Os diferentes deuses e deusas do panteão hindu são mera representação dos poderes e das funções do único Deus supremo no mundo manifestado.”
Os hindus não raro referem-se à sua fé como sanatana darma, que significa lei ou ordem eternas. Hinduísmo é realmente um termo vago que descreve uma hoste de religiões e seitas (sampradaias) que se desenvolveram e floresceram no decorrer dos milênios sob a sombra da complexa mitologia hindu antiga. Essa mitologia é tão intricada que a Nova Enciclopédia Larousse de Mitologia (em inglês) diz: “A mitologia indiana é uma inextricável selva de luxuriante vegetação. Entrando nela, perde-se a luz do dia e todo senso claro de direção.” Não obstante, este capítulo abordará alguns dos aspectos e ensinos dessa fé.
Antigas Raízes do Hinduísmo
Embora o hinduísmo talvez não seja tão difundido como algumas outras religiões principais, não obstante, por volta de 1990, gozava da lealdade de uns 700 milhões de seguidores, ou cerca de 1 em 8 (13%) da população do mundo. Contudo, a maioria destes encontra-se na Índia. Assim, é lógico perguntar: Como e por que o hinduísmo ficou concentrado na Índia?
Alguns historiadores dizem que as raízes do hinduísmo remontam a mais de 3.500 anos, quando uma onda de migração trouxe do noroeste para o vale do Indo um povo ariano de pele clara, agora localizado principalmente no Paquistão e na Índia. De lá eles se espalharam até as planícies do rio Ganges e por toda a Índia. Alguns estudiosos dizem que os conceitos religiosos desses migrantes baseavam-se em antigos ensinos iranianos e babilônicos. Um traço comum a muitas culturas, e também encontrado no hinduísmo, é a lenda sobre um dilúvio. — Veja quadro, página 120.
Mas, que tipo de religião se praticava no vale do Indo antes da chegada dos arianos? Um arqueólogo, Sir John Marshall, fala da “‘Grande Deusa-Mãe’, sendo às vezes representada por estatuetas de figuras femininas grávidas, a maioria nuas, com gargantilha alta e ornato na cabeça. . . . Há também o ‘Deus Macho’, ‘logo identificável como protótipo do histórico Xiva’, sentado com as plantas dos pés tocando uma na outra (uma postura ioga), itifálico (lembrando o culto linga [do falo]), cercado de animais (retratando o epíteto de Xiva, ‘Senhor dos Animais’). Há muitas figuras de pedra do falo e da vulva, . . . que apontam para o culto do linga e da ioni de Xiva e sua consorte”. (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente, em inglês) Até hoje Xiva é reverenciado como deus da fertilidade, o deus do falo, ou linga. O touro Nandi o carrega.
O hinduísta Swami Sankarananda discorda da interpretação de Marshall, dizendo que originalmente as pedras veneradas, algumas conhecidas como Xivalinga, eram símbolos “do fogo do céu ou do sol e o fogo do sol, os raios”. (A Cultura Rigvédica do Indo Pré-histórico, em inglês) Ele arrazoa que “o culto do sexo . . . não se originou como culto religioso. É um subproduto. Uma degeneração do original. São as pessoas que rebaixam o ideal, elevado demais para sua compreensão, a seus próprios níveis”. Como contra-argumento à crítica ocidental ao hinduísmo, ele diz que, à base da veneração cristã da cruz, um símbolo fálico pagão, “os cristãos . . . são os devotos de um culto do sexo”.
Com o tempo, as crenças, os mitos e as lendas da Índia foram assentados por escrito, e formam hoje os escritos sagrados do hinduísmo. Embora tais obras sacras sejam bem abrangentes, elas não tentam propor uma unificada doutrina hindu.
Escritos Sagrados do Hinduísmo
Os escritos mais antigos são os Vedas, uma coletânea de orações e hinos conhecidos como Rig-Veda, Sama-Veda, Iajur-Veda e Atarva-Veda. Foram compostos durante vários séculos e completados por volta de 900 AEC. Os Vedas foram mais tarde suplementados por outros escritos, incluindo os Brâmanas e os Upanichades.
Os Brâmanas especificam como realizar os ritos e sacrifícios, tanto domésticos como públicos, e dão muitos detalhes sobre seus profundos significados. Foram escritos a partir de cerca de 300 AEC ou mais tarde. Os Upanichades (literalmente: “assentos perto dum mestre”), também conhecidos como Vedanta e escritos por volta de 600-300 AEC, são tratados que delineiam a razão de todo o pensamento e ação, segundo a filosofia hindu. As doutrinas da samsara (transmigração da alma) e do carma (a crença de que as ações de uma existência anterior são a causa do atual estado da pessoa na vida) foram esboçadas nesses escritos.
Outro conjunto de escritos são os Puranas, ou longas histórias alegóricas contendo muitos mitos hindus sobre deuses e deusas, bem como sobre heróis hindus. Essa extensa biblioteca hindu inclui também as epopéias de Ramaiana e Maa-barata. A primeira é a história do “Senhor Rama . . . o mais glorioso de todos os personagens encontrados em literatura escritural”, segundo A. Parthasarathy. O Ramaiana é um dos mais populares escritos para os hindus, datado de aproximadamente o quarto século AEC. É a história do herói Rama, ou Ramachandra, tido pelos hindus como filho, irmão e marido exemplar. É considerado o sétimo avatar (encarnação) de Vixenu, e seu nome não raro é invocado como saudação.
Segundo Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, fundador da Sociedade Internacional para Conscientização Críxena, “Bagavad-gītā [parte do Maa-barata] é a suprema instrução de moralidade. As instruções do Bagavad-gītā constituem o supremo processo de religião e o supremo processo de moralidade. . . . A última instrução do Gītā é a última palavra de toda a moralidade e religião: renda-se a Kṛṣṇa [Críxena].” — BG.
O Bagavat Gita (Cântico Celestial), tido por alguns como “jóia da sabedoria espiritual da Índia”, é uma conversação em campo de batalha “entre o Senhor Śrī Kṛṣṇa [Críxena], a Suprema Personalidade da Divindade, e Arjuna, Seu amigo íntimo e devoto, a quem Ele instrui na ciência da auto-realização”. Contudo, o Bagavat Gita é apenas parte da extensa biblioteca sagrada hindu. Alguns desses escritos (Vedas, Brâmanas e os Upanichades) são encarados como Sruti, ou “foram ouvidos”, e são, portanto, considerados escritos sagrados diretamente revelados. Outros, como as epopéias e os Puranas, são Smriti, ou “lembrados”, e, assim, compostos por autores humanos, embora derivados de revelação. Um exemplo é o Manu Smriti, que esboça as leis religiosas e sociais hindus, além de explicar a base para o sistema de castas. Quais são algumas das crenças que surgiram desses escritos hindus?
Ensinos e Conduta — Ainsa e Varna
No hinduísmo, como também em outras religiões, há certos conceitos básicos que influenciam o pensamento e a conduta cotidiana. Um notável exemplo é o ainsa (sânscrito: ahinsa), ou não-violência, pela qual Mohandas Gandhi (1869-1948), conhecido como o Mahatma, tanto se celebrizou. (Veja quadro, página 113.) À base dessa filosofia, os hindus não devem matar outras criaturas, nem praticar violência contra elas, que é uma das razões pelas quais eles veneram certos animais, como vacas, cobras e macacos. Os mais estritos expoentes desse ensino do ainsa e respeito à vida são os seguidores do jainismo (fundado no sexto século AEC), que andam descalços e usam até mesmo uma máscara para não engolir acidentalmente algum inseto. (Veja quadro, página 104, e foto, página 108.) Em contraste, os siques são conhecidos por sua tradição guerreira, e Singh, um sobrenome comum entre eles, significa leão. — Veja quadro, páginas 100-101.
Um aspecto universalmente conhecido do hinduísmo é o varna, ou sistema de castas, que divide a sociedade em rígidas classes. (Veja quadro, página 113.) É impossível não perceber que a sociedade hindu ainda está estratificada por esse sistema, ainda que seja rejeitado pelos budistas e jainistas. Contudo, assim como a discriminação racial persiste nos Estados Unidos e em outras partes, da mesma forma o sistema de castas está profundamente arraigado no espírito indiano. De certo modo é uma forma de conscientização de classe que, de maneira paralela, ainda se encontra hoje em menor grau na sociedade britânica e em outros países. (Tiago 2:1-9) Assim, na Índia, a pessoa nasce dentro de um rígido sistema de castas e praticamente não existe uma saída. Ademais, o hindu mediano não procura uma saída. Ele considera isso como sua predeterminada e inescapável sorte na vida, o resultado de suas ações numa existência anterior, ou carma. Mas, como se originou o sistema de castas? Mais uma vez temos de recorrer à mitologia hindu.
Segundo a mitologia hindu, havia originalmente quatro principais castas baseadas nas partes do corpo do Puruxa, figura do pai original da humanidade. Os hinos do Rig-Veda dizem:
“Quando dividiram o Puruxa, quantas partes fizeram?
Como eles chamam sua boca, seus braços? Como chamam suas coxas e pés?
A brâmane [a casta mais elevada] era sua boca, de ambos os seus braços se fez a rajânia.
Suas coxas se tornaram a vaixiá, de seus pés se produziu a sudra.” — The Bible of the World (A Bíblia do Mundo).
Assim, os brâmanes sacerdotais, a mais elevada casta, supostamente se originaram da boca do Puruxa, sua parte mais elevada. A classe governante, ou guerreira, (xátria ou rajânia) veio de seus braços. A classe mercadora e lavradora, chamada vaixá, ou vaixiá, originou-se de suas coxas. Uma casta inferior, a sudra, ou xudra, ou classe trabalhadora, resultou da parte mais inferior do corpo, os pés.
No decorrer dos séculos vieram a existir até mesmo castas inferiores, os párias e os intocáveis, ou como Mahatma Gandhi os chamava mais bondosamente, os harijãs, ou “pessoas pertencentes ao deus Vixenu”. Embora a intocabilidade seja ilegal na Índia desde 1948, os intocáveis ainda levam uma existência muito dura.
Com o tempo as castas se multiplicaram, passando a corresponder a quase toda profissão e artesanato na sociedade hindu. Este antigo sistema de castas, que mantém cada qual no seu respectivo lugar social, é na realidade também racial e “inclui distintos tipos raciais que variam desde o que é conhecido como tronco ariano [de pele clara] ao pré-dravidiano [de pele mais escura]”. Varna, ou casta, significa “cor”. “As primeiras três castas eram arianas, as pessoas mais claras; a quarta casta, que incluía os aborígenes de pele escura, era não-ariana.” (Série Mitos e Lendas — Índia, de Donald A. Mackenzie, em inglês) É um fato da vida na Índia que o sistema de castas, fortalecido pelo ensino religioso do carma, mantém milhões de pessoas presas a eterna pobreza e injustiça.
O Frustrador Ciclo da Existência
Outra crença básica que afeta a ética e a conduta hindu, e uma das mais vitais, é o ensino do carma. Trata-se do princípio de que toda ação tem suas conseqüências, positivas ou negativas; determina cada existência da alma transmigrada ou reencarnada. Como explica o Garuda Purana:
“O homem é o criador de seu próprio destino, e mesmo na vida fetal, ele é afetado pela dinâmica das obras praticadas na sua existência anterior. Quer confinado num reduto de montanha, quer tranqüilo na superfície de um mar, quer seguro no colo de sua mãe quer erguido sobre a cabeça dela, o homem não pode fugir dos efeitos de suas próprias ações passadas. . . . O que quer que tenha de acontecer a um homem, em qualquer idade ou época específicas, certamente lhe sobrevirá então e naquela data.”
O Garuda Purana continua:
“O conhecimento adquirido por um homem na sua vida anterior, a riqueza dada como caridade na sua existência anterior e as obras feitas por ele numa encarnação prévia, vão à frente de sua alma na sua permanência temporária.”
De que depende essa crença? A alma imortal é essencial para o ensino do carma, e é o carma que faz o conceito hindu da alma diferir do da cristandade. Os hindus crêem que cada alma pessoal, jiva ou pran, passa por muitas reencarnações e possivelmente pelo “inferno”. Ela tem de lutar para unir-se à “Suprema Realidade”, também chamada Brâmane, ou Brâmine (não confundir com o deus hindu Brama). Por outro lado, as doutrinas da cristandade oferecem à alma as opções do céu, inferno, purgatório ou limbo, dependendo da crença religiosa. — Eclesiastes 9:5, 6, 10; Salmo 146:4.
Como conseqüência do carma, os hindus tendem a ser fatalistas. Crêem que o atual status ou condição da pessoa resulta duma existência prévia, sendo, portanto, merecida, seja boa ou má. O hindu pode tentar estabelecer um registro melhor, de modo que a próxima existência seja mais suportável. Assim, ele aceita mais prontamente a sua sorte na vida do que o ocidental. O hindu vê tudo como o resultado da lei de causa e efeito em relação à sua existência anterior. É o princípio de colher o que se semeou numa suposta existência anterior. Tudo isso, naturalmente, baseia-se na premissa de que o homem tem uma alma imortal que passa para uma outra vida, seja esta como humano, animal ou vegetal.
Assim, qual é o derradeiro objetivo da fé hindu? É alcançar a mocsa, que significa libertação, ou liberação, do círculo vicioso de renascimentos e diferentes existências. Por conseguinte, é um escape da existência incorporada, não para o corpo, mas sim para a “alma”. “Visto que a mocsa, ou libertação duma longa série de encarnações, é o alvo de todo hindu, o maior evento de sua vida é realmente a morte”, diz certo comentarista. Pode-se conseguir a mocsa seguindo os diferentes margas, ou caminhos. (Veja quadro, página 110.) É espantoso ver quanto desse ensino religioso depende do antigo conceito babilônico da alma imortal!
Todavia, segundo a Bíblia, esse desprezo e desdém para com a vida material é diametralmente contrário ao propósito original de Jeová Deus para com a humanidade. Ao criar o primeiro casal humano, ele lhes atribuiu uma existência terrestre feliz e jubilosa. O relato bíblico nos diz:
“E Deus passou a criar o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. Ademais, Deus os abençoou e Deus lhes disse: ‘Sede fecundos e tornai-vos muitos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e tende em sujeição os peixes do mar, e as criaturas voadoras dos céus, e toda criatura vivente que se move na terra.’ . . . Depois, Deus viu tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom.” (Gênesis 1:27-31)
A Bíblia profetiza uma iminente era de paz e justiça para a terra, uma era em que cada família terá a sua própria moradia adequada, e a saúde e vida perfeitas serão o quinhão eterno da humanidade. — Isaías 65:17-25; 2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:1-4.
A próxima pergunta a responder é: Que deuses o hindu tem de agradar a fim de alcançar um bom carma?
O Panteão de Deuses Hindus
Embora o hinduísmo afirme existir milhões de deuses, na prática real há certos deuses favoritos que se têm tornado o ponto focal de várias seitas dentro do hinduísmo. Três dos deuses mais destacados estão incluídos no que os hindus chamam de Trimúrti, uma trindade, ou tríade, de deuses. — Quanto a outros deuses hindus, veja quadro nas páginas 116-17.
A tríade consiste em Brama, o Criador, Vixenu, o Preservador e Xiva, o Destruidor, e cada qual tem pelo menos uma esposa ou consorte. Brama é casado com Sarasváti, a deusa do conhecimento. A esposa de Vixenu é Lacximi e a primeira esposa de Xiva era Sati, que se suicidou. Foi a primeira mulher a passar pelo fogo sacrificial, tornando-se assim a primeira sati. Seguindo seu exemplo mitológico, milhares de viúvas hindus ao longo dos séculos se sacrificaram na pira funerária de seu marido, embora tal prática seja agora ilegal. Xiva tem também outra esposa, conhecida por vários nomes e títulos. Na sua forma benigna, ela é Parvati e Uma, bem como Gauri, a Dourada. Como Durga ou Cali, ela é uma deusa terrificante.
Brama, embora seja central na mitologia hindu, não ocupa um lugar de destaque na adoração do hindu mediano. De fato, bem poucos templos são dedicados a ele, embora seja chamado de Brama, o Criador. Contudo, a mitologia hindu atribui a tarefa de criar o universo material a um ser, fonte ou essência suprema — Brâmane ou Brâmine, identificado pelas sílabas sagradas OM ou AUM. Todos os três membros da tríade são considerados parte desse “Ser”, e todos os outros deuses são tidos como diferentes manifestações. Qualquer que seja o deus que então é adorado como supremo, pensa-se que essa deidade seja todo-abrangente. Assim, ao passo que os hindus veneram abertamente milhões de deuses, a maioria reconhece a existência de apenas um único Deus verdadeiro, que pode assumir muitas formas: varão, mulher, ou até mesmo animal. Por conseguinte, os peritos hindus frisam prontamente que o hinduísmo é realmente monoteísta, não politeísta. O pensamento védico posterior, contudo, descarta o conceito de um ser supremo, substituindo-o por um impessoal princípio ou realidade divina.
Vixenu, uma benevolente deidade solar e cósmica, é o centro da adoração para os seguidores do vaixnavismo. Ele aparece sob dez avatares, ou encarnações, incluindo Rama, Críxena e o Buda. Outro avatar é Vixenu Naraiana, “representado em forma humana adormecido sobre a serpente enrolada Xexa ou Ananta, flutuando nas águas cósmicas com sua esposa, a deusa Lacximi, sentada a seus pés ao passo que o deus Brama surge de um loto que cresce do umbigo de Vixenu”. — Enciclopédia de Crenças do Mundo (em inglês).
Xiva, também comumente chamado de Mahexa (Supremo Senhor) e Maadeva (Grande Deus), é o segundo maior deus do hinduísmo, e a adoração que lhe é prestada chama-se xivaísmo. Ele é descrito como “o grande asceta, o mestre iogue sentado, mergulhado na meditação nas encostas do Himalaia, com o corpo besuntado de cinzas e a cabeça coberta de cabelo emaranhado”. É também conhecido “por seu erotismo, como originador da fertilidade e supremo senhor da criação, Maadeva”. (Enciclopédia de Crenças do Mundo) Adora-se a Xiva por meio do linga, ou representação fálica.
Como muitas outras religiões do mundo, o hinduísmo tem a sua deusa suprema, que pode tanto ser atraente como aterradora. Em sua forma mais agradável ela é conhecida como Parvati e Uma. Seu gênio temível é mostrado como Durga ou Cali, uma deusa sanguinária que se deleita em sacrifícios de sangue. Como Deusa-Mãe, Cali Ma (Negra Mãe-Terra), ela é a deidade principal da seita Sacti. É retratada nua até os quadris e usando como adornos cadáveres, cobras e caveiras. No passado, vítimas humanas estranguladas eram oferecidas a ela por crentes conhecidos como tug, de onde vem a palavra portuguesa “tugue”.
O Hinduísmo e o Rio Ganges
Não podemos falar do panteão de deuses do hinduísmo sem mencionar seu rio mais sagrado — o Ganges. Grande parte da mitologia hindu relaciona-se diretamente com o rio Ganges, ou Gangá Ma (Mãe Gangá), como os devotos hindus o chamam. (Veja mapa, página 123.) Eles recitam uma oração que inclui 108 diferentes nomes para o rio. Por que é o Ganges tão reverenciado pelos hindus sinceros? Por ser tão intimamente ligado à sua sobrevivência diária e à sua antiga mitologia. Eles crêem que o rio existia antes no céu qual Via-Láctea. Mas como é que se transformou num rio?
Com algumas variações, a maioria dos hindus explicaria isso da seguinte maneira: O Marajá Sagara tinha 60.000 filhos que foram mortos pelo fogo de Capila, uma manifestação de Vixenu. Suas almas estavam condenadas ao inferno, a menos que a deusa Gangá descesse do céu para purificá-los e livrá-los da maldição. Bagirati, bisneto de Sagara, intercedeu junto a Brama para que este permitisse que a sagrada Gangá descesse à terra. Certo relato continua: “Gangá respondeu: ‘Sou uma torrente tão poderosa que abalaria as fundações da terra.’ De modo que [Bagirati], depois de fazer penitência por mil anos, recorreu ao deus Xiva, o maior de todos os ascetas, e persuadiu-o a se posicionar alto acima da terra em meio às rochas e o gelo do Himalaia. Xiva tinha cabelos emaranhados alto na sua cabeça, e ele permitiu a Gangá que se arremessasse do céu para dentro de seus cachos, que brandamente absorveram o choque ameaçador à terra. Daí Gangá escoou suavemente para a terra e fluiu das montanhas e através das planícies, trazendo água e, por conseguinte, vida para a terra seca.” — Do Oceano Para o Céu (em inglês), de Sir Edmund Hillary.
Os seguidores de Vixenu têm uma versão um pouco diferente sobre a origem do Ganges. Segundo um texto antigo, o Vixenu Purana, a sua versão é:
“Dessa região [o assento sagrado de Vixenu] procede o rio Ganges, que remove todos os pecados . . . Emana da unha do dedão do pé esquerdo de Vixenu.”
Ou, como dizem os seguidores de Vixenu, em sânscrito: “Visnu-padabja-sambhuta”, que significa “Nascido do pé, semelhante ao loto, de Vixenu”.
Os hindus crêem que o Ganges tem o poder de libertar, purificar, limpar e curar os crentes. O Vixenu Purana declara:
“Os santos, que são purificados por se banharem nas águas deste rio, e cujas mentes estejam devotadas a Quesava [Vixenu], obtêm a libertação final. O rio sagrado, ouvindo-se dele falar, ao ser desejado, visto, tocado, ao se banhar nele, ou ao se cantar hinos por ele, dia a dia purifica todos os seres. E aqueles que mesmo vivendo à distância . . . exclamarem ‘Gangá e Gangá’ serão libertados dos pecados cometidos durante as três existências prévias.”
O Bramadapurana diz:
“Quanto aos que se banham devotamente uma vez nas puras correntes do Gangá, suas tribos são protegidas por Ela contra centenas de milhares de perigos. Males acumulados durante gerações são destruídos. Simplesmente por banhar-se no Gangá a pessoa é imediatamente purificada.”
Os indianos acorrem ao rio para realizar a puja, ou adoração, oferecendo flores, salmodiando orações e recebendo dum sacerdote o tilaque, a manchinha de pasta vermelha ou amarela na testa. Daí eles entram na água para se banhar. Muitos também bebem a água, embora seja altamente poluída por esgotos, substâncias químicas e cadáveres. Mas, tão grande é a atração espiritual do Ganges que milhões de indianos almejam banhar-se pelo menos uma vez no seu ‘rio santo’, poluído ou não.
Outros trazem os corpos de seus entes queridos para serem cremados em piras na margem do rio, e daí talvez as cinzas sejam lançadas no rio. Eles crêem que isso garante a felicidade eterna para a alma que partiu. Os muito pobres para pagar uma pira funerária simplesmente lançam no rio o corpo coberto, onde é atacado por aves necrófagas, ou simplesmente se decompõe. Isto nos leva à pergunta: Além do que já consideramos, o que ensina o hinduísmo sobre a vida após a morte?
Hinduísmo e a Alma
A Bagavat Gita nos dá uma resposta, dizendo:
“Assim como a alma incorporada continuamente passa, neste corpo, da meninice à juventude, e daí à velhice, a alma similarmente passa para outro corpo, na morte.” — Capítulo 2, texto 13, em inglês.
Certo comentário hindu sobre esse texto diz: “Visto que toda entidade viva é uma alma individual, todas elas estão mudando seu corpo a todo o momento, manifestando-se às vezes como criança, às vezes como jovem e às vezes como homem idoso — embora a mesma alma espiritual esteja presente e não passe por nenhuma mudança. Esta alma individual por fim muda o próprio corpo, ao transmigrar de um para outro, e visto ser certo que terá outro corpo no próximo nascimento — quer material, quer espiritual — não havia razão para lamentação da parte de Arjuna por causa da morte.”
Note que o comentário diz que “toda entidade vivente é uma alma individual”. Essa declaração concorda com o que a Bíblia diz em Gênesis 2:7:
“E Jeová Deus passou a formar o homem do pó do solo e a soprar em suas narinas o fôlego de vida, e o homem veio a ser uma alma vivente.”
Mas, deve-se fazer uma importante distinção: Constitui-se o homem de uma alma vivente com todas as suas funções e faculdades, ou será que ele tem uma alma à parte de suas funções corporais? É o homem uma alma, ou tem ele uma alma? A seguinte citação clarifica o conceito hindu.
O capítulo 2, texto 17, do Bagavat Gita diz:
“O que permeia o inteiro corpo é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a imperecível alma.”
Esse texto é então explicado:
“Todo e qualquer corpo contém uma alma individual, e o sintoma da presença da alma é percebido na forma de estado de consciência individual.”
Portanto, ao passo que a Bíblia diz que o homem é uma alma, o ensino hindu declara que ele tem uma alma. E há uma colossal diferença aqui, que afeta profundamente os ensinos que são uma conseqüência desses pontos de vista. — Levítico 24:17, 18.
O ensino da alma imortal é, em última análise, tirado do antigo reservatório estagnado de conhecimento religioso de Babilônia. Tal ensino logicamente leva às conseqüências da ‘vida após a morte’, apresentadas nos ensinos de tantas religiões — reencarnação, céu, inferno, purgatório, limbo, e assim por diante. Para os hindus, céu e inferno são lugares de espera intermediários antes que a alma obtenha a reencarnação seguinte. De interesse especial é o conceito hindu do inferno.
Ensino Hindu do Inferno
Um texto do Bagavat Gita diz:
“Quando as leis da família são destruídas, Janardana, então o que certamente para os homens resulta é morar no inferno.” — I. 44, Harvard Oriental Series, Vol. 38, 1952.
Um comentário diz: “Os que são muito pecaminosos na sua vida terrestre têm de sofrer diferentes tipos de punição em planetas infernais.” No entanto, difere um pouco do tormento eterno no fogo do inferno da cristandade: “Essa punição . . . não é eterna.” Então, o que é exatamente o inferno hindu?
O seguinte é uma descrição do destino de um pecador, extraída do Marcandeia Purana:
“Daí os emissários de Iama [deus dos mortos] rapidamente amarram-no com laços horríveis e arrastam-no para o sul, trêmulo por causa do golpe de vara. Daí ele é arrastado pelos emissários de Iama, emitindo gritos medonhos e nefastos, através de terrenos escabrosos com Cusa [uma planta], espinhos, formigueiros, alfinetes e pedras, com chamas acesas em alguns pontos, cheios de buracos, escaldantes com o calor do sol e queimando com seus raios. Arrastado pelos pavorosos emissários e devorado por centenas de chacais, o pecador vai à casa de Iama através de uma temível passagem. . . .
“Quando seu corpo é queimado ele sente uma grande sensação abrasadora; e quando seu corpo é espancado ou cortado ele sente grande dor.
“Seu corpo sendo assim destruído, a criatura, embora entre num outro corpo, sofre aflição eterna por causa de suas próprias ações adversas. . . .
“Daí, para ter seus pecados lavados, ele é levado para outro de tal inferno. Depois de percorrer todos os infernos, o pecador assume uma vida animalesca. Daí, passando pela vida de vermes, insetos e moscas, animais de rapina, mosquitos, elefantes, árvores, cavalos, vacas, e através de diversas outras vidas pecaminosas e miseráveis, ele, chegando à raça de homens, nasce corcunda, feio, anão ou Chandala Pucasa.”
Compare isso com o que a Bíblia diz a respeito dos mortos:
“Pois os viventes estão cônscios de que morrerão; os mortos, porém, não estão cônscios de absolutamente nada, nem têm mais salário, porque a recordação deles foi esquecida. Também seu amor, e seu ódio, e seu ciúme já pereceram, e por tempo indefinido eles não têm mais parte em nada do que se tem de fazer debaixo do sol. Tudo o que a tua mão achar para fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria no Seol, o lugar para onde vais.” — Eclesiastes 9:5, 6, 10.
Naturalmente, se, como diz a Bíblia, o homem não tem uma alma mas é uma alma, então não há existência consciente após a morte. Não há bem-aventurança e não há sofrimento. Todas as complicações ilógicas do “além” desaparecem.
O Rival do Hinduísmo
Esta forçosamente breve consideração do hinduísmo mostrou que se trata de uma religião de politeísmo baseada no monoteísmo — a crença em Brâmane, o Ser, a fonte ou a essência suprema, simbolizado pelas sílabas OM ou AUM, e de muitas facetas ou manifestações. É também uma religião que ensina a tolerância e incentiva a bondade para com os animais.
Por outro lado, alguns elementos do ensino hindu, tais como o carma e as injustiças do sistema de castas, junto com a idolatria e as contradições nos mitos, têm levado algumas pessoas refletidas a questionar a validade dessa fé. Um dos questionadores surgiu no noroeste da Índia por volta do ano 560 AEC. Era Sidarta Gautama. Ele fundou uma nova fé que não prosperou na Índia, não obstante, floresceu em outras partes, como explicará o nosso próximo capítulo. Essa nova fé era o budismo.
Notas de rodapé
O nome hinduísmo é de invenção européia.
Em sânscrito, “alma” muitas vezes é a tradução de atma, ou atman, mas “espírito” é uma tradução mais exata. — Veja Dicionário de Hinduísmo — Sua Mitologia, Folclore e Desenvolvimento 1500 AC-1500 AD, página 31, e o folheto Vitória Sobre a Morte — É Possível Para Você?, publicado pela Sociedade Torre de Vigia em 1986 (ambos em inglês).
Um décimo e futuro avatar é o de Calqui Avatara “retratado como jovem magnífico cavalgando num grande cavalo branco com uma espada semelhante a um meteoro fazendo chover morte e destruição por todos os lados”. “A sua vinda restabelecerá a justiça na terra, e a volta de uma era de pureza e inocência.” — Religiões da Índia; Dicionário do Hinduísmo (ambos em inglês). — Veja Apocalipse 19:11-16.
O ensino bíblico da ressurreição dos mortos nada tem a ver com a doutrina da alma imortal.
ISLAMISMO
“EM NOME de Deus [Alá], Clemente, Misericordioso.” Esta frase traduz o texto árabe acima, do Qur’ān (Alcorão). E continua: “Louvado seja Deus, Senhor do Universo, Clemente, Misericordioso. Soberano do Dia do Juízo. Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda! Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados.” — Qur’ān, surata 1:1-7.
Tais palavras formam a Alfátiha (“A Abertura”), o primeiro capítulo, ou surata, do livro sagrado dos muçulmanos, o Sagrado Qur’ān, Corão, ou Alcorão. Visto que mais de uma de cada seis pessoas no mundo é muçulmana, e considerando que os muçulmanos devotos repetem esses versículos pelo menos cinco vezes em suas orações diárias, estas devem estar entre as palavras mais recitadas na terra.
Segundo certa fonte, há mais de 900 milhões de muçulmanos no mundo, o que faz com que, numericamente, o islamismo seja menor apenas do que a Igreja Católica Romana. Dentre as religiões principais é talvez a que aumenta mais rapidamente no mundo, com movimento muçulmano em expansão na África e no mundo ocidental.
O nome islã (ou islame) é expressivo para o muçulmano, pois significa “submissão”, “rendição” ou “entrega” a Alá, e, segundo certo historiador, “expressa a mais íntima atitude dos que abraçaram a pregação de Maomé”. “Muçulmano” significa ‘aquele que faz ou pratica o islã’.
Os muçulmanos crêem que a sua fé é a culminação das revelações dadas aos fiéis hebreus e cristãos do passado. Contudo, seus ensinamentos divergem da Bíblia em alguns pontos, embora citem tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas no Qur’ān. (Veja quadro, página 285.) Para melhor entender a fé muçulmana, temos de saber como, onde e quando essa religião começou.
A Chamada de Maomé
Maomé nasceu em Meca (árabe, Makkah), Arábia Saudita, por volta de 570 EC. Seu pai, Abdalá, morreu antes de Maomé nascer. Sua mãe, Amina, morreu quando ele tinha cerca de seis anos. Naquele tempo, os árabes praticavam uma forma de adoração de Alá centralizada no vale de Meca, no local sagrado da Caaba, um edifício simples em forma de cubo, onde se reverenciava um meteorito negro.
Segundo a tradição islâmica, “a Caaba foi originalmente construída por Adão segundo um protótipo celestial e depois do Dilúvio reconstruída por Abraão e Ismael”. (História dos Árabes, de Philip K. Hitti, em inglês) Tornou-se santuário de 360 ídolos, um para cada dia do ano lunar.
À medida que crescia, Maomé passou a questionar as práticas religiosas de seus dias. John Noss, em seu livro Man’s Religions (As Religiões do Homem), declara: “[Maomé] incomodava-se com as incessantes rixas por causa de confessos interesses de religião e honra entre os chefes coraixitas [Maomé era dessa tribo]. Mais forte ainda era o seu descontentamento com os grotescos remanescentes na religião árabe, o politeísmo e o animismo idólatras, a imoralidade nas assembléias e quermesses religiosas, a bebedeira, a jogatina e as danças que estavam na moda, e o sepultamento em vida de bebês do sexo feminino indesejados, praticado não apenas em Meca mas em toda a Arábia.” — Surata 6:137.
A chamada de Maomé para ser profeta ocorreu quando ele beirava os 40 anos de idade. Ele costumava ir sozinho a uma caverna próxima, chamada Gar Hira, para meditar, e afirmou que foi numa dessas ocasiões que recebeu a chamada para ser profeta. Diz a tradição muçulmana que, estando lá, um anjo, mais tarde identificado como Gabriel, ordenou-lhe que recitasse em nome de Alá. Maomé não obedeceu, de modo que o anjo ‘agarrou-o e comprimiu-o tanto que Maomé não pôde suportar’.
Daí o anjo repetiu a ordem. Novamente, Maomé não reagiu, de modo que o anjo ‘sufocou-o’ novamente. Isto ocorreu três vezes, depois do que Maomé começou a recitar o que veio a ser encarado como primeira duma série de revelações que constituem o Qur’ān. Segundo outra tradição, a inspiração divina foi revelada a Maomé em forma do soar duma campainha. — O Livro de Revelação, de Sahih Al-Bukhari (em inglês).
Revelação do Qur’ān
Qual foi, supostamente, a primeira revelação que Maomé recebeu? Os versados no islamismo em geral concordam que foram os primeiros cinco versículos da surata 96, intitulada Al’Alac, “O Coágulo [de Sangue]”, que reza:
“Em nome de Deus [Alá], Clemente, Misericordioso.
Lê em nome de teu Senhor que (tudo) criou;
Criou o homem de um coágulo.
Lê que teu Senhor é generoso,
Que ensinou o uso do cálamo
Ensinou ao homem o que este não sabia.”
Segundo a fonte árabe O Livro de Apocalipse, Maomé respondeu: “Eu não sei ler.” Assim, ele teve de memorizar as revelações, de modo que pudesse repeti-las e recitá-las. Os árabes eram peritos no uso da memória, e Maomé não era exceção. Quanto tempo levou para ele receber a mensagem completa do Qur’ān? Crê-se geralmente que as revelações ocorreram num período de 20 a 23 anos, aproximadamente por volta de 610 EC até a sua morte, em 632 EC.
Fontes muçulmanas explicam que, assim que recebia cada revelação, Maomé a recitava para quem quer que estivesse por perto. Estes, por sua vez, memorizavam a revelação e, por recitação, mantinham-na viva. Visto que os árabes desconheciam a arte de fabricar papel, Maomé fez com que escribas anotassem as revelações em primitivos materiais então disponíveis, como omoplatas de camelo, folhas de palmeira, madeira e pergaminho. Mas, foi só depois da morte do profeta que o Qur’ān assumiu a sua forma atual, sob a direção dos sucessores e companheiros de Maomé. Isto foi durante o domínio dos primeiros três califas, ou líderes muçulmanos.
O tradutor Muhammad Pickthall escreve: “Todas as suratas do Qur’ān haviam sido registradas por escrito antes da morte do Profeta, e muitos muçulmanos haviam decorado o inteiro Qur’ān. Mas, as suratas escritas ficaram dispersas entre o povo; e quando numa batalha . . . um grande número dos que sabiam o inteiro Qur’ān de cor foram mortos, foi feita uma coletânea do inteiro Qur’ān e assentada por escrito.”
A vida islâmica é governada por três autoridades — o Qur’ān, a Hadith e a Xariah. (Veja quadro, página 291.) Os muçulmanos crêem que o Qur’ān em árabe seja a mais pura forma de revelação, pois, como dizem, foi a língua usada por Deus ao falar por meio de Gabriel. A surata 43:3 diz: “Que vos temos ditado um Alcorão arábico, a fim de que o compreendais.” Assim, qualquer tradução é encarada como apenas uma diluição que envolve perda de pureza. De fato, alguns versados em islamismo recusam-se a traduzir o Qur’ān. Acham que “traduzir sempre é trair” e, por conseguinte, os “muçulmanos sempre reprovaram, e às vezes proibiram, qualquer tentativa de traduzi-lo para outra língua”, diz o Dr. J. A. Williams, preletor de história islâmica.
Expansão Islâmica
Maomé fundou a sua nova fé enfrentando grandes dificuldades. O povo de Meca, até mesmo de sua própria tribo, rejeitou-o. Depois de 13 anos de perseguição e ódio, ele transferiu seu centro de atividades para o norte, em Iatrib, que então passou a ser conhecido como al-Madinah (Medina), a cidade do profeta. Essa emigração, ou hégira, em 622 EC, foi um marco importante na história islâmica, e essa data foi mais tarde adotada como ponto de partida do calendário islâmico.
Por fim, Maomé obteve o domínio quando Meca capitulou diante dele, em janeiro de 630 EC (8 AH), e ele passou a governá-la. Com as rédeas do controle secular e religioso nas mãos, ele conseguiu varrer as imagens idólatras da Caaba e estabelecê-la como ponto principal de peregrinação a Meca, que persiste até hoje.
Poucas décadas depois da morte de Maomé, em 632 EC, o islamismo já se havia difundido até o Afeganistão, e até mesmo à Tunísia, na África do Norte. Perto do início do oitavo século, a fé do Qur’ān penetrara na Espanha e chegara à fronteira francesa. Como disse o professor Ninian Smart em seu livro Background to the Long Search (Origem da Longa Busca): “Encarada dum ponto de vista humano, a consecução de um profeta árabe que viveu no sexto e no sétimo séculos depois de Cristo é assombrosa. Humanamente, foi dele que fluiu uma nova civilização. Mas, naturalmente, para os muçulmanos a obra era divina, e a consecução, de Alá.”
A Morte de Maomé Causa Divisão
A morte do profeta provocou uma crise. Ele morreu sem deixar descendente masculino e sem sucessor claramente designado. Como diz Philip Hitti: “O califado [cargo de califa] é, pois, o mais antigo problema que o islamismo teve de enfrentar. Ainda é uma questão acesa. . . . Como disse o historiador muçulmano al-Shahrastani [1086-1153]: ‘Nunca houve uma questão islâmica que causasse mais derramamento de sangue do que o califado (imamah).’” Como se resolveu o problema lá em 632 EC? “Abu-Bekr . . . foi nomeado (8 de junho de 632) sucessor de Maomé por meio de um tipo de eleição em que participaram os líderes presentes na capital, al-Madinah.” — História dos Árabes.
O sucessor do profeta seria um governante, um khalifah, ou califa. Contudo, a questão concernente a quem eram os verdadeiros sucessores de Maomé virou motivo de divisões nas fileiras do islamismo. Os muçulmanos sunitas aceitam o princípio de cargo eletivo, em vez de a descendência sangüínea do profeta. Assim, eles crêem que os três primeiros califas, Abu-Bekr (sogro de Maomé), Omar (conselheiro do profeta) e Otmã (genro do profeta), eram os sucessores legítimos de Maomé.
Essa afirmação é contestada pelos muçulmanos xiitas, que dizem que a verdadeira liderança vem da linhagem sangüínea do profeta e através de seu primo e genro, Ali ibn Abi Talib, o primeiro imame (líder e sucessor), que se casou com a filha predileta de Maomé, Fátima. Seu casamento produziu os netos de Maomé, Hasã e Husain. Os xiitas afirmam também “que desde o início Alá e Seu Profeta haviam claramente nomeado Ali como único legítimo sucessor, mas que os três primeiros califas usurparam seu cargo de direito”. (História dos Árabes) Naturalmente, o conceito dos muçulmanos sunitas é outro.
O que aconteceu com Ali? Durante seu domínio como quarto califa (656-661 EC), surgiu uma rixa a respeito de liderança entre ele e o governador da Síria, Moávia. Envolveram-se em batalha, mas, daí, para evitar mais derramamento de sangue muçulmano, eles submeteram a sua disputa ao arbítrio. Ter Ali aceitado o arbítrio enfraqueceu a sua causa e alienou muitos de seus seguidores, incluindo os Caridjitas (Dissidentes), que se tornaram seus inimigos mortais. No ano 661 EC, Ali foi assassinado por um caridjita fanático, com um sabre envenenado. Os dois grupos (sunitas e xiitas) estavam em forte desacordo. Daí, o ramo sunita do islamismo escolheu um líder dentre os omíadas, ricos chefes de Meca, que não eram da família do profeta.
Para os xiitas, o primogênito de Ali, Hasã, neto do profeta, era o verdadeiro sucessor. Contudo, ele renunciou e foi assassinado. Seu irmão Husain tornou-se o novo imame, mas também foi morto, por tropas omíadas, em 10 de outubro de 680 EC. A sua morte, ou martírio, como os xiitas a encaram, teve um significativo efeito sobre o Shiat Ali, o partido de Ali, efeito que perdura até os dias de hoje. Eles crêem que Ali era o verdadeiro sucessor de Maomé e o primeiro “imame [líder] divinamente protegido contra o erro e o pecado”. Ali e seus sucessores foram considerados pelos xiitas como instrutores infalíveis, tendo “o dom divino da impecabilidade”.
O maior segmento dos xiitas crê que houve apenas 12 verdadeiros imames, e que o último destes, Maomé al-Muntazar, desapareceu (em 878 EC) “na gruta da grande mesquita de Samarra, sem deixar descendência”. Assim, “ele se tornou o imame ‘oculto (mustatir)’ ou ‘esperado (muntazar)’. . . . No devido tempo ele aparecerá como o Madi (o divinamente guiado) para restaurar o verdadeiro islamismo, conquistar o mundo inteiro e introduzir um breve milênio antes do fim de todas as coisas”. — História dos Árabes.
Anualmente, os xiitas comemoram o martírio do Imame Husain. Fazem procissões em que alguns se cortam com facas e espadas e de outras formas se autoflagelam. Em tempos mais recentes, os muçulmanos xiitas têm estado freqüentemente nas notícias devido ao seu zelo pelas causas islâmicas. Contudo, eles representam apenas uns 20 por cento dos muçulmanos do mundo, a maioria dos quais são muçulmanos sunitas. Agora, consideremos alguns dos ensinamentos do islamismo e vejamos como a fé islâmica afeta a conduta diária dos muçulmanos.
O Supremo É Deus, Não Jesus
As três maiores religiões monoteístas do mundo são o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Mas, na época em que Maomé apareceu, perto do começo do sétimo século EC, as duas primeiras religiões, a seu ver, haviam-se desviado do caminho da verdade. De fato, segundo certos comentaristas islâmicos, o Qur’ān implica a rejeição de judeus e de cristãos, dizendo: “À senda dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados.” (Surata 1:7) Por que isso?
Diz certo comentário alcorânico: “O Povo do Livro desencaminhou-se: Os judeus por violarem o seu Pacto, e difamarem Maria e Jesus . . . e os cristãos por enaltecerem Jesus, o Apóstolo, à igualdade com Deus”, por meio da doutrina da Trindade. — Surata 4:153-176, Abdullah Y. Ali (em inglês).
O principal ensinamento do islamismo, simplificando ao máximo, é o que se conhece por chahada, ou confissão de fé, que todo muçulmano conhece de cor: “La ilah illa Allah; Muhammad rasul Allah” (Não há deus senão Alá; Maomé é o mensageiro de Alá). Isto se harmoniza com a expressão alcorânica: “Vosso Deus é Um só. Não há mais deus que Ele, Clemente, Misericordiosíssimo.” (Surata 2:163) Essa idéia já fora expressa 2.000 anos antes disso, na antiga convocação a Israel: “Escuta, ó Israel: Jeová, nosso Deus, é um só Jeová.” (Deuteronômio 6:4) Jesus repetiu esse principal mandamento, registrado em Marcos 12:29, uns 600 anos antes de Maomé, e, em parte alguma, Jesus afirma ser Deus ou igual a Ele. — Marcos 13:32; João 14:28; 1 Coríntios 15:28.
A respeito da unicidade de Deus, o Qur’ān reza: “Crede, pois, em Deus e em Seus apóstolos, e não digais: Trindade! Abstende-vos disso que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno.” (Surata 4:171) Contudo, convém notar que o cristianismo verdadeiro não ensina a Trindade. Trata-se de uma doutrina de origem pagã introduzida por apóstatas da cristandade após a morte de Cristo e dos apóstolos. — Veja Capítulo 11.
Alma, Ressurreição, Paraíso e Inferno de Fogo
O islamismo ensina que o homem tem uma alma que sobrevive para uma vida futura. O Qur’ān diz: “Deus [Alá] recolhe as almas no momento da morte e, os que não morrem, ainda, (recolhe) durante o sono. Ele retém aqueles cuja morte tem decretada.” (Surata 39:42) Ao mesmo tempo, a surata 75 é inteiramente devotada à “Alquiáma ou Ressurreição” ou “Levantamento dos Mortos” (Muhammad M. Pickthall [em inglês]). Ela diz, em parte: “Pelo Dia da Ressurreição . . . Porventura, crê o homem que jamais reuniremos seus ossos? . . . Perguntam: Quando acontecerá o Dia da Ressurreição? . . . Não será [Alá] capaz de ressuscitar os mortos?” — Surata 75:1, 3, 6, 40.
Segundo o Qur’ān, a alma pode ter diferentes destinos, que pode ser um jardim celestial paradísico ou a punição num inferno ardente. Como diz o Qur’ān: “Perguntam: Quando chegará o Dia do Juízo Final? Será o dia em que forem torturados no fogo! Ser-lhes-á dito: Sofrei a vossa tortura! Eis aqui o que pretendestes urgir!” (Surata 51:12-14) “Sofrerão [os pecadores] um castigo na vida terrena; porém, o do outro mundo será mais severo ainda e não terão defensor algum ante Deus [Alá].” (Surata 13:34) Pergunta-se: “E que é que te fará entender isso? É o fogo ardente!” (Surata 101:10, 11) Esse pavoroso destino é descrito em detalhes: “Quanto àqueles que negam Nossos versículos, introduzi-los-emos no fogo infernal. Cada vez que sua pele se tiver queimado, trocá-la-emos por outra, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Deus [Alá] é Poderoso, Prudentíssimo.” (Surata 4:56) Outra descrição declara: “Em verdade, o inferno será uma emboscada . . . onde permanecerão séculos, até milênios, em que não provarão do frescor nem de (qualquer) bebida, a não ser água fervente e uma paralisante beveragem.” — Surata 78:21, 23-25.
Os muçulmanos crêem que a alma dos falecidos vai para o Barzakh, ou “Barreira”, “o lugar ou estado em que as pessoas estarão após a morte e antes do Julgamento”. (Surata 23:99, 100, AYA, nota) A alma está cônscia ali, sofrendo o que se chama de “Punição do Túmulo” se a pessoa foi má, ou desfrutando a felicidade, se foi fiel. Mas, os fiéis também têm de sofrer algum tormento por causa de seus poucos pecados enquanto estavam vivos. No dia de juízo, cada qual encara seu destino eterno, que finda aquele estado intermediário.
Em contraste, aos justos se promete jardins celestiais paradísicos: “Quanto aos crentes que praticam o bem, introduzi-los-emos em jardins abaixo dos quais correm rios, em que morarão eternamente.” (Surata 4:57) “Naquele dia os moradores do Paraíso em nada pensarão a não ser na sua felicidade. Junto com suas esposas, reclinar-se-ão sob arvoredos sombreados em sofás macios.” (Surata 36:55, 56, NJD) “Antes disso Nós escrevemos nos Salmos, depois da Mensagem (dada a Moisés): ‘Meus servos, os justos, herdarão a terra.’” A nota sobre essa surata remete o leitor para o Salmo 25:13 e 37:11, 29 e às palavras de Jesus em Mateus 5:5. (Surata 21:105, AYA) A menção de esposas leva-nos agora à outra pergunta.
Monogamia ou Poligamia?
É a poligamia a regra entre os muçulmanos? Embora o Qur’ān permita a poligamia, muitos muçulmanos têm apenas uma esposa. Devido às numerosas viúvas resultantes de custosas batalhas, o Qur’ān fez concessão para a poligamia: “Se temerdes ser injustos para com as órfãs, podereis desposar duas, três, ou quatro das que vos aprouver entre outras mulheres. Mas, se temerdes não poder ser equitativos para com estas, casai, então, com uma só, ou conformai-vos com o que está ao alcance de vossas mãos.” (Surata 4:3) Uma biografia de Maomé, feita por Ibn-Hisham, diz que Maomé casou-se com uma viúva rica, Cadidja, 15 anos mais velha do que ele. Depois que ela morreu, Maomé casou-se com muitas mulheres. Ao morrer, deixou nove viúvas.
Outra forma de casamento no islamismo é chamada de mutah. É definido como “contrato especial celebrado entre um homem e uma mulher através da oferta e aceitação de casamento por um período limitado e com dote especificado, semelhante ao contrato para casamento permanente”. (Islamuna, de Mustafá al-Rafafii, em inglês) Os sunitas chamam-no de casamento por prazer, e os xiitas, um casamento a ser encerrado num período específico. Diz a mesma fonte: “Os filhos [de tais casamentos] são legítimos e têm os mesmos direitos que os filhos de um casamento permanente.” Parece que essa forma de casamento temporário era praticada nos dias de Maomé, e ele permitiu que continuasse. Os sunitas insistem que foi proibida mais tarde, ao passo que os imamis, o maior grupo xiita, crê que ainda vigora. Muitos, efetivamente, o praticam, em especial quando um homem se ausenta de sua esposa por um longo período.
O Islamismo e a Vida Diária
O islamismo envolve cinco principais obrigações e cinco crenças básicas. Uma das obrigações é que os muçulmanos devotos orem (salat) cinco vezes por dia, voltados para Meca. No sábado muçulmano (sexta-feira), os homens afluem à mesquita para oração ao ouvirem o chamado do muezim, do alto do minarete da mesquita. Hoje em dia, muitas mesquitas tocam uma gravação, em vez de fazerem uma chamada de viva voz.
Mesquita (masjid, em árabe) é o local de adoração dos muçulmanos, chamado pelo Rei Fahd Bin Abdul Aziz, da Arábia Saudita, de “pedra fundamental para invocar a Deus”. Definiu a mesquita como “local de oração, estudo, atividades legais e judiciais, consultas, pregação, orientação, educação e preparação. . . . A mesquita é o coração da sociedade muçulmana”. Esses locais de adoração se encontram agora em todo o mundo. Um dos mais famosos na história é a Mezquita (Mesquita) de Córdoba, Espanha, que por séculos era a maior do mundo. A sua parte central é agora ocupada por uma catedral católica.
Conflitos com a Cristandade e no Seio Desta
A partir do sétimo século, o islamismo expandiu-se para o oeste, à África do Norte, para o leste, ao Paquistão, à Índia, ao Bangladesh, e até a Indonésia. (Veja mapa, na guarda no início do livro.) Ao assim fazer, entrou em conflito com a militante Igreja Católica, que organizou Cruzadas para recuperar dos muçulmanos a Terra Santa. Em 1492, a rainha Isabel e o rei Fernando, da Espanha, completaram a reconquista católica da Espanha. Os muçulmanos e os judeus tinham de converter-se, sob pena de serem expulsos da Espanha. A tolerância mútua que existira sob o domínio muçulmano na Espanha mais tarde se evaporou sob a influência da Inquisição católica. Contudo, os islamismo sobreviveu e, no século 20, tem experimentado um ressurgimento e grande crescimento.
Enquanto o islamismo se expandia, a Igreja Católica enfrentava sua própria inquietação, tentando manter a união em suas fileiras. Mas, duas poderosas influências estavam para irromper em cena, e elas destroçariam ainda mais a imagem monolítica dessa igreja. Tratava-se da imprensa e da Bíblia na língua do povo. O próximo capítulo abordará a fragmentação adicional da cristandade sob estas e outras influências.
Notas de rodapé
“Qur’ān” (que significa “Recitação”) é a grafia preferida por escritores muçulmanos, e é a que usaremos aqui. Deve-se notar que o árabe é a língua original do Qur’ān e, em inglês, por exemplo, não existe tradução universalmente aceita. Em português, salvo outra indicação, citaremos do Alcorão Sagrado, de Samir El Hayek. Nas citações, o primeiro número refere-se ao capítulo, ou surata, e o segundo ao versículo.
Os muçulmanos crêem que a Bíblia contém revelações de Deus, mas que algumas foram posteriormente falsificadas.
Assim, o ano muçulmano é dado como AH (latim, Anno Hegirae, ano da fuga) em vez de AD (Anno Domini, ano do Senhor) ou EC (Era Comum).
Sobre o assunto da alma e inferno de fogo, verifique os seguintes textos bíblicos: Gênesis 2:7; Ezequiel 18:4; Atos 3:23.
JUDAISMO
Judaísmo — a busca de Deus através das Escrituras e da tradição
MOISÉS, Jesus, Mahler, Marx, Freud e Einstein — o que todos eles tinham em comum? Todos eram judeus e, de diferentes maneiras, influíram na história e na cultura da humanidade. Bem obviamente, os judeus têm estado em evidência por milhares de anos. A própria Bíblia é um testemunho disso.
Diferente de outras antigas religiões e culturas, o judaísmo tem suas raízes na história, não na mitologia. Mas, alguns talvez perguntem: Sendo os judeus uma minoria tão pequena, uns 18 milhões num mundo de mais de 5 bilhões de pessoas, por que nos deveríamos interessar pela sua religião, o judaísmo?
Por Que o Judaísmo Deve Interessar-nos?
Uma razão é que as raízes da religião judaica remontam a cerca de 4.000 anos na história, e outras grandes religiões estão endividadas para com suas Escrituras, em maior ou menor grau. (Veja quadro, página 220.) O cristianismo, fundado por Jesus (hebraico: Ye·shú·a‛), um judeu do primeiro século, tem suas raízes nas Escrituras Hebraicas. E, como a simples leitura do Qur’ān (Alcorão) mostrará, o islamismo também deve muito a essas escrituras. (Qur’ān, surata 2:49-57; 32:23, 24) Assim, ao examinarmos a religião judaica, examinamos também as raízes de centenas de outras religiões e seitas.
Uma segunda e vital razão é que a religião judaica provê o homem de um elo essencial na sua busca do Deus verdadeiro. Segundo as Escrituras Hebraicas, Abrão, o antepassado dos judeus, já adorava o Deus verdadeiro aproximadamente 4.000 anos atrás. Razoavelmente, perguntamos: Como foi que surgiram os judeus e a sua fé? — Gênesis 17:18.
Como Se Originaram os Judeus?
Falando-se de modo geral, o povo judeu descende de um antigo ramo da raça semítica, de língua hebraica. (Gênesis 10:1, 21-32; 1 Crônicas 1:17-28, 34; 2:1, 2) Uns 4.000 anos atrás, seu antepassado Abrão emigrou da próspera metrópole de Ur dos Caldeus, na Suméria, para a terra de Canaã, sobre a qual Deus declarara: “Vou aquinhoar essa terra à tua descendência.” (Gênesis 11:31-12:7) Fala-se dele como “Abrão, o hebreu”, em Gênesis 14:13, embora seu nome tenha sido mais tarde mudado para Abraão. (Gênesis 17:4-6)
A partir dele os judeus traçam uma linha de descendentes que começa com seu filho Isaque e seu neto Jacó, cujo nome foi mudado para Israel. (Gênesis 32:27-29) Israel tinha 12 filhos homens, que se tornaram os fundadores das 12 tribos. Um destes era Judá, de cujo nome posteriormente se derivou a palavra “judeu”. — 2 Reis 16:6.
Com o tempo, o termo “judeu” foi aplicado a todos os israelitas, não apenas a um descendente de Judá. (Ester 3:6; 9:20) Visto que os registros genealógicos judaicos foram destruídos em 70 EC, quando os romanos arrasaram Jerusalém, nenhum judeu hoje pode corretamente determinar de que tribo descende. Não obstante, no decorrer dos milênios, a antiga religião judaica se desenvolveu e mudou. Hoje, o judaísmo é praticado por milhões de judeus na República de Israel e na Diáspora (dispersão por todo o mundo). Qual é a base dessa religião?
Moisés, a Lei e a Nação
Em 1943 AEC, Deus escolheu Abrão para ser seu servo especial e mais tarde fez-lhe um solene juramento devido à sua fidelidade em dispor-se a oferecer seu filho Isaque em sacrifício, ainda que esse sacrifício não se consumasse. (Gênesis 12:1-3; 22:1-14) Naquele juramento, Deus disse: “Juro por Mim Mesmo, o SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH] declara: Por teres feito isto, e não teres negado teu filho, teu dileto, dar-te-ei Minha bênção e farei teus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu . . . Todas as nações da terra se abençoarão a si mesmas por meio de teus descendentes [“semente”, Al, rev. e corr.], porque obedeceste a Minha ordem.” Este voto juramentado foi repetido ao filho e ao neto de Abraão, passando então à tribo de Judá e à linhagem de Davi. Este conceito estritamente monoteísta de um Deus pessoal tendo tratos diretos com humanos era ímpar naquele mundo antigo, e veio a formar a base da religião judaica. — Gênesis 22:15-18; 26:3-5; 28:13-15; Salmo 89:4, 5, 29, 30, 36, 37 (Salmo 89:3, 4, 28, 29, 35, 36, NM).
Para cumprir suas promessas feitas a Abraão, Deus lançou o fundamento para uma nação firmando um pacto especial com os descendentes de Abraão. Este pacto foi instituído por meio de Moisés, o grande líder hebreu e mediador entre Deus e Israel. Quem era Moisés, e por que é ele tão importante para os judeus? O relato bíblico de Êxodo nos diz que ele nasceu no Egito (1593 AEC) de pais israelitas que eram escravos no cativeiro junto com o restante de Israel. Foi ele “a quem o SENHOR escolheu” para conduzir o Seu povo à liberdade em Canaã, a Terra Prometida. (Deuteronômio 6:23; 34:10) Moisés cumpriu o papel vital de mediador do pacto da Lei dado por Deus a Israel, além de ser seu profeta, juiz, líder e historiador. — Êxodo 2:1-3:22.
A Lei que Israel aceitou consistia em Dez Palavras, ou Mandamentos, e mais de 600 leis que formavam um extensivo código de diretrizes e orientações para a conduta diária. (Veja quadro, página 211.) Envolvia o temporal e o sagrado — os requisitos físicos e morais, bem como a adoração de Deus.
Este pacto da Lei, ou constituição religiosa, deu forma e substância à fé dos patriarcas. Em resultado, os descendentes de Abraão se tornaram uma nação dedicada ao serviço de Deus. Assim, a religião judaica começou a tomar contornos definidos, e os judeus se tornaram uma nação organizada para a adoração e o serviço de seu Deus. Em Êxodo 19:5, 6, Deus lhes prometeu: “Se Me obedecerdes fielmente e guardardes Meu pacto, . . . sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” Assim, os israelitas tornar-se-iam um ‘povo escolhido’ para servir aos propósitos de Deus.
Contudo, o cumprimento das promessas do pacto estava sujeito à condição “se Me obedecerdes”. Essa nação dedicada estava então obrigada para com seu Deus. Assim, numa data posterior, (oitavo século AEC), Deus podia dizer aos judeus: “Minhas testemunhas sois vós — declara o SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH] — Meu servo, a quem escolhi.” — Isaías 43:10, 12.
Uma Nação com Sacerdotes, Profetas e Reis
Enquanto a nação de Israel ainda estava no deserto e rumando para a Terra Prometida, foi estabelecido um sacerdócio na linhagem do irmão de Moisés, Arão. Uma grande tenda portátil, ou tabernáculo, tornou-se o centro da adoração e dos sacrifícios israelitas. (Êxodo, capítulos 26-28) Com o tempo, a nação de Israel chegou à Terra Prometida, Canaã, e conquistou-a, como Deus ordenara. (Josué 1:2-6)
Por fim foi estabelecido um reinado terrestre e, em 1077 AEC, Davi, da tribo de Judá, tornou-se rei. Com o seu governo, tanto o reinado como o sacerdócio foram firmemente estabelecidos num novo centro nacional, Jerusalém. — 1 Samuel 8:7.
Depois da morte de Davi, seu filho Salomão construiu um magnífico templo em Jerusalém, que substituiu o tabernáculo. Visto que Deus fizera um pacto com Davi, de que o reinado permaneceria para sempre na sua linhagem, entendia-se que um Rei ungido, o Messias, viria algum dia da linhagem de descendentes de Davi. As profecias indicavam que através desse Rei messiânico, ou “semente”, Israel e todas as nações teriam um governo perfeito. (Gênesis 22:18, Al) Esta esperança criou raízes, e a natureza messiânica da religião judaica tornou-se claramente cristalizada. — 2 Samuel 7:8-16; Salmo 72:1-20; Isaías 11:1-10; Zacarias 9:9, 10.
Contudo, os judeus deixaram-se influenciar pela falsa religião dos cananeus e de outras nações ao redor. Em resultado, eles violaram sua relação pactuada com Deus. Para corrigi-los e guiá-los de volta, Jeová enviou uma série de profetas que transmitiram as Suas mensagens ao povo. Assim, as profecias se tornaram outro aspecto ímpar da religião dos judeus e constituem grande parte das Escrituras Hebraicas. De fato, 18 livros das Escrituras Hebraicas têm nome de profeta. — Isaías 1:4-17.
Entre tais profetas se destacam Isaías, Jeremias e Ezequiel, que avisaram a respeito da iminente punição que Jeová traria contra a nação por causa de sua adoração idólatra. Essa punição ocorreu em 607 AEC quando, devido à apostasia de Israel, Jeová permitiu que Babilônia, a então potência mundial dominante, derrubasse Jerusalém e seu templo e levasse a nação ao cativeiro. De modo que os profetas estavam certos no que haviam predito, e o exílio de 70 anos de Israel, abrangendo a maior parte do sexto século AEC, é assunto de registro histórico. — 2 Crônicas 36:20, 21; Jeremias 25:11, 12; Daniel 9:2.
Em 539 AEC, Ciro, o persa, derrotou Babilônia e permitiu que os judeus reocupassem a sua terra e reconstruíssem o templo em Jerusalém. Embora um restante reagisse favoravelmente, a maioria dos judeus permaneceu sob a influência da sociedade babilônica. Mais tarde, os judeus foram afetados pela cultura persa. Assim, surgiram colônias judaicas no Oriente Médio e em volta do Mediterrâneo. Em cada comunidade veio a existir uma nova forma de adoração que envolvia a sinagoga, um centro congregacional para os judeus em cada cidade. Naturalmente, esse arranjo diminuiu a ênfase no templo reconstruído em Jerusalém. Os amplamente dispersos judeus eram agora realmente uma Diáspora. — Esdras 2:64, 65.
O Judaísmo Emerge com um Manto Grego
Por volta do quarto século AEC, a comunidade judaica estava em estado de fluxo, à mercê das ondas duma cultura não-judaica que engolfava o mundo mediterrâneo e além. As águas emanavam da Grécia, e o judaísmo emergiu delas com um manto helênico.
Em 332 AEC, o general grego Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio numa vitória relâmpago e foi bem-recebido pelos judeus quando chegou à Jerusalém. Os sucessores de Alexandre continuaram seu plano de helenização, imbuindo todas as partes do império com a língua, a cultura e a filosofia gregas. Em resultado, as culturas grega e judaica passaram por um processo de fusão que viria a ter surpreendentes resultados.
Os judeus da Diáspora passaram a falar grego em vez de hebraico. Assim, por volta do começo do terceiro século AEC, foi iniciada a primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, chamada de Septuaginta, e, através dela, muitos gentios passaram a respeitar a religião dos judeus e a familiarizar-se com ela, alguns até mesmo se convertendo. Os judeus, por outro lado, tornavam-se entendidos em pensamento grego e alguns até mesmo tornaram-se filósofos, algo inteiramente novo para os judeus. Um exemplo é Filo de Alexandria, do primeiro século EC, que tentou explicar o judaísmo em termos de filosofia grega, como se os dois expressassem as mesmas derradeiras verdades.
Resumindo esse período de reciprocidade entre as culturas grega e judaica, o autor judeu Max Dimont diz: “Enriquecidos com o pensamento platônico, a lógica aristotélica e a ciência euclidiana, os peritos judeus passaram a considerar a Tora com novos instrumentos . . . Adicionaram a lógica grega à revelação judaica.” Os eventos que ocorreriam sob o domínio romano, que absorveu o Império Grego, e daí Jerusalém, no ano 63 AEC, pavimentariam o caminho para mudanças ainda mais significativas.
O Judaísmo sob o Domínio Romano
O judaísmo do primeiro século da Era Comum se encontrava num estágio ímpar. Max Dimont diz que estava espremido entre “a mente da Grécia e a espada de Roma”. As expectativas judaicas eram elevadas, devido à opressão política e às interpretações de profecias messiânicas, especialmente as de Daniel. Os judeus estavam divididos em facções. Os fariseus frisavam uma lei oral (veja quadro, página 221), em vez de sacrifícios no templo. Os saduceus enfatizavam a importância do templo e do sacerdócio. E havia ainda os essênios, os zelotes e os herodianos. Havia desacordo entre todos, religiosa e filosoficamente. Líderes judeus eram chamados de rabinos (mestres, instrutores), os quais, por causa de seu conhecimento da Lei, aumentaram em prestígio e se tornaram um novo tipo de líderes espirituais.
No entanto, as divisões internas e externas do judaísmo continuaram, especialmente na terra de Israel. Por fim, irrompeu rebelião aberta contra Roma e, em 70 EC, tropas romanas sitiaram Jerusalém, desolaram a cidade, queimaram totalmente o seu templo e dispersaram seus habitantes. Por fim, Jerusalém foi decretada uma área totalmente vedada aos judeus. Sem templo, sem terra, com seu povo disperso por todo o Império Romano, o judaísmo necessitava de uma nova expressão religiosa para sobreviver.
Com a destruição do templo, os saduceus desapareceram, e a lei oral que os fariseus haviam promovido tornou-se a peça central de um novo judaísmo rabínico. Estudos mais intensos, oração e obras de piedade substituíram os sacrifícios no templo e as peregrinações. Assim, o judaísmo podia ser praticado em qualquer lugar, em qualquer ocasião, em qualquer ambiência cultural. Os rabinos assentaram por escrito essa lei oral, além de lhe adicionarem comentários, e daí comentários aos comentários, tudo o que, em conjunto, tornou-se conhecido como Talmude. — Veja quadro, páginas 220-1.
O que resultou dessas variadas influências? Max Dimont diz em seu livro Jews, God and History (Os Judeus, Deus e a História) que, embora os fariseus carregassem a tocha da ideologia e religião judaicas, “a tocha em si havia sido acesa pelos filósofos gregos”. Ao passo que grande parte do Talmude era altamente legalista, suas ilustrações e explanações refletiam a clara influência da filosofia grega. Por exemplo, conceitos religiosos gregos, como a alma imortal, foram expressos em termos judaicos. De fato, nessa nova era rabínica, a veneração do Talmude — na época já uma fusão de filosofia legalista e grega — aumentou entre os judeus até que, por volta da Idade Média, o Talmude veio a ser reverenciado pelos judeus mais do que a própria Bíblia.
O Judaísmo na Idade Média
Durante a Idade Média (de cerca de 500 a 1500 EC), surgiram duas diferentes comunidades judaicas — os judeus sefárdicos, que floresceram sob o domínio muçulmano na Espanha, e os judeus asquenazes, na Europa Central e Oriental. Ambas as comunidades produziram peritos rabínicos, cujos escritos e pensamentos formam a base para a interpretação religiosa judaica até os dias de hoje. Curiosamente, muitos dos costumes e práticas religiosas comuns hoje no judaísmo realmente tiveram início na Idade Média. — Veja quadro, página 231.
No século 12, começou uma onda de expulsões de judeus de vários países. Conforme o escritor israelense Abba Eban explica em Meu Povo — A História dos Judeus (em inglês): “Em todos os países . . . submetidos à influência unilateral da Igreja Católica, a história é a mesma: horrível degradação, tortura, matança e expulsão.” Por fim, em 1492, a Espanha, que mais uma vez viera a estar sob domínio católico, seguiu o exemplo e ordenou a expulsão de todos os judeus de seu território. Assim, por volta do fim do século 15, os judeus haviam sido expulsos de praticamente toda a Europa Ocidental, fugindo para a Europa Oriental e países em volta do Mediterrâneo.
Durante os séculos de opressão e perseguição, muitos auto-proclamados Messias surgiram entre os judeus em diferentes partes do mundo, todos eles recebendo um certo grau de aceitação, mas terminando em desilusão. Por volta do século 17, faziam-se necessárias novas iniciativas para revigorar os judeus e tirá-los desse período obscuro. Em meados do século 18, surgiu uma resposta ao desespero que o povo judeu sentia. Era o hassidismo, (veja quadro, página 226), uma mistura de misticismo e êxtase religiosa na devoção e atividades diárias. Em contraste, por volta da mesma época, o filósofo Moisés Mendelssohn, um judeu-alemão, ofereceu ainda outra solução, o caminho do Hascalá, ou esclarecimento, que havia de conduzir ao que é historicamente considerado o “Judaísmo Moderno”.
Do “Esclarecimento” ao Sionismo
Segundo Moisés Mendelssohn (1729-86), os judeus seriam aceitos se saíssem de sob as restrições do Talmude e se ajustassem à cultura Ocidental. Em seus dias, ele se tornou um dos judeus mais respeitados pelo mundo gentio. Contudo, renovadas irrupções de violento anti-semitismo no século 19, especialmente na Rússia “cristã”, desiludiram os seguidores do movimento, e muitos então se concentraram em encontrar um refúgio político para os judeus. Rejeitaram a idéia de um Messias pessoal que conduzisse os judeus de volta a Israel e passaram a trabalhar pelo estabelecimento de um Estado judaico através de outros meios. Isto então se tornou o conceito de sionismo: “A secularização do . . . messianismo judaico”, conforme definiu certo estudioso do assunto.
O assassinato de cerca de seis milhões de judeus europeus no Holocausto de inspiração nazista (1935-45) deu ao sionismo seu ímpeto final e granjeou-lhe muita simpatia no mundo todo. O sonho sionista realizou-se em 1948 com o estabelecimento do Estado de Israel, o que nos traz ao judaísmo de nossos dias e à pergunta: Em que crêem os judeus atuais?
Deus É um Só
Dito de maneira simples, o judaísmo é a religião de um povo. Por conseguinte, o converso torna-se parte do povo judeu bem como da religião judaica. É uma religião monoteísta no mais estrito sentido, e sustenta que Deus intervém na história humana, especialmente com relação aos judeus. A adoração judaica envolve várias festividades anuais e diversos costumes. (Veja quadro, páginas 230-1.) Embora não haja credos ou dogmas aceitos por todos os judeus, a confissão da unicidade de Deus, conforme expressa na Shema, uma oração baseada em Deuteronômio 6:4 (JP), é um componente central da adoração na sinagoga: “OUVE, Ó ISRAEL: O SENHOR NOSSO DEUS, O SENHOR É UM SÓ.”
Essa crença num Deus único foi repassada para o cristianismo e para o islamismo. Segundo disse o Dr. J. H. Hertz, um rabino: “Este sublime pronunciamento de absoluto monoteísmo foi uma declaração de guerra contra todo politeísmo . . . Da mesma maneira, a Shema exclui a trindade do credo cristão como violação da Unidade de Deus.” Mas, consideremos a seguir a crença judaica sobre a vida após a morte.
Morte, Alma e Ressurreição
Uma das crenças básicas do moderno judaísmo é a de que o homem tem uma alma imortal que sobrevive à morte do corpo. Mas, origina-se isto da Bíblia? A Enciclopédia Judaica (em inglês) admite francamente: “Foi provavelmente sob a influência grega que a doutrina da imortalidade da alma se introduziu no judaísmo.” Mas isso criou um dilema doutrinal, conforme a mesma fonte declara: “Basicamente, as duas crenças, a ressurreição e a imortalidade da alma, são contraditórias.
A primeira se refere a uma ressurreição coletiva no fim dos dias, i.e., que os mortos que dormem na terra se levantarão da sepultura, ao passo que a outra se refere ao estado da alma após a morte do corpo.” Como foi resolvido esse dilema na teologia judaica? “Sustentava-se que quando o indivíduo morria a sua alma ainda vivia em outro domínio (isto fez surgir todas as crenças a respeito de céu e inferno), ao passo que o seu corpo jazia na sepultura para esperar a ressurreição física de todos os mortos aqui na terra.”
O professor universitário Arthur Hertzberg escreve: “Na própria Bíblia [hebraica] a arena da vida do homem é este mundo. Não existe doutrina de céu e inferno, apenas um crescente conceito de uma derradeira ressurreição dos mortos no fim dos dias.” Trata-se de uma simples e correta explicação do conceito bíblico, a saber, que “os mortos nada sabem . . . Pois não existe ação, nem raciocínio, nem aprendizagem, nem sabedoria no Seol [sepultura comum da humanidade], para onde tu vais”. — Eclesiastes 9:5, 10; Daniel 12:1, 2; Isaías 26:19.
Segundo a Enciclopédia Judaica, “no período rabínico, a doutrina da ressurreição dos mortos é considerada uma das doutrinas centrais do judaísmo” e “deve ser distinguida da crença na . . . imortalidade da alma”. Hoje, contudo, ao passo que a imortalidade da alma é aceita por todas as facções do judaísmo, a ressurreição dos mortos não é.
Em contraste com a Bíblia, o Talmude, influenciado pelo helenismo, está repleto de explanações e histórias e até mesmo de descrições da alma imortal. Posterior literatura mística judaica, a Cabala, vai ao ponto de ensinar a reencarnação (transmigração de almas), que é basicamente um antigo ensinamento hindu. (Veja Capítulo 5.) Atualmente, em Israel, isto é amplamente aceito como ensinamento judaico, e desempenha também um importante papel na crença e na literatura hassídica.
Por exemplo, Martin Buber inclui em seu livro Histórias dos Hassidins — Os Mestres Posteriores (em inglês) uma história a respeito da alma, da escola de Elimeleque, um rabino de Lizhensk: “No Dia de Expiação, quando o rabino Abraão Yehoshua recitava o Avodá, a oração que reproduz o serviço do sumo sacerdote no Templo de Jerusalém, e chegava ao trecho: ‘E assim ele falou’, ele jamais dizia essas palavras, mas sim: ‘E assim eu falei.’ Pois ele não se esquecera do tempo em que a sua alma estava no corpo de um sumo sacerdote em Jerusalém.”
O judaísmo Reformista tem ido ao ponto de rejeitar a crença na ressurreição. Tendo removido essa palavra dos livros de oração reformistas, reconhece apenas a crença na alma imortal. Quão mais claro é o conceito bíblico, conforme expresso em Gênesis 2:7: “O SENHOR Deus formou o homem do pó do solo, e soprou em suas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se uma alma vivente.” (JP) A combinação do corpo e do espírito, ou força de vida, constitui “uma alma vivente”. (Gênesis 2:7; 7:22; Salmo 146:4) Inversamente, quando o humano pecador morre, a alma morre. (Ezequiel 18:4, 20) Assim, ao morrer, o homem cessa de ter qualquer existência consciente. A sua força de vida retorna a Deus que a deu. (Eclesiastes 3:19; 9:5, 10; 12:7) A esperança realmente bíblica para os mortos é a ressurreição — hebraico: tehhi·yáth ham·me·thím, ou “revivificação dos mortos”.
Ao passo que essa conclusão talvez surpreenda até mesmo muitos judeus, a ressurreição tem sido a esperança real de adoradores do verdadeiro Deus por milhares de anos. Uns 3.500 anos atrás, o fiel e sofredor Jó falou de um tempo futuro em que Deus o levantaria do Seol, ou sepultura. (Jó 14:14, 15) O profeta Daniel também recebeu a garantia de que seria levantado “no fim dos dias”. — Daniel 12:2, 12 (13, JP; NM).
Não há base nas Escrituras para se dizer que aqueles fiéis hebreus criam ter uma alma imortal que sobreviveria para um outro mundo. Eles claramente tinham suficientes motivos para crer que o Soberano Senhor, que conta e controla as estrelas do universo, lembrar-se-ia também deles na época da ressurreição. Haviam sido fiéis para com Ele e Seu nome. Ele lhes seria fiel. — Salmo 18:26 (25, NM); 147:4; Isaías 25:7, 8; 40:25, 26.
O Judaísmo e o Nome de Deus
O judaísmo ensina que, ao passo que o nome de Deus existe em forma escrita, é sagrado demais para ser pronunciado. O resultado foi que, no decurso dos últimos 2.000 anos, perdeu-se a pronúncia correta. Todavia, esta nem sempre foi a posição judaica. Uns 3.500 anos atrás, Deus falou a Moisés, dizendo: “Assim dirás aos israelitas: O SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH], o Deus de vossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, enviou-me a vós: Este será Meu nome para sempre, esta Minha designação por toda a eternidade.” (Êxodo 3:15; Salmo 135:13)
Qual era esse nome e designação? A nota de rodapé na Tanakh diz: “O nome YHWH (tradicionalmente lido Adonai “o SENHOR”) tem ligação aqui com a raiz hayah, ‘ser’.” Assim, temos aqui o sagrado nome de Deus, o Tetragrama, as quatro consoantes hebraicas YHWH (Yahweh) que, na sua forma latinizada, vieram a ser conhecidas ao longo dos séculos em português como JEOVÁ (JEHOVAH).
No decorrer da história, os judeus sempre deram grande importância ao nome pessoal de Deus, embora a ênfase no uso tenha mudado drasticamente desde os tempos antigos. Como diz o Dr. A. Cohen em Everyman’s Talmud (O Talmude de Todos): “Reverência especial [era] atribuída ao ‘Nome distintivo’ (Shem Hamephorash) da Deidade que Ele revelara ao povo de Israel, a saber, o tetragrama, JHVH.” O nome divino era reverenciado porque representava e caracterizava a própria pessoa de Deus. Afinal, foi o próprio Deus quem anunciou seu nome e disse a seus adoradores que o usassem. Isto é enfatizado pelo fato de o nome aparecer na Bíblia Hebraica 6.828 vezes. Judeus devotos, porém, acham ser desrespeitoso pronunciar o nome pessoal de Deus.
A respeito da antiga injunção rabínica (não bíblica) contra pronunciar o nome, A. Marmorstein, um rabino, escreveu em seu livro The Old Rabbinic Doctrine of God (A Antiga Doutrina Rabínica Sobre Deus): “Houve tempo em que essa proibição [de usar o nome divino] era inteiramente desconhecida entre os judeus . . . Nem no Egito, tampouco em Babilônia, os judeus conheciam ou guardavam uma lei que proibisse o uso do nome de Deus, o Tetragrama, na conversação comum ou nos cumprimentos. Todavia, do terceiro século AEC até o terceiro século DEC tal proibição existia e era parcialmente observada.”
Não apenas se permitia o uso do nome em tempos anteriores, mas, como diz o Dr. Cohen: “Houve um tempo em que o livre e aberto uso do Nome, mesmo pelo leigo, era defendido . . . Tem-se sugerido que a recomendação baseava-se no desejo de distinguir o israelita do [não-judeu].”
O que foi, então, que causou a proibição do uso do nome divino? O Dr. Marmorstein responde: “A oposição helenística [de influência grega] à religião dos judeus, a apostasia dos sacerdotes e dos nobres, introduziram e estabeleceram a norma de não pronunciar o Tetragrama no Santuário [templo em Jerusalém].” Em seu excessivo zelo de evitar tomar o nome divino em vão, eles suprimiram completamente o seu uso na conversação e subverteram e diluíram a identificação do Deus verdadeiro. Sob a combinada pressão de oposição e apostasia religiosas, o nome divino caiu em desuso entre os judeus.
Contudo, como diz o Dr. Cohen: “No período bíblico parece não ter havido escrúpulo algum contra o uso [do nome divino] na linguagem cotidiana.” O patriarca Abraão “invocou o SENHOR por nome”. (Gênesis 12:8) A maioria dos escritores da Bíblia hebraica, liberal, mas respeitosamente, usou o nome, até a escrita de Malaquias, no quinto século AEC. — Rute 1:8, 9, 17.
É bastante claro que os antigos hebreus efetivamente usavam e pronunciavam o nome divino. Marmorstein admite a respeito da mudança ocorrida mais tarde: “Pois neste tempo, na primeira metade do terceiro século [AEC], nota-se uma grande mudança no uso do nome de Deus, que provocou muitas mudanças na doutrina teológica e filosófica judaica, cujas influências se fazem sentir até os dias de hoje.” Um dos efeitos da perda do nome é que o conceito de um Deus anônimo ajudou a criar um vácuo teológico no qual a doutrina da Trindade, da cristandade, se desenvolveu com mais facilidade. — Êxodo 15:1-3.
A recusa de usar o nome divino enfraquece a adoração do Deus verdadeiro. Como disse certo comentarista: “Infelizmente, quando se refere a Deus como ‘o Senhor’, a expressão, embora correta, é fria e sem graça . . . Deve-se lembrar que, ao se traduzir YHWH ou Adonai por ‘o Senhor’, está-se introduzindo em muitas passagens do Velho Testamento um toque de abstração, de formalidade e de vagueza inteiramente estranho ao texto original.” (O Conhecimento de Deus no Antigo Israel [em inglês]) Quão triste é ver o sublime e significativo nome Yahweh, ou Jeová, omitido em muitas traduções da Bíblia, considerando que ele aparece claramente milhares de vezes no texto hebraico original! — Isaías 43:10-12.
Os Judeus Ainda Aguardam o Messias?
Há muitas profecias nas Escrituras Hebraicas das quais os judeus de há mais de 2.000 anos derivaram a sua esperança messiânica. Segundo Samuel 7:11-16 indicava que o Messias seria da linhagem de Davi. Isaías 11:1-10 profetizou que ele traria justiça e paz a toda a humanidade. Daniel 9:24-27 forneceu a cronologia para o surgimento do Messias e ser ele decepado na morte.
Como explica a Enciclopédia Judaica, por volta do primeiro século, as expectativas messiânicas eram intensas. Esperava-se que o Messias fosse “um carismático descendente de Davi, que os judeus do período romano acreditavam seria suscitado por Deus para quebrar o jugo dos pagãos e reinar sobre um restaurado reino de Israel”. Mas, o militante Messias que os judeus esperavam não apareceu.
Não obstante, como diz a Nova Enciclopédia Britânica, a esperança messiânica era vital para manter o povo judeu unido através de suas muitas provações: “O judaísmo indubitavelmente deve a sua sobrevivência, em grande parte, à sua firme fé na promessa messiânica e no futuro.” Mas, com o surgimento do moderno judaísmo entre os séculos 18 e 19, muitos judeus deixaram de esperar passivamente por um Messias. Por fim, com o Holocausto de inspiração nazista, muitos perderam a paciência e a esperança. Passaram a encarar a mensagem messiânica como fator negativo e, portanto, reinterpretaram-na meramente como nova era de prosperidade e paz. Desde então, embora haja exceções, dificilmente se pode dizer que os judeus, como um todo, aguardem um Messias pessoal.
Esta mudança para uma religião não-messiânica suscita graves perguntas. Estava o judaísmo errado por milhares de anos em crer que o Messias seria um indivíduo? Que forma de judaísmo ajudará a pessoa na sua busca de Deus? Seria o judaísmo antigo, com seus adornos de filosofia grega? Ou uma das formas de judaísmo não-messiânico que se desenvolveram nos últimos 200 anos? Ou existe ainda outro caminho que, fiel e corretamente, preserva a esperança messiânica?
Com estas perguntas em mente, sugerimos que os judeus sinceros reexaminem o assunto do Messias por investigarem as afirmações a respeito de Jesus de Nazaré, não como a cristandade o tem representado, mas sim como os escritores judeus das Escrituras Gregas o apresentaram. Existe uma grande diferença. As religiões da cristandade têm contribuído para que os judeus rejeitassem a Jesus, por causa da sua não-bíblica doutrina da Trindade, claramente inaceitável para qualquer judeu que preza o ensinamento puro de que “O SENHOR NOSSO DEUS, O SENHOR É UM SÓ”. (Deuteronômio 6:4, JP)
Notas de rodapé
Veja Gênesis 5:22-24, Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas — com Referências, segunda nota sobre o versículo 22.
Todas as citações neste capítulo, salvo outra indicação, são da moderna (1985) Tanakh, Uma Nova Tradução das Escrituras Sagradas (em inglês), por peritos da Sociedade Publicadora Judaica.
A cronologia apresentada aqui se baseia no texto bíblico como autoridade. (Veja o livro “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”, publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, Estudo 3, “Consideração dos Eventos na Corrente do Tempo”.)
O historiador judeu do primeiro século, Yoseph ben Mattityahu (Flávio Josefo) conta que quando Alexandre chegou a Jerusalém, os judeus abriram-lhe os portões e mostraram-lhe a profecia do livro de Daniel, escrita mais de 200 anos antes, que claramente descrevia as conquistas de Alexandre como ‘o Rei da Grécia’. — Jewish Antiquities (Antiguidades Judaicas), Livro XI, Capítulo VIII 5; Daniel 8:5-8, 21.
Durante o período dos Macabeus (Hasmoneanos, de 165 a 63 AEC), líderes judeus tais como João Hircano até mesmo forçaram a conversão ao judaísmo em larga escala, pela conquista militar. É de interesse que, no começo da Era Comum, 10 por cento do mundo mediterrâneo era judaico. Essa porcentagem mostra claramente o impacto do proselitismo judaico.
Segundo a Nova Enciclopédia Britânica (em inglês): “O credo trinitarista do cristianismo . . . coloca-o à parte das duas outras clássicas religiões monoteístas [judaísmo e islamismo].” A Trindade foi desenvolvida pela igreja muito embora “a Bíblia dos cristãos não inclua afirmações a respeito de Deus que sejam especificamente trinitaristas”.
Em adição à autoridade bíblica, foi ensinada como artigo de fé na Míxena (Sinédrio 10:1) e foi incluída como o último dos 13 princípios de fé de Maimônides. Até a chegada do século 20, negar a ressurreição era encarado como heresia.
“A Bíblia não diz que nós temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” — Dr. H. M. Orlinsky, da Universidade União Hebraica (EUA).
Veja Êxodo 6:3, onde, na versão Tanakh da Bíblia, o Tetragrama hebraico aparece no texto em inglês.
A Enciclopédia Judaica diz: “A escusa de pronunciar o nome YHWH é . . . causada por uma má compreensão do Terceiro Mandamento (Êxo. 20:7; Deut. 5:11), como se significasse ‘Não deves tomar o nome de YHWH teu Deus em vão’, quando realmente significa ‘Não deves jurar falsamente em nome de YHWH, teu Deus.’”
George Howard, professor-adjunto de religião e hebraico na Universidade da Geórgia (EUA), diz: “Com o tempo, essas duas figuras [Deus e Cristo] foram trazidas a uma unidade ainda mais íntima, até que não raro era impossível fazer uma distinção entre elas. Assim, pode ser que a remoção do Tetragrama contribuiu significativamente para posteriores debates cristológicos e trinitários que assolaram a igreja nos primeiros séculos. Qualquer que seja o caso, a remoção do Tetragrama provavelmente criou um clima teológico diferente do que existia durante o período do Novo Testamento, no primeiro século.” — Biblical Archaeology Review, março de 1978.
Judaísmo — Uma Religião de Muitas Vozes
Existem importantes diferenças entre as várias facções do judaísmo. Tradicionalmente, o judaísmo enfatiza a prática religiosa. Debates sobre tais assuntos, em vez de sobre crenças, têm causado séria tensão entre os judeus e levou à formação de três principais divisões no judaísmo.
JUDAÍSMO ORTODOXO — Este ramo não apenas aceita que a “Tanakh” hebraica sejam as Escrituras inspiradas, como também crê que Moisés recebeu a lei oral de Deus no monte Sinai na mesma ocasião em que recebeu a Lei escrita. Judeus ortodoxos guardam escrupulosamente os mandamentos de ambas as leis. Crêem que o Messias ainda está para vir e levar Israel a uma era de ouro. Devido a diferenças de opinião entre o grupo ortodoxo, surgiram várias facções. Um exemplo é o hassidismo.
Hassidins (Chassidins, significando “os pios”) — São encarados como ultra-ortodoxos. Fundada por Israel ben Eliezer, conhecido como Baʽal Shem Tov (“Mestre do Bom Nome”), em meados do século 18 na Europa Oriental, seus adeptos seguem um ensino que destaca a música e a dança, resultando em alegria mística. Muitas de suas crenças, incluindo a reencarnação, baseiam-se nos livros místicos judaicos conhecidos como Cabala. Hoje são liderados por rebbes (“rabinos” em iídiche), ou tzádiks, considerados por seus seguidores como homens supremamente justos ou santos.
Os hassidins hoje são encontrados principalmente nos Estados Unidos e em Israel. Eles usam um tipo especial de vestimenta européia oriental, predominantemente preta, dos séculos 18 e 19, que os torna muito conspícuos, especialmente no cenário duma cidade moderna. Atualmente estão divididos em seitas que seguem diferentes destacados rebbes. Um grupo muito ativo são os Lubavitchers, que fazem vigoroso proselitismo entre judeus. Alguns grupos crêem que apenas o Messias tem o direito de restaurar Israel como nação dos judeus e, assim, opõem-se ao Estado secular de Israel.
JUDAÍSMO REFORMISTA (também conhecido como “Liberal” e “Progressista”) — O movimento começou na Europa Ocidental, perto do começo do século 19. Baseia-se nos conceitos de Moisés Mendelssohn, intelectual judeu do século 18, que cria que os judeus deviam assimilar a cultura ocidental, em vez de se separarem dos gentios. Os judeus reformistas negam que a Tora seja a verdade revelada por Deus. Consideram obsoletas as leis judaicas sobre dieta, pureza e vestimenta. Crêem no que chamam de “era messiânica de fraternidade universal”. Em anos recentes, têm voltado a um judaísmo mais tradicional.
JUDAÍSMO CONSERVADOR — Este começou na Alemanha, em 1845, como ramificação do Judaísmo Reformista, que, segundo se pensava, rejeitara um número excessivamente grande de práticas judaicas tradicionais. O judaísmo conservador não aceita que a lei oral tenha sido recebida por Moisés, da parte de Deus, mas sustenta que os rabinos, que tentaram adaptar o judaísmo a uma nova era, inventaram a Tora oral. Os judeus conservadores submetem-se aos preceitos bíblicos e à lei rabínica se estes “atenderem às exigências modernas da vida judaica”. (O Livro do Conhecimento Judaico [em inglês]) Eles usam o hebraico e o inglês na sua liturgia e seguem estritas leis dietéticas (kashruth). Permite-se que homens e mulheres sentem-se juntos durante a adoração, algo não permitido pelo judaísmo ortodoxo.
Algumas Importantes Festividades e Costumes
A maioria das festividades judaicas baseia-se na Bíblia e são, em geral, quer festividades sazonais, em conexão com diferentes colheitas, quer relacionadas com eventos históricos.
▪ Sabath — O sétimo dia da semana judaica (do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado) é encarado como santificando a semana, e a observância especial desse dia é parte essencial da adoração. Os judeus vão à sinagoga para leituras da Tora e orações. — Êxodo 20:8-11.
▪ Iom Kipur — Dia de Expiação, festividade solene caracterizada por jejum e auto-exame. Culmina os Dez Dias de Penitência que começam com Rosh Hashanah, o Ano-Novo judaico, que cai em setembro, segundo o calendário judaico secular. — Levítico 16:29-31; 23:26-32.
▪ Sucot — Festividade das Tendas, ou Tabernáculos, ou Recolhimento. Comemora a colheita e o fim da maior parte do ano agrícola. Realizada em outubro. (Foto acima) — Levítico 23:34-43; Números 29:12-38; Deuteronômio 16:13-15.
▪ Hanucah — Festividade da Dedicação. Festividade popular realizada em dezembro, que comemora a restauração, pelos macabeus, da independência judaica da dominação siro-grega e a rededicação do templo em Jerusalém, em dezembro de 165 AEC. Em geral destaca-se por se acender velas durante oito dias.
▪ Purim — Festividade das Sortes. Celebrada em fins de fevereiro ou princípios de março, em comemoração da libertação dos judeus na Pérsia, no quinto século AEC, de Hamã e sua trama genocida. — Ester 9:20-28.
▪ Pesach — Festividade da Páscoa. Instituída para comemorar a libertação de Israel do cativeiro no Egito (1513 AEC). É a maior e mais antiga das festividades judaicas. Realizada em 14 de nisã (calendário judaico), em geral cai no fim de março ou começo de abril. Todas as famílias judaicas se reúnem para participar da refeição da Páscoa, ou Seder. Nos sete dias seguintes, não é permitido comer fermento. Este período é chamado de Festividade dos Pães Não-fermentados (Matzot). — Êxodo 12:14-20, 24-27.
Alguns Costumes Judaicos
▪ Circuncisão — Para meninos judeus, é uma importante cerimônia que acontece quando o bebê tem oito dias. Muitas vezes é chamada de Pacto de Abraão, uma vez que a circuncisão foi o sinal do pacto de Deus com ele. Os varões que se convertem ao judaísmo também têm de ser circuncidados. — Gênesis 17:9-14.
▪ Bar Mitzvah (abaixo) — Ainda outro ritual judaico essencial, que literalmente significa “filho do mandamento”, um “termo que denota tanto a obtenção de maturidade religiosa e legal como a ocasião em que esse status é formalmente assumido por meninos à idade de 13 anos mais um dia”. Tornou-se costume judaico apenas no século 15 EC. — Enciclopédia Judaica.
▪ Mezuzá (acima) — Geralmente é fácil de distinguir um lar judaico por causa do mezuzá, ou receptáculo de rolo, afixado na ombreira da porta, à direita de quem entra. Na realidade, o mezuzá é um pequeno pergaminho no qual estão escritas palavras citadas de Deuteronômio 6:4-9 e 11:13-21. Este é enrolado dentro de um pequeno receptáculo. Daí o receptáculo é afixado a cada porta de cada cômodo em uso.
▪ Iármulque (solidéu para varões) — Segundo a Enciclopédia Judaica: “O povo judeu ortodoxo . . . considera a cobertura da cabeça, tanto fora como dentro da sinagoga, como sinal de fidelidade à tradição judaica.” Cobrir a cabeça durante a adoração não é mencionado em parte alguma da Tanakh, assim, o Talmude menciona isso como questão de costume opcional. Mulheres judias hassidianas usam sempre uma cobertura para a cabeça, ou então rapam a cabeça e usam peruca.
QUESTIONAMENTO DE LEITORES
*01- O Profeta Daniel era homossexual? Existem provas nas escrituras Hebraico-Aramaicas da homossexualidade de Daniel* ?
Alguns Judeus dizem que sim. Mencionam o versículo Daniel 1:9 como única prova dessa afirmação.
Na nação de israel era inadmissível a prática de homossexualismo e seria impossível Deus escolher pessoa castrada para servi-lo. Lev. 18:22;
O rei então ordenou a Aspenaz, principal oficial da corte, que trouxesse alguns israelitas, incluindo os de descendência real ou nobre. 4 Deveriam ser jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, dotados de sabedoria, conhecimento e discernimento, capazes de servir no palácio do rei. Ele deveria lhes ensinar a escrita e a língua dos caldeus. 5 Além disso, o rei estipulou para eles uma porção diária das iguarias do rei e do vinho que ele bebia. Eles deveriam ser treinados por três anos, e no fim desse período passariam a servir o rei. 6 Entre eles, havia alguns da tribo de Judá: Daniel, Hananias, Misael e Azarias. 7 E o principal oficial da corte deu-lhes outros nomes: chamou Daniel de Beltessazar, Hananias de Sadraque, Misael de Mesaque, e Azarias de Abednego. 8 Mas Daniel decidiu no coração que não se tornaria impuro com as iguarias do rei nem com o vinho que ele bebia. Assim, pediu ao principal oficial da corte permissão para não consumir essas coisas que o tornariam impuro. 9 *E o verdadeiro Deus fez com que o principal oficial da corte mostrasse favor e misericórdia a Daniel* . 10 Mas o principal oficial da corte disse a Daniel: “Tenho medo do meu senhor, o rei, que estipulou o alimento e a bebida para vocês. E se ele perceber que a aparência de vocês está pior do que a dos outros jovens de sua idade? Por sua causa, eu serei culpado perante o rei.” Daniel 1:3-10 Trad. Novo Mundo
Observe que Daniel era um servo de Deus aprovado por Ele: O rei então ordenou a Aspenaz, principal oficial da corte, que trouxesse alguns israelitas, incluindo os de descendência real ou nobre. 4 Deveriam ser jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, dotados de sabedoria, conhecimento e discernimento, capazes de servir no palácio do rei.
Mas *Daniel decidiu no coração que não se tornaria impuro com as iguarias do rei nem com o vinho que ele bebia. Assim, pediu ao principal oficial da corte permissão para não consumir essas coisas que o tornariam impuro* .
O verdadeiro aprovou seu servo Daniel visivelmente: Daniel 10:11 E ele me disse: “ *Ó Daniel, homem muito precioso, dê atenção às palavras que vou lhe dizer. Agora, fique de pé, pois fui enviado a você* .”
Ezequiel 14:20. Tão certo como eu vivo’, *diz o Soberano Senhor Jeová* , ‘mesmo que Noé, *Daniel* e Jó estivessem nele, não salvariam nem seus filhos nem suas filhas; com a sua justiça, *salvariam apenas a si mesmos* .”
*O MOTIVO DO ÓDIO DOS JUDEUS*
Daniel profetizou a data do surgimento do Messias Jesus na Terra, e compromete a interpretação do Messias Judaico. Daniel 9:24-26.
TAIOÍSMO - CONFUCIONISMO
Taoísmo e Confucionismo — uma busca do caminho do céu
O taoísmo, o confucionismo e o budismo constituem as três principais religiões da China e do Extremo Oriente. Diferente do budismo, porém, o taoísmo e o confucionismo não se tornaram religiões universais, mas têm permanecido basicamente na China e onde quer que a cultura chinesa firmasse sua influência. Embora não existam dados oficiais do número atual de seus seguidores na China, o taoísmo e o confucionismo juntos têm dominado a vida religiosa de cerca de um quarto da população do mundo nos últimos 2.000 anos.
‘QUE cem flores desabrochem; que cem escolas contendam.’ Este ditado, tornado famoso por Mao Tse-tung da República Popular da China num discurso em 1956, era realmente uma paráfrase da expressão que os eruditos chineses têm usado para descrever a era chinesa do quinto ao terceiro séculos AEC, chamada de período dos Estados Combatentes. Nessa época, a poderosa dinastia Chou (c. 1122-256 AEC) se deteriorara num sistema de estados feudais vagamente ligados entre si, que se empenhavam em contínuas guerras, com resultante aflição para o povo.
O tumulto e o sofrimento causados pelas guerras enfraqueceram seriamente a autoridade da classe dominante tradicional. O povo não mais se dispunha a submeter-se aos caprichos e artimanhas da aristocracia e a sofrer silenciosamente as conseqüências. Em resultado, conceitos e aspirações há muito sufocados irromperam como “cem flores”. Diferentes escolas de pensamento promoveram seus conceitos sobre governo, lei, ordem social, conduta e ética, bem como sobre assuntos tais como agricultura, música e literatura, quais meios de restaurar uma medida de normalidade na vida.
Vieram a ser conhecidas como as “cem escolas”. A maioria delas não produziu um efeito duradouro. Duas escolas, porém, se destacaram de tal maneira que têm influenciado a vida na China por mais de 2.000 anos. Eram as que por fim vieram a ser conhecidas como taoísmo e confucionismo.
Tao — O Que É?
Para entender por que o taoísmo e o confucionismo vieram a exercer tão profunda e duradoura influência sobre o povo chinês, bem como sobre o do Japão, da Coréia e de outras nações circunvizinhas, é necessário entender algo do conceito fundamental chinês do Tao. A palavra em si significa “caminho, estrada, ou vereda”.
Por extensão, pode também significar “método, princípio, ou doutrina”. Para os chineses, a harmonia e o funcionamento ordeiro que perceberam no universo eram manifestações do Tao, uma espécie de vontade ou legislação divina que existe no universo e o regula.
Em outras palavras, em vez de crerem num Deus Criador, que controla o universo, eles criam numa providência, uma vontade do céu, ou simplesmente o próprio céu como a causa de tudo.
Aplicando o conceito do Tao a assuntos humanos, os chineses criam que existe um modo natural e correto para realizar todas as coisas, e que tudo e todos têm seu devido lugar e sua devida função. Por exemplo, eles criam que, se o governante cumprisse seus deveres tratando o povo com justiça e cuidando dos rituais sacrificiais pertinentes ao céu, haveria paz e prosperidade para a nação. Similarmente, se as pessoas se dispusessem a buscar o caminho, ou Tao, e o seguissem, tudo seria harmonioso, pacífico e eficiente. Mas, se elas o contrariassem, ou lhe resistissem, o resultado seria o caos e o desastre.
Este conceito de seguir o Tao e não interferir em seu fluxo é um componente central do pensamento filosófico e religioso chinês. Pode-se dizer que o taoísmo e o confucionismo são duas expressões diferentes do mesmo conceito. O taoísmo faz uma abordagem mística, e, em sua forma original, defende a inação, a quietude e a passividade, evitando a sociedade e retornando à natureza. Seu conceito básico é que tudo sairá bem se as pessoas se acomodarem, nada fizerem, e permitirem que a natureza siga seu curso. O confucionismo, por outro lado, faz uma abordagem pragmática.
Ensina que a ordem social será mantida se toda pessoa desempenhar o papel que lhe cabe e cumprir com o seu dever. Para isso, codifica todos os relacionamentos humanos e sociais — governante-súdito, pai-filho, marido-esposa e assim por diante — e fornece diretrizes para todos eles. Naturalmente, isto suscita as seguintes perguntas: Como é que vieram à existência esses dois sistemas? Quem foram seus fundadores? Como são praticados hoje? E o que fizeram para ajudar o homem na sua busca de Deus?
Taoísmo — Um Início Filosófico
Nos seus estágios primitivos, o taoísmo era mais uma filosofia do que uma religião. Seu fundador, Lao-tzu, estava descontente com o caos e o tumulto da época e buscou alívio evitando a sociedade e voltando-se para a natureza. Pouco se sabe sobre esse homem, que teria vivido no sexto século AEC, embora até mesmo isso seja incerto. Era comumente chamado de Lao-tzu, que significa “Velho Mestre”, ou “Velho”, porque, como diz a lenda, sua mãe grávida teve-o por tanto tempo no ventre que, quando nasceu, o cabelo dele já estava branco.
O único registro oficial sobre Lao-tzu aparece em Shih Chi (Registros Históricos), de Ssu-ma Ch’ien, um respeitado historiador palaciano do segundo e primeiro séculos AEC. Segundo essa fonte, o nome verdadeiro de Lao-tzu era Li Ur. Ele servia como escriturário nos arquivos imperiais em Loiang, China central. Contudo, mais significativamente, fornece o seguinte relato a respeito de Lao-tzu:
“Lao Tzu residiu em Chou a maior parte de sua vida. Quando previu a decadência de Chou, ele partiu dali para a fronteira. O funcionário da alfândega Yin Hsi disse: ‘Senhor, visto que te agrada aposentar-te, peço-te, por minha causa, que escrevas um livro.’ Diante disso, Lao Tzu escreveu um livro de duas partes, consistindo de cinco mil e tantas palavras, no qual considerou os conceitos do Caminho [Tao] e do Poder [Te]. Daí, partiu. Ninguém sabe onde ele morreu.”
Muitos eruditos duvidam da autenticidade desse relato. De qualquer modo, o livro produzido é conhecido como Tao Te Ching (geralmente traduzido por “O Clássico do Caminho e do Poder”), sendo considerado o principal texto do taoísmo. É escrito em versos tersos e crípticos, alguns deles com apenas três ou quatro palavras. Por isso, e também porque o significado de alguns caracteres mudou muito desde os dias de Lao-tzu, o livro está sujeito a muitas interpretações.
Breve Visão do “Tao Te Ching”
Em Tao Te Ching, Lao-tzu explica o Tao, o derradeiro caminho da natureza, e aplica-o a todos os níveis de atividade humana. Citamos a seguir de uma moderna tradução, para o inglês, de Gia-fu Feng e Jane English, para termos um relance de Tao Te Ching. Sobre o Tao, diz o seguinte:
“[Existia] algo formado misteriosamente,
Nascido antes do céu e da terra. . . .
Talvez seja a mãe de dez mil coisas.
Não sei o seu nome.
Chame-o de Tao.” — Capítulo 25.
“Todas as coisas surgem do Tao.
São produzidas pela Virtude [Te].
São formadas da matéria.
São moldadas pelo ambiente.
Assim, todas as dez mil coisas respeitam o Tao
e dão honra à Virtude [Te].” — Capítulo 51.
O que podemos deduzir dessas enigmáticas passagens? Que, para os taoístas, o Tao é uma misteriosa força cósmica responsável pelo universo material. O objetivo do taoísmo é procurar o Tao, deixar para trás o mundo, e tornar-se harmonioso com a natureza. Tal idéia se reflete também no conceito dos taoístas a respeito da conduta humana. Eis uma expressão desse ideal em Tao Te Ching:
“Melhor é parar pouco antes do que encher até o limite.
Afie demais a lâmina, e o corte logo ficará cego.
Ajunte uma grande quantidade de ouro e de jade, e ninguém poderá protegê-la.
Pretenda riquezas e títulos, e o desastre se seguirá.
Recolha-se quando o trabalho está terminado.
Este é o caminho do céu.” — Capítulo 9.
Estes poucos exemplos mostram que, pelo menos de início, o taoísmo era basicamente uma escola de filosofia. Reagindo contra as injustiças, os sofrimentos, a devastação e a futilidade resultantes do cruel domínio do sistema feudal da época, os taoístas criam que o caminho para encontrar a paz e a harmonia era retornar à tradição dos antigos, antes de existirem reis e ministros que dominavam o povo. Seu ideal era levar a tranqüila vida rural, em união com a natureza. — Provérbios 28:15; 29:2.
O Segundo Sábio do Taoísmo
A filosofia de Lao-tzu foi levada um passo adiante por Chuang Chou, ou Chuang-tzu, que significa “Mestre Chuang” (369-286 AEC), que era tido como o mais eminente sucessor de Lao-tzu. Em seu livro, Chuang Tzu, ele não apenas acrescentou detalhes ao Tao como também explicou os conceitos de yin e yang, originalmente desenvolvidos em I Ching. (Veja página 83.) Em seu conceito, nada é realmente permanente ou absoluto, mas tudo se acha num estado de fluxo entre dois opostos.
No capítulo “Dilúvio de Outono”, ele escreveu:
“Nada no universo é permanente, pois tudo vive apenas o tempo suficiente para morrer. Apenas Tao, que não tem começo nem fim, dura para sempre. . . . A vida pode ser comparada a um cavalo veloz cavalgando a plena velocidade — ele muda constante e continuamente, a cada fração de segundo. O que você deve fazer? O que você não deve fazer? Realmente não importa.”
Devido a essa filosofia de inércia, o conceito taoísta diz ser inútil alguém fazer algo para interferir naquilo que a natureza pôs em movimento. Mais cedo ou mais tarde, tudo retornará ao seu oposto. Não importa quão insuportável seja uma situação, ela logo melhorará. Não importa quão agradável seja uma situação, ela logo desaparecerá. (Em contraste, veja Eclesiastes 5:18, 19.)
Este conceito filosófico da vida é exemplificado num dos sonhos de Chuang-tzu, pelo qual o povo mais se lembra dele:
“Certa vez Chuang Chou sonhou ser uma borboleta, uma borboleta que esvoaçava e adejava, feliz consigo mesma e vivendo a seu bel-prazer. Ela não sabia que era Chuang Chou. Subitamente acordou e ali estava ele, concreto e inconfundível Chuang Chou. Mas, ele não sabia se ele era Chuang Chou que sonhara ser uma borboleta ou se era uma borboleta sonhando ser Chuang Chou.”
Vê-se a influência dessa filosofia no estilo de poesia e de pintura desenvolvido por artistas chineses de gerações posteriores. (Veja página 171.) No entanto, o taoísmo não permaneceria por muito tempo como filosofia passiva.
De Filosofia a Religião
Na sua tentativa de estar em comunhão com a natureza, os taoístas tornaram-se obsedados com a perenidade e a resiliência da natureza. Especulavam que, se a pessoa vivesse em harmonia com o Tao, ou o caminho da natureza, ela talvez pudesse de algum modo penetrar nos segredos da natureza e tornar-se imune ao dano físico, a doenças e até mesmo à morte.
Embora Lao-tzu não insistisse nisso, certos trechos em Tao Te Ching parecem sugerir tal idéia. Por exemplo, o capítulo 16 diz: “Estar em comunhão com o Tao é eterno. E, embora o corpo morra, o Tao jamais perecerá.”
Chuang-tzu também contribuiu para tais especulações. Por exemplo, num diálogo em Chuang Tzu, um personagem mitológico perguntou a outro: “És de idade avançada, no entanto, tens a pele de criança. Como pode?” Este último respondeu: “Eu aprendi o Tao.” Sobre outro filósofo taoísta, Chuang-tzu escreveu: “Ora, Liehtse podia cavalgar no vento. Deslizava feliz na fresca brisa, continuaria por quinze dias antes de retornar. Entre os mortais que conseguem a felicidade, tal homem é uma raridade.”
Histórias assim acenderam a imaginação dos taoístas, e eles passaram a fazer experiências com meditação, dietas e exercícios respiratórios que supostamente podiam retardar a degeneração e a morte física. Logo começaram a circular lendas a respeito de seres imortais que podiam voar sobre as nuvens e aparecer e desaparecer a seu bel-prazer, vivendo em montanhas sagradas ou em ilhas remotas por incontáveis anos, sustentados pelo orvalho ou por frutas mágicas.
A história chinesa conta que em 219 AEC, o imperador Ch’in, Shih Huang-Ti enviou uma frota de navios com 3.000 meninos e meninas para encontrar a lendária ilha de P’eng-lai, a morada dos imortais, para trazer de volta a erva da imortalidade. Desnecessário é dizer, eles não retornaram com o elixir, mas, diz a tradição, povoaram as ilhas que vieram a ser conhecidas como Japão.
Durante a dinastia Hã (206 AEC-220 EC), as práticas mágicas do taoísmo atingiram um novo apogeu. Consta que o imperador Wu Ti, embora promovesse o confucionismo como ensino oficial do Estado, sentia-se muito atraído ao conceito taoísta da imortalidade física. Entusiasmou-se especialmente com as engendradas ‘pílulas da imortalidade’ da alquimia. No conceito taoísta, a vida surge quando as forças opostas yin e yang (feminina e masculina) se unem. Assim, fundindo chumbo (escuro, ou yin) com mercúrio (claro, ou yang), os alquimistas estariam imitando os processos da natureza, e o produto, pensavam eles, seria uma pílula da imortalidade.
Os taoístas também desenvolveram exercícios tipo ioga, técnicas de controle da respiração, restrições dietéticas e práticas sexuais que alegadamente fortaleciam a energia vital da pessoa e prolongavam a vida. Sua parafernália incluía talismãs mágicos que, segundo se dizia, tornavam a pessoa invisível e invulnerável a armas, ou a capacitavam a andar sobre água ou a voar no espaço. Tinham também selos mágicos, usualmente contendo o símbolo yin-yang, que eram afixados em prédios e sobre o vão de portas para repelir maus espíritos e feras.
Por volta do segundo século EC, o taoísmo tornara-se organizado. Um certo Chang Ling, ou Chang Tao-ling, fundou uma sociedade taoísta secreta na China ocidental e praticava curas mágicas e alquimia. Visto que de cada membro se cobrava uma taxa de cinco celamins de arroz, seu movimento ficou conhecido como Taoísmo dos Cinco-Celamins-de-Arroz (wu-tou-mi tao). Afirmando ter recebido uma revelação pessoal de Lao-tzu, Chang tornou-se o primeiro “mestre celestial”.
Por fim, afirmou-se que ele conseguiu fazer o elixir da vida e que ascendeu vivo ao céu, montado num tigre, a partir do monte Lung-hu (Monte do Tigre-Dragão), na província de Kiangsi. Com a presença de Chang Tao-ling ali teve início uma sucessão, de séculos de duração, de “mestres celestiais” taoístas, cada qual sendo alegadamente uma reencarnação de Chang.
Enfrentando o Desafio do Budismo
Por volta do sétimo século, durante a dinastia T’ang (618-907 EC), o budismo fazia incursões na vida religiosa chinesa. Em contramedida, o taoísmo promovia a si mesmo como religião com raízes chinesas. Lao-tzu foi deificado, e os escritos taoístas foram canonizados. Construíram-se templos, mosteiros e conventos, e fundaram-se ordens de monges e monjas, mais ou menos no estilo budista.
Além disso, o taoísmo adotou também em seu próprio panteão muitos dos deuses, deusas, fadas e imortais do folclore chinês, tais como os Oito Imortais (Pa Hsien), o deus do lar (Tsao Shen), deuses da cidade (Ch’eng Huang), e guardiães da porta (Men Shen).
O resultado foi uma fusão de elementos do budismo, superstições tradicionais, espiritismo e adoração de ancestrais. — 1 Coríntios 8:5.
Com o tempo, o taoísmo lentamente se degenerou num sistema de idolatria e superstição. Cada pessoa simplesmente adorava seus deuses e deusas preferidos nos templos locais, pedindo-lhes proteção contra o mal e ajuda para ganhar fortuna terrena. Os sacerdotes eram contratados para realizar funerais, selecionar locais propícios para sepulturas, casas e negócios, comunicar-se com os mortos, afastar maus espíritos e fantasmas, celebrar festividades e realizar vários outros rituais. Assim, o que começara como escola de filosofia mística se transformou numa religião profundamente atolada na crença em espíritos imortais, inferno de fogo e semideuses — conceitos tirados do estagnado reservatório de crenças falsas da antiga Babilônia.
Outro Eminente Sábio da China
Ao passo que traçamos a ascensão, o desenvolvimento e a decadência do taoísmo, devemos lembrar-nos de que se tratava de apenas uma das “cem escolas” que floresceram na China durante o período dos Estados Combatentes. Outra escola que por fim alcançou destaque, de fato, predomínio, foi o confucionismo. Mas, por que o confucionismo alcançou tal destaque? De todos os sábios chineses, Confúcio é, sem dúvida, o mais conhecido fora da China, mas, quem realmente era ele? E o que ensinava?
A respeito de Confúcio, recorreremos novamente aos Shih Chi (Registros Históricos) de Ssu-ma Ch’ien. Em contraste com o breve sumário sobre Lao-tzu, encontramos uma extensa biografia de Confúcio. Apresentamos a seguir alguns detalhes pessoais citados de uma tradução (para o inglês) do erudito chinês Lin Yutang:
“Confúcio nasceu na cidade de Tsou, no condado de Ch’angping, no ducado de Lu. . . . [Sua mãe] orou na colina Nich’iu e gerou Confúcio em resposta à sua oração, no vigésimo segundo ano do duque Hsiang, de Lu (551 AC).
Houve uma percebível convolução na sua cabeça por ocasião de seu nascimento, e foi por isso que ele foi chamado de ‘Ch’iu’ (que significa “colina”). Seu nome literário era Chungni, e seu sobrenome era K’ung.”
Pouco depois de seu nascimento, seu pai faleceu, mas, sua mãe, embora pobre, conseguiu dar-lhe uma educação adequada. O menino desenvolveu profundo interesse em história, poesia e música. Segundo Os Analectos, um dos Quatro Livros do confucionismo, ele devotou-se a estudos eruditos ao atingir 15 anos de idade. Aos 17, deram-lhe um pequeno cargo governamental em seu estado nativo, Lu.
Sua situação financeira evidentemente melhorou, de modo que ele se casou aos 19 anos, e teve um filho no ano seguinte. Mas, quando beirava os 25, sua mãe morreu. Isto evidentemente o afetou profundamente. Sendo meticuloso cumpridor de tradições antigas, Confúcio retirou-se da vida pública e pranteou sua mãe junto à sepultura por dois anos e três meses, dando assim aos chineses um clássico exemplo de devoção filial.
O Mestre Confúcio
Depois disso, Confúcio deixou a família e assumiu a ocupação de mestre itinerante. Ele ensinava música, poesia, literatura, educação cívica, ética, ciência, ou o que quer que disso existisse naquele tempo. Deve ter-se tornado bastante famoso, pois, segundo se diz, chegou a ter numa ocasião nada menos de 3.000 alunos.
No Oriente, Confúcio é reverenciado principalmente como mestre por excelência. De fato, a inscrição em sua sepultura em Ch’ü-fou, na província de Xantung, chama-o simplesmente de “Antigo Santíssimo Mestre”. Certo escritor ocidental descreve assim o seu método de ensino: “Ele caminhava de ‘lugar em lugar acompanhado dos que absorviam seus conceitos de vida’. Sempre que a jornada fosse mais distante ele ia de carro de boi. O passo lento do animal permitia que seus pupilos o acompanhassem a pé, e é evidente que o assunto de suas palestras não raro se inspirava em eventos que ocorriam a caminho.” É interessante que Jesus, numa época posterior, e independentemente, usou um método similar.
O que fez de Confúcio um prestigiado mestre entre os orientais, foi, sem dúvida, o fato de que ele mesmo era bom estudante, especialmente de História e Ética. “As pessoas sentiam-se atraídas a Confúcio, não tanto por ser ele o homem mais sábio de sua época, mas porque era o mais culto erudito, o único de seus dias que podia ensiná-los a respeito dos livros antigos e da antiga erudição”, escreveu Lin Yutang.
Indicando esse amor ao aprendizado como talvez a razão fundamental do triunfo do confucionismo sobre outras escolas de pensamento, Lin resumiu o assunto do seguinte modo: “Os mestres confucionistas tinham algo definido a ensinar e os discípulos confucionistas tinham algo definido a aprender, a saber, aprendizado histórico, ao passo que as outras escolas eram obrigadas a propalar as suas próprias opiniões.”
“É o Céu Que Me Conhece!”
Apesar de seu êxito como mestre, Confúcio não considerou o ensino como carreira vitalícia. Ele achava que seus conceitos sobre ética e moral poderiam salvar o mundo atribulado de seus dias, se tão-somente os governantes os aplicassem por contratar a ele ou a seus discípulos em seus governos. Para isso, ele e um pequeno grupo de discípulos mais íntimos deixaram seu estado natal, Lu, e passaram a viajar de estado em estado tentando encontrar o sábio governante que adotasse seus conceitos sobre governo e ordem social.
Em que resultou? Shih Chi diz: “Por fim ele deixou Lu, foi abandonado em Ch’i, expulso de Sung e Wei, sofreu penúria entre Ch’en e Ts’ai.” Depois de 14 anos de jornada, ele voltou a Lu, desapontado, mas não combalido.
No restante de seus dias, ele devotou-se à obra literária e ao ensino. (Veja quadro, página 177.) Embora sem dúvida lamentasse a sua obscuridade, ele disse: “Não murmuro contra o Céu. Não resmungo contra o homem. Dedico-me aos meus estudos aqui na terra, e estou em contato com o Céu acima. É o Céu que me conhece!” Por fim, no ano de 479 AEC, morreu aos 73 anos de idade.
A Essência dos Conceitos Confucionistas
Embora Confúcio se destacasse como erudito e mestre, sua influência de modo algum se limitava aos círculos acadêmicos. De fato, a meta de Confúcio não era apenas ensinar regras de conduta ou de moral, mas também restaurar a paz e a ordem na sociedade, que, na época, estava dilacerada pelas constantes guerras entre os senhores feudais. Para atingir tal alvo, Confúcio ensinava que todos, do imperador ao homem comum, tinham de aprender qual o papel que se esperava que cada um desempenhasse na sociedade e viver concordemente.
No confucionismo, esse conceito é conhecido como li, que significa decoro, cortesia, a ordem das coisas, e, por extensão, ritual, cerimônia e reverência.
Respondendo à pergunta: “O que é esse grande li?”, Confúcio explicou o seguinte:
“De todas as coisas pelas quais as pessoas vivem, li é a maior. Sem li, não sabemos como conduzir uma adequada adoração dos espíritos do universo; ou como estabelecer a correta condição do rei e dos ministros, do governante e dos governados, e dos anciãos e dos mais novos; ou como estabelecer o relacionamento moral entre os sexos, entre pais e filhos e entre irmãos; ou como distinguir os diferentes graus de relacionamento na família. É por isso que um cavalheiro tem li em tão alta estima.”
Ora, li é a regra de conduta pela qual um verdadeiro cavalheiro (chün-tzu, às vezes traduzido por “homem superior”) pauta todas as suas relações sociais. Quando todos se esforçam em fazer isso, “tudo se endireita na família, no estado e no mundo”, disse Confúcio, e é neste caso que se pratica o Tao, ou o caminho do céu. Mas, como é que se expressa o li? Isto nos leva a outro dos conceitos centrais do confucionismo — jen (pronuncia-se ren), humanitarismo ou amor pelos outros.
Ao passo que li enfatiza a restrição através de regras exteriores, jen lida com a natureza humana, ou a pessoa interior. O conceito confuciano, especialmente conforme expresso pelo principal discípulo de Confúcio, Mêncio, é que a natureza humana é basicamente boa. Assim, a solução para todos os males sociais jaz no auto-aperfeiçoamento, e isso começa com educação e conhecimento.
O capítulo inicial de The Great Learning (O Grande Aprendizado), diz:
“Quando se alcança o conhecimento verdadeiro, a vontade se torna sincera; quando a vontade é sincera, o coração é retificado . . . ; quando o coração é retificado, aperfeiçoa-se a vida pessoal; quando se aperfeiçoa a vida pessoal, a vida familiar é ajustada; quando a vida familiar é ajustada, a vida nacional é ordeira; e quando a vida nacional é ordeira, há paz neste mundo. Do imperador aos cidadãos comuns, todos têm de considerar o aprimoramento da vida pessoal como raiz ou fundação.”
Vemos assim que, segundo Confúcio, a observância de li habilita as pessoas a se comportarem corretamente em todas as situações, e o desenvolvimento de jen faz com que tratem bondosamente todas as pessoas. O resultado, teoricamente, é paz e harmonia na sociedade.
O ideal confuciano, baseado nos princípios de li e jen, pode ser resumido da seguinte maneira:
“Bondade no pai, devoção filial no filho
Fidalguia no irmão mais velho, humildade e respeito no mais novo
Comportamento justo no marido, obediência na esposa
Consideração humana nos anciãos, deferência nos mais novos
Benevolência nos governantes, lealdade nos ministros e nos súditos.”
Tudo isso ajuda a explicar por que a maioria do povo chinês, e mesmo outros orientais, dão tanta ênfase a laços familiares, a ser diligente, à educação e a conhecer e agir segundo a posição da pessoa. Para o bem ou para o mal, tais conceitos confucianos têm sido cravados profundamente na consciência chinesa através de séculos de inculca.
Confucionismo Vira Culto Estatal
Com a ascensão do confucionismo, o período das “cem escolas” chegou a um fim. Os imperadores da dinastia Han encontraram nos ensinamentos confucianos de lealdade ao governante justamente a fórmula de que necessitavam para solidificar o poder do trono. Sob o imperador Wu Ti, a quem já nos referimos em conexão com o taoísmo, o confucionismo foi elevado à condição de culto estatal. Apenas os versados nos clássicos confucianos eram selecionados para funcionários governamentais, e quem quer que almejasse entrar para o serviço governamental tinha de passar por exames a nível nacional baseados nos clássicos confucianos. Ritos e rituais confucianos tornaram-se a religião do palácio real.
Essa mudança de situação contribuiu muito para elevar a posição de Confúcio na sociedade chinesa. Os imperadores Han iniciaram a tradição de oferecer sacrifícios no túmulo de Confúcio. Conferiram-se-lhe títulos honoríficos. Daí, em 630 EC, o imperador T’ai Tsung, da dinastia T’ang, ordenou que em toda província e condado do império se erigisse um templo estatal a Confúcio, e que se oferecessem sacrifícios regularmente. Para todos os efeitos, Confúcio foi elevado à condição de deus, e o confucionismo tornou-se uma religião dificilmente distinguível do taoísmo ou do budismo. — Veja quadro, página 175.
O Legado da Sabedoria do Oriente
Desde o fim do governo de dinastias na China, em 1911, o confucionismo e o taoísmo têm sido muito criticados, até mesmo perseguidos. O taoísmo foi desacreditado por causa de suas práticas mágicas e supersticiosas. E o confucionismo tem sido rotulado de feudalista, que promove uma mentalidade escrava, para manter as pessoas, em especial as mulheres, em sujeição. Não obstante, apesar dessas denúncias oficiais, os conceitos básicos dessas religiões estão tão profundamente arraigados na mentalidade chinesa que ainda exercem uma forte influência sobre muitas pessoas.
Por exemplo, sob o cabeçalho “Ritos Religiosos Chineses São Raros em Beijing [Pequim] mas Florescem nas Regiões Costeiras”, o jornal canadense Globe and Mail disse, em 1987, que, depois de uns 40 anos de governo ateísta na China, os ritos fúnebres, ofícios em templos e muitas práticas supersticiosas ainda são comuns nas áreas rurais. “A maioria das aldeias tem um fengshui, em geral um residente de mais idade que sabe ler as forças do vento (feng) e da água (shui) para determinar a mais propícia localização para tudo, desde a sepultura ancestral à nova casa ou aos móveis da sala de estar”, diz o artigo.
Em outras partes, o taoísmo e o confucionismo estão presentes onde quer que a cultura tradicional chinesa sobreviva. Em Formosa, certo homem que afirma ser descendente de Chang Tao-ling preside como “mestre celestial” com poder de ordenar sacerdotes taoístas (Tao Shih). A popular deusa Matsu, tida como “Santa Mãe no Céu”, é adorada como santa padroeira da ilha e dos navegantes e pescadores. Quanto ao povo, ele se preocupa mais em apresentar oferendas e sacrifícios aos espíritos dos rios, das montanhas e das estrelas, às deidades padroeiras de todos os ofícios e aos deuses da saúde, da boa sorte e da riqueza.
Que dizer do confucionismo? Seu papel como religião tem sido reduzido à condição de monumento nacional. Em Ch’ü-fou, na China, a terra natal de Confúcio, o Estado mantém o Templo de Confúcio e locais históricos da família como atrações turísticas. Ali, segundo a revista China Reconstructs, fazem-se apresentações para “encenar um ritual de adoração de Confúcio”. E em Cingapura, Formosa, Hong Kong e outros lugares da Ásia oriental, as pessoas ainda comemoram o natalício de Confúcio.
O confucionismo e o taoísmo são exemplos de que um sistema baseado na sabedoria e no raciocínio humano, independente de quão lógico e bem-intencionado seja, por fim falha na busca do Deus verdadeiro. Por quê? Porque deixa fora um elemento essencial, a saber, a vontade e os requisitos de um Deus pessoal. O confucionismo recorre à natureza humana como a força motivadora para realizar o bem, e o taoísmo recorre à própria natureza. Mas, trata-se de uma confiança mal direcionada, pois equivale simplesmente a adorar coisas criadas em vez de ao Criador. — Salmo 62:9; 146:3, 4; Jeremias 17:5.
Por outro lado, as tradições de adorar ancestrais e ídolos, a reverência por um céu cósmico e a veneração de espíritos na natureza, bem como os ritos e rituais relacionados com eles, ficaram tão profundamente arraigados na maneira de pensar chinesa que são aceitos como sendo a incontestável verdade. Não raro é muito difícil falar com um chinês sobre um Deus ou Criador pessoal, por ser este um conceito tão alheio para ele. — Romanos 1:20-25.
É inegável que a natureza está repleta de grandes maravilhas e sabedoria, e que os seres humanos são dotados das maravilhosas faculdades da razão e da consciência. Mas, conforme destacado no capítulo sobre o budismo, as maravilhas que vemos no mundo natural têm levado mentes refletidas a concluir que deve existir um Projetista ou Criador. (Veja páginas 151-2.)
Sendo assim, então, não é lógico que o nosso empenho deve ser buscar o Criador? De fato, o Criador nos convida a fazer isso: “Levantai ao alto os vossos olhos e vede. Quem criou estas coisas? Foi Aquele que faz sair o exército delas até mesmo por número, chamando a todas elas por nome.” (Isaías 40:26)
Fazendo isso, chegaremos a conhecer não só quem é o Criador, isto é, Jeová Deus, mas também o que ele tem em reserva para o nosso futuro.
Além do budismo, do confucionismo e do taoísmo, que têm desempenhado um importante papel na vida religiosa das pessoas do Oriente, existe ainda outra religião, exclusiva do povo do Japão — o xintoísmo
Confucionismo — Filosofia ou Religião?
Visto que Confúcio pouco falou em Deus, muitos encaram o confucionismo apenas como filosofia e não como religião. Todavia, o que ele disse e fez mostrou que ele era religioso. Pode-se ver isso em dois aspectos. Primeiro, ele tinha temor reverente de um supremo poder espiritual cósmico, que os chineses chamam de T’ien, ou Céu, que ele considerava como a fonte de toda a virtude e bondade moral, e cuja vontade, achava ele, dirige todas as coisas. Segundo, ele dava grande ênfase à meticulosa observância de ritos e cerimônias relacionadas com a adoração do céu e dos espíritos dos ancestrais falecidos.
Embora Confúcio jamais sustentasse tais conceitos como forma de religião, para gerações de chineses eles se tornaram o que religião realmente significa.
XINTOÍSMO
Xintoísmo — o Japão em busca de Deus
O XINTOÍSMO é predominantemente uma religião japonesa. Segundo a Nihon Shukyo Jiten (Enciclopédia de Religiões Japonesas), “a formação xintoísta é quase idêntica à cultura étnica japonesa, e é uma cultura religiosa que jamais foi praticada à parte dessa sociedade étnica”. Mas, as influências dos negócios e da cultura japonesa estão agora tão difundidas que deve interessar-nos saber que fatores religiosos moldaram a história do Japão e a personalidade japonesa.
Embora o xintoísmo afirme ter mais de 91.000.000 de membros no Japão, equivalente a cerca de três quartos da população, uma pesquisa revela que apenas 2.000.000 de pessoas, ou 3 por cento da população adulta, realmente professam crer no xintoísmo. Contudo, Sugata Masaaki, pesquisador do xintoísmo, diz: “O xintoísmo está tão inextricavelmente entrançado na contextura do cotidiano japonês que as pessoas mal se dão conta de sua existência.
Para os japoneses, é menos uma religião do que um discreto componente ambiental, como o ar que eles respiram.” Mesmo os que afirmam ser apáticos à religião compram amuletos xintoístas visando segurança no tráfego, casam-se segundo a tradição xintoísta e gastam muito dinheiro em festividades xintoístas anuais.
Como Começou?
O nome “xintoísmo” surgiu no sexto século EC para distinguir a religião local do budismo, que estava sendo introduzido no Japão. “Naturalmente, a ‘Religião dos Japoneses’ . . . existia antes da introdução do budismo”, explica Sachiya Hiro, pesquisador de religiões japonesas, “mas era uma religião subconsciente que consistia em costumes e ‘tradições’. Com a introdução do budismo, contudo, as pessoas aperceberam-se de que essas tradições constituíam uma religião japonesa diferente do budismo, que era uma religião estrangeira”. Como foi que se desenvolveu essa religião japonesa?
É difícil assinalar com precisão uma data em que o xintoísmo original, ou a “Religião dos Japoneses”, surgiu. Com o advento do cultivo do arroz em terra irrigada, “a agricultura de terra irrigada necessitava de comunidades bem organizadas e estáveis”, explica a Enciclopédia Kodansha do Japão, “e os rituais agrícolas — que mais tarde desempenharam um papel tão importante no xintoísmo — se desenvolveram”. Essas primitivas pessoas conceberam e reverenciavam muitos deuses da natureza.
Além dessa reverência, o medo de almas que partiram levou a rituais para apaziguá-las. Isto mais tarde se transformou em adoração de espíritos de ancestrais. Segundo a crença xintoísta, a alma “que partiu” ainda conserva a sua personalidade e fica manchada pela poluição da morte imediatamente após a morte. Quando a pessoa enlutada realiza ritos em memória do falecido, a alma é purificada a ponto de remover toda a malícia, assumindo uma índole pacífica e benevolente. Com o tempo, o espírito ancestral alcança a posição de ancestral, ou guardião, deidade. Notamos assim que a crença na imortalidade da alma é fundamental para ainda outra religião e condiciona as atitudes e as ações dos devotos. — Salmo 146:4; Eclesiastes 9:5, 6, 10.
Deuses da natureza e deuses ancestrais eram considerados como espíritos que “flutuavam” e enchiam o ar. Nas festividades, as pessoas invocavam os deuses para que descessem a determinados pontos santificados para a ocasião. Dizia-se que os deuses residiam temporariamente em xintais, objetos de adoração tais como árvores, rochas, espelhos e espadas. Xamãs, ou médiuns espíritas, presidiam rituais para convocar os deuses.
Gradativamente, os “pontos de pouso” dos deuses, que eram temporariamente purificados para as festividades, assumiram uma forma mais permanente. As pessoas construíam santuários para deuses benevolentes, os que pareciam abençoá-las. De início não esculpiam imagens dos deuses, mas adoravam os xintais, onde os espíritos dos deuses alegadamente residiam. Até mesmo um inteiro monte, como o Fuji, podia servir como xintai. Com o tempo, surgiram tantos deuses que os japoneses criaram a expressão yaoyorozu-no-kami, que literalmente significa “oito milhões de deuses” (“kami” significa “deus[es]” ou “deidade[s]”). Hoje se usa essa expressão para significar “incontáveis deuses”, pois o número de deidades na religião xintoísta aumenta sempre.
À medida que os rituais xintoístas passaram a concentrar-se em santuários, cada clã cultuava a sua própria deidade guardiã. Contudo, quando a família imperial unificou a nação, no sétimo século EC, a sua deusa-sol, Amaterasu Omikami, foi elevada à condição de deidade nacional e figura central dos deuses xintoístas.
Com o tempo, propôs-se o mito de que o imperador era descendente direto da deusa-sol. Para firmar essa crença, foram compilados dois principais escritos xintoístas, Kojiki e Nihon shoki, no oitavo século EC. Usando mitos que exaltavam os da família imperial como descendentes de deuses, esses livros ajudaram a estabelecer a supremacia dos imperadores.
Religião de Festividades e Rituais
Esses dois livros de mitologia xintoísta, contudo, não eram considerados escrituras inspiradas. Curiosamente, o xintoísmo não tem fundador conhecido, nem uma Bíblia. O “xintoísmo é uma religião de uma série de ‘não tem’”, explica Shouichi Saeki, estudioso do xintoísmo. “Não tem doutrinas definidas e não tem teologia detalhada. Praticamente não tem preceitos a serem observados. . . . Embora tenha sido criado numa família que tradicionalmente segue o xintoísmo, não me lembro de ter recebido uma significativa educação religiosa.”
Para os xintoístas, as doutrinas, os preceitos e, às vezes, até mesmo o que eles adoram não são importantes. “Até mesmo no mesmo santuário”, diz certo pesquisador xintoísta, “o deus cultuado não raro era trocado por outro e, às vezes, pessoas que adoravam esses deuses e ofereciam orações a eles não percebiam a troca”.
O que, então, é de importância vital para os xintoístas? “Originalmente”, diz certo livro sobre a cultura japonesa, o “xintoísmo considerava os atos que promoviam a harmonia e a subsistência duma pequena comunidade como ‘bons’, e os que impediam isso como ‘ruins’”. A harmonia com os deuses, com a natureza e com a comunidade era considerada de valor superlativo. Tudo que rompesse a pacífica harmonia da comunidade era ruim, independente de seu valor moral.
Visto que o xintoísmo não tem doutrinas ou ensinos formais, a sua maneira de promover a harmonia da comunidade é através de rituais e festividades. “O mais importante no xintoísmo”, explica a enciclopédia Nihon Shukyo Jiten, “é se celebramos ou não as festividades”. (Veja quadro, página 193.) Festejar juntos em festividades em torno de deuses ancestrais contribuía para um espírito de cooperação entre as pessoas na comunidade cultivadora de arroz.
As principais festividades eram, e ainda são, relacionadas com o cultivo do arroz. Na primavera, os aldeões pedem ao “deus dos arrozais” que desça a seu vilarejo e oram por uma boa safra. No outono, agradecem a seus deuses pela colheita. Durante as festividades, eles carregam seus deuses num mikoshi, ou santuário portátil, e têm comunhão de vinho de arroz (saquê) e alimento com os deuses.
Para estar em união com os deuses, contudo, os xintoístas crêem que devem ser limpos e purificados de toda sua impureza moral e de seus pecados. É aqui que entram os rituais. Há duas maneiras de purificar uma pessoa ou um objeto. Uma é oharai e a outra misogi. Na oharai, o sacerdote xintoísta agita um ramo da sempre-verde sakaki com papel ou linho amarrado na ponta, para purificar um item ou uma pessoa, ao passo que na misogi usa-se água. Estes rituais de purificação são tão vitais para a religião xintoísta que certo versado japonês diz: “Pode-se seguramente dizer que sem esses rituais o xintoísmo não pode subsistir [como religião].”
A Adaptabilidade do Xintoísmo
As festividades e os rituais subsistiram com o xintoísmo, apesar da transformação que a religião xintoísta sofreu ao longo dos anos. Que transformação? Certo pesquisador xintoísta assemelha as mudanças no xintoísmo às mudanças de roupa duma boneca. Quando o budismo foi introduzido, o xintoísmo vestiu-se do ensino budista. Quando as pessoas necessitavam de padrões morais, ele vestiu o confucionismo. O xintoísmo tem sido extremamente adaptável.
O sincretismo, ou a fusão de elementos duma religião em outra, ocorreu cedo na história do xintoísmo. Embora o confucionismo e o taoísmo, conhecidos no Japão como o “Caminho de yin e yang”, já se haviam infiltrado na religião xintoísta, o budismo foi o principal ingrediente a se misturar com o xintoísmo.
Quando o budismo entrou através da China e da Coréia, os japoneses chamaram suas práticas religiosas tradicionais de xintoísmo, ou “caminho dos deuses”. Contudo, com o advento duma nova religião, o Japão ficou dividido quanto a aceitar ou não o budismo. O partido pró-budista insistia: ‘Todos os países vizinhos adoram assim. Por que deveria o Japão ser diferente?’ A facção anti-budista rebatia: ‘Se adorarmos os deuses vizinhos, provocaremos a ira de nossos próprios deuses.’ Após décadas de discórdia, os pró-budistas venceram. Por volta do fim do sexto século EC, quando o príncipe Shotoku aceitou o budismo, a nova religião já criara raízes.
À medida que o budismo se espalhava a comunidades rurais, encontrou as deidades xintoístas locais, cuja existência estava fortemente entrincheirada na vida diária das pessoas. A fim de coexistirem, as duas religiões tiveram de fazer concessões. Os monges budistas que praticavam a auto disciplina nas montanhas ajudaram a fundir as duas religiões. Como as montanhas eram consideradas moradia das divindades xintoístas, as práticas ascéticas dos monges nas montanhas fizeram surgir a idéia de misturar o budismo com o xintoísmo, o que também levou à construção de jinguji, ou “templos-santuários”. Gradativamente ocorreu uma fusão das duas religiões, à medida que o budismo tomou a iniciativa em formular teorias religiosas.
No ínterim, a crença de que o Japão era uma nação divina criava raízes. Quando os mongóis atacaram o Japão, no século 13, surgiu a crença em kamikaze, literalmente “vento divino”. Duas vezes os mongóis atacaram a ilha de Quiuxu com poderosíssimas esquadras, e ambas as vezes foram impedidos por tempestades. Os japoneses creditaram essas tempestades, ou ventos (kaze), a seus deuses (kami) xintoístas, e isso aumentou grandemente a reputação de seus deuses.
À medida que a confiança nas deidades xintoístas aumentava, elas eram encaradas como sendo os deuses originais, ao passo que os budas (“iluminados”) e os bodisatvas (futuros budas que ajudam outros a conseguir a iluminação; veja páginas 136-8, 145-6) eram encarados apenas como manifestações locais temporárias da divindade. Em resultado desse conflito xintoísmo versus budismo, desenvolveram-se várias escolas do xintoísmo. Algumas enfatizavam o budismo, outras enalteciam o panteão xintoísta, e ainda outras usavam uma posterior forma de confucionismo para adornar seus ensinamentos.
Adoração do Imperador e Xintoísmo Estatal
Após muitos anos de concessões, os teólogos xintoístas concluíram que a sua religião fora aviltada pelo pensamento religioso chinês. Portanto, insistiram num retorno ao antigo modo japonês. Surgiu assim uma nova escola do xintoísmo, conhecida como Xintoísmo da Restauração, tendo a Norinaga Motoori, erudito do século 18, como um dos seus mais notáveis teólogos. Em busca da origem da cultura japonesa, Motoori estudou os clássicos, em especial os escritos xintoístas chamados Kojiki. Ensinou a superioridade da deusa-sol Amaterasu Omikami, mas atribuiu vagamente aos deuses a razão dos fenômenos naturais. Além disso, segundo seu ensino, a providência divina é imprevisível, e é desrespeitoso da parte dos homens tentar entendê-la. Não faça perguntas e seja submisso à providência divina, era seu conceito. — Isaías 1:18.
Um de seus seguidores, Atsutane Hirata, levou avante os conceitos de Norinaga e tentou purificar o xintoísmo, livrá-lo de todas as influências “chinesas”. O que fez Hirata? Ele fundiu o xintoísmo com a apóstata teologia “cristã”! Ligou o Amenominakanushi-no-kami, um deus mencionado no Kojiki, ao Deus do “cristianismo” e descreveu esse deus que preside o universo como tendo dois deuses subordinados, “o Alto-Produtor (Takami-musubi) e o Divino-Produtor (Kami-musubi), que aparentemente representam os princípios masculino e feminino”. (Religions in Japan [Religiões no Japão]) Sim, ele adotou do catolicismo romano o ensino de um deus trino, embora este nunca se tornasse a linha mestra do ensinamento xintoísta. Ter Hirata misturado o chamado cristianismo com o xintoísmo, contudo, acabou enxertando na mentalidade xintoísta a forma do monoteísmo da cristandade. — Isaías 40:25, 26.
A teologia de Hirata tornou-se a base para o movimento ‘Reverencie o Imperador’, que levou à derrubada dos ditadores militares feudais, ou xoguns, e à restauração do governo imperial, em 1868. Com o estabelecimento do governo imperial, os discípulos de Hirata foram nomeados como comissários governamentais da adoração xintoísta, e estes promoveram um movimento para fazer do xintoísmo a religião estatal. Sob a então nova constituição, o imperador, encarado como descendente direto da deusa-sol Amaterasu Omikami, era considerado “sagrado e inviolável”. Tornou-se assim o deus supremo do xintoísmo estatal. — Salmo 146:3-5.
Os “Escritos Sagrados” do Xintoísmo
Ao passo que o xintoísmo tinha seus antigos registros, rituais e orações nos escritos Kojiki, Nihongi e Yengishiki, o xintoísmo estatal necessitava de um livro sagrado. Em 1882, o imperador Meiji baixou o Rescrito Imperial para Soldados e Marujos. Visto ter-se originado do imperador, foi encarado pelos japoneses como escrito sagrado, e tornou-se a base para meditação diária para os homens das forças armadas. Enfatizava que o dever da pessoa de pagar suas dívidas e obrigações para com o deus-imperador estava acima de quaisquer outros que ela tivesse para com quem quer que fosse.
Outra adição aos escritos sagrados do xintoísmo ocorreu quando o imperador baixou o Rescrito Imperial Sobre Educação, em 30 de outubro de 1890. Este “não só lançou os fundamentos para a educação escolar como também tornou-se virtualmente as escrituras sagradas do xintoísmo estatal”, explica Shigeyoshi Murakami, pesquisador do xintoísmo estatal. O rescrito tornou claro que a relação “histórica” entre os míticos ancestrais imperiais e seus súditos era a base da educação. De que modo os japoneses encararam esses editos?
“Quando eu era menina, o vice-diretor [da escola] segurava uma caixa de madeira ao nível dos olhos e reverentemente a levava à tribuna”, lembra-se Asano Koshino. “O diretor recebia a caixa e tirava o rolo no qual o Rescrito Imperial Sobre Educação estava escrito. Enquanto se lia o rescrito, nós tínhamos de ficar de cabeça curvada até ouvirmos as palavras finais: ‘O Nome de Sua Majestade e Seu selo.’ Ouvimos isso tantas vezes que decoramos o texto.” Até 1945, e por meio de um sistema educacional baseado na mitologia, a inteira nação foi condicionada a dedicar-se ao imperador. O xintoísmo estatal era encarado como a super-religião, ao passo que as outras 13 seitas xintoístas que ensinavam doutrinas diferentes eram relegadas à classificação de seitas do xintoísmo.
Missão Religiosa do Japão — A Conquista do Mundo
O xintoísmo estatal tinha também seu ídolo. “Todas as manhãs, eu batia palmas na direção do sol, o símbolo da deusa Amaterasu Omikami, e daí virava-me para o oriente na direção do Palácio Imperial e adorava o imperador”, lembra-se Masato, um japonês mais velho. O imperador era adorado como deus pelos seus súditos. Era encarado como supremo, política e religiosamente, por descender da deusa-sol. Certo professor universitário japonês declarou: “O Imperador é deus revelado nos homens. Ele é a Deidade manifesta.”
Em resultado, desenvolveu-se o ensinamento de que “o centro deste fenomenal mundo é a terra do Mikado [Imperador]. Deste centro temos de expandir este Grande Espírito em todo o mundo. . . . A expansão do Grande Japão em todo o mundo, e a elevação do inteiro mundo à terra dos Deuses, é o assunto urgente do presente e, ademais, é nosso objetivo eterno e imutável”. (A Filosofia Política do Moderno Xintoísmo, de D. C. Holtom, em inglês) Nada havia ali de separação entre Igreja e Estado!
Em seu livro Man’s Religions (As Religiões do Homem) John B. Noss comenta: “Os militares japoneses não tardaram em valer-se desse conceito. Incluíram na sua propaganda de guerra que a conquista era a sagrada missão do Japão. Por certo, de tais palavras podemos ver o resultado lógico de um nacionalismo infundido de todos os valores de religião.” Que tragédia foi semeada para os japoneses e para outros povos, com base principalmente no mito xintoísta da divindade do imperador e na mistura de religião com nacionalismo!
Os japoneses em geral não tinham outra alternativa senão adorar o imperador sob o xintoísmo estatal e seu sistema imperial. O ensino de Norinaga Motoori de ‘nada perguntar, mas submeter-se à providência divina’, permeava e controlava o pensamento japonês. Por volta de 1941, a inteira nação foi mobilizada no esforço de guerra da Segunda Guerra Mundial sob o estandarte do xintoísmo estatal e em dedicação ao “deus-homem vivo”. ‘O Japão é uma nação divina’, pensavam as pessoas, ‘e o kamikaze, o vento divino, soprará quando houver uma crise’. Soldados e suas famílias pediam a seus deuses guardiães pelo sucesso na guerra.
Quando a nação “divina” foi derrotada em 1945, sob o duplo golpe da explosão de aniquilação atômica de Hiroxima e grande parte de Nagasáqui, o xintoísmo enfrentou uma grave crise. Da noite para o dia, o supostamente invencível governante divino Hiroíto tornou-se simplesmente o derrotado imperador humano. A fé japonesa foi abalada. O kamikaze havia falhado à nação. Diz a enciclopédia Nihon Shukyo Jiten: “Uma das razões foi o desapontamento da nação por ser traída. . . . Pior ainda, o mundo xintoísta não forneceu uma explanação, oriunda da religião e apropriada, das dúvidas que resultaram da [derrota]. Assim, em matéria de religião, a imatura reação: ‘não existe deus nem buda’ passou a ser a tendência geral.”
O Caminho à Verdadeira Harmonia
O curso que o xintoísmo estatal trilhou sublinha a necessidade de cada pessoa investigar as crenças tradicionais que adota. Por apoiarem o militarismo, os xintoístas talvez tivessem procurado um caminho de harmonia com o próximo, os próprios japoneses. Isto, naturalmente, não contribuiu para a harmonia mundial, e com seus arrimos de família e jovens mortos em batalha, tampouco trouxe harmonia interna.
Antes de dedicarmos a nossa vida a alguém, temos de certificar-nos de a quem e a que causa nos oferecemos. “Eu vos suplico”, disse um instrutor cristão a romanos que outrora prestavam adoração ao imperador, “que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e aceitável a Deus, um serviço sagrado com a vossa faculdade de raciocínio”. Assim como os cristãos romanos deviam usar sua faculdade de raciocínio para escolher a quem deviam dedicar-se, é vital usar nossa faculdade de raciocínio para determinar a quem devemos adorar. — Romanos 12:1, 2.
Para os xintoístas em geral, o fator importante em sua religião não era a identificação específica de um único deus. “Para as pessoas comuns”, diz Hidenori Tsuji, professor de história religiosa japonesa, “deuses ou budas não faziam diferença alguma. Fossem eles deuses ou budas, se dessem ouvidos a súplicas por uma boa colheita, pela erradicação de doenças e pela segurança da família, isso bastava para tais pessoas”. Mas, será que isso as levou ao verdadeiro Deus e Suas bênçãos? A resposta da história é clara.
Na sua busca de um deus, os xintoístas, baseando suas crenças na mitologia, transformaram um mero homem, seu imperador, num deus, o chamado descendente da deusa-sol Amaterasu Omikami.
A Deusa-Sol no Mito Xintoísta
Diz o mito xintoísta que, em tempos bem remotos, o deus Izanagui “lavou seu olho esquerdo, e assim deu à luz a grande deusa Amaterasu, a deusa do Sol”. Mais tarde, Susano, o deus das planícies costeiras, amedrontou tanto a Amaterasu que ela “se escondeu numa caverna rochosa no Céu, bloqueando a entrada com uma grande pedra. O mundo mergulhou na escuridão”. Assim, os deuses conceberam um plano para fazer Amaterasu sair da caverna. Juntaram galos cantantes que anunciam o amanhecer e fizeram um grande espelho. Em arbustos sakaki penduraram jóias e tiras de pano. Daí a deusa Ama no Uzume passou a dançar e tamborilar numa tina com os pés. Dançando alucinadamente, tirou as roupas, provocando o riso dos deuses. Toda essa atividade despertou a curiosidade de Amaterasu, que espiou para fora e viu-se no espelho. O reflexo atraiu-a para fora da caverna, quando então o deus da Força agarrou-a pela mão e trouxe-a ao ar livre. “De novo o mundo foi iluminado pelos raios da deusa-Sol.” — New Larousse Encyclopedia of Mythology. — Compare com Gênesis 1:3-5, 14-19; Salmo 74:16, 17; 104:19-23.
Xintoísmo — Uma Religião de Festividades
O calendário japonês está repleto de festividades religiosas, ou matsuri. As seguintes são algumas das principais:
▪ Sho-gatsu, ou Festividade do Ano-Novo, 1-3 de janeiro.
▪ Setsubun, lançam-se grãos de soja dentro e fora das casas, bradando: “Saiam os demônios, entre a boa sorte”; 3 de fevereiro.
▪ Hina Matsuri, ou Festividade das Bonecas, para meninas, em 3 de março. Faz-se uma exposição de bonecas, retratando uma antiga família imperial.
▪ Festividade dos Meninos, em 5 de maio; Koi-nobori (representações de carpas simbolizando a força) presas a postes tremulam ao vento.
▪ Tsukimi, admira-se a lua cheia de meados do outono, enquanto se oferece bolinhos de arroz e primícias de colheitas.
▪ Kanname-sai, ou a oferta de primícias do arroz pelo imperador, em outubro.
▪ Niiname-sai é celebrada pela família imperial em novembro, quando o imperador, que preside como sumo sacerdote do xintoísmo imperial, prova as primícias do arroz.
▪ Shichi-go-san, que significa “sete-cinco-três”, celebrada por famílias xintoístas em 15 de novembro. Sete, cinco e três são encarados como importantes anos de transição; crianças trajando coloridos quimonos visitam o santuário da família.
▪ Celebram-se também muitas festividades budistas, incluindo o natalício de Buda, em 8 de abril, e a Festividade de Obon, em 15 de julho, que termina com lanternas postas a flutuar no mar ou em rios “para guiar os espíritos ancestrais de volta ao outro mundo”.